sexta-feira, 29 de novembro de 2019

CAstas SOciais


GENTE DE CLASSE

Quando revisitamos a história da evolução social, mais estritamente dos estratos sociais, fica a certeza que resta alguma herança de outros tempos. Aliás, corrijo-me, resta muita herança de tempos muito antigos. Vamos tomar como partida a idade média (476-1492), quando tínhamos o sistema social, político e econômico do feudalismo. Sucintamente havia quatro classe de pessoas; os nobres ligados ao sistema político (reis), os nobres proprietários dos feudos (suseranos), os religiosos e os rurícolas compostos por campesinos arrendatários e trabalhadores rurais.
Após a falência do sistema feudal (após a idade média), toda a Europa vê nascer a burguesia. É o surgimento da economia e atividade urbana, com a construção de cidades e a industrialização, burguesia que  que floresce principalmente após a revolução francesa. Dentro da burguesia, foi comum três classes de pessoas ( classes sociais): alta, média e pequena burguesia. Referida classificação vigora até os dias de hoje e é comum dividir as pessoas como pertencentes às classes (média) alta, média e baixa. Na alta os ricos, na média os pequenos empresários e profissionais liberais, na baixa os assalariados de baixa renda (operários), e numa categoria abaixa da média baixa , a pobreza composta de  os desempregados e desocupados sem nenhum rendimento.
E assim, percorrendo a história e chegando ao Brasil no estágio civilizatório e democrático de hoje, constatamos o quanto parecemos com as sociedades de outros tempos, na realidade e na prática. São as castas sociais. Tal sistema como resultado real e prático nos remete ao que era a sociedade hinduísta (Índia), onde as pessoas eram divididas por castas( quatro ao todo). Na mais alta os brâmanes e na mais baixa os párias ou excluídos do sistema de governo, seriam os hoje no Brasil, os moradores de rua, os indigentes, milhares e milhares pelo país a fora.
Na leitura do artigo 5º da constituição brasileira constatamos mais uma vez o que foi a intenção da assembleia constituinte; ou seja, o que diz  a letra fria e neutra da lei e o que existe na prática, o que vive o cidadão em seu cotidiano. A dicção do artigo é esta :  todos somos iguais perante a lei. A pergunta que fica é esta:  quais são os iguais? O que seria sermos iguais perante a lei? Sermos humanos, racionais, com uma inteligência diferenciada ? Como é mesmo essa prerrogativa de igualdade? Em que  somos iguais?
Quem são os todos de nosso país? Os próprios órgãos de Estado, os poderes constituídos, as leis, as políticas de saúde nos deixam a sensação de que as categorias de pessoas são uma criação oficial ficcional. Dois são os modelos nesse sentido aqui no Brasil. Na saúde por exemplo, são duas categorias de pessoas. Os de classe média e ricos custeiam a própria saúde com um bom seguro, são os planos de saúde. Muitas autoridades e mandatários políticos , por exemplo, dispõem de médicos no próprio trabalho. E quando a doença aperta, são levados de jatinhos-Uti pra os grandes hospitais de São Paulo – Incor, Albert Einstein, etc.  Já os pobres e desvalidos (párias) contam com o SUS, que vai muito mal, obrigado.
A justiça é outro exemplo da divisão das pessoas em classes ou castas. Começa por dois tipos de códigos. O código penal parece ter sido criado para pobres porque raros são os ricos que ficam presos. Já o código civil sugere ser dos ricos porque trata muito de dinheiro e patrimônio. Por fim , dois outros exemplos ainda dentro da justiça. O código do consumidor e os juizados de pequenas causas e  consumo lembra que classe de gente? Pobres e desvalidos. Enfim, feudos, suseranos, vassalos e párias, todos estão aí, vivinhos em suas classes sociais. Como funcionavam em tempos muito antigos. Novembro/2019. 

DrogoPatias


 PAIXÃO E PATOLOGIA



 Eu começo este artigo por uma palavra, paixão. Ela na raiz (origem) tem relação com o termo patologia, estudo das doenças; do grego páthos, sofrimento, sentimento mórbido e doença. Torna-se útil, neste contexto, referir ao manual estatístico de diagnostico, hoje na sua 5a  versão- DSM-V. Trata-se de um catálogo das doenças psiquiátricas. A associação de psiquiatria americana (APA) quando o institui, constava de 50 doenças mentais, hoje são mais de 300.
Trata-se de uma característica da evolução  científica e tecnológica. Temos hoje os avanças das ciências e da informática e da informação e “pari passu” a degradação e deterioração do comportamento, dos sentimentos e valores do animal humano. Para tanto não faltam mentores, não faltam escolas virtuais, compostas pela internet e redes sociais, não faltam as referências da contracultura representadas pelas redes de TV. O certo e de concreto é que constituímos animais de rebanho, somos seguidores dos grupos que nos cercam; e mais que isto, somos seguidores de nossos influenciadores. Vivemos a época de milhares de messias e pastores a nos pastorear. Basta ligar os canais de televisão, abrir as páginas da internet e lá estão os guias, modelos e influenciadores digitais de nossos adolescentes e jovens. São exemplos os animadores de massas e auditórios e os youtubers. Um cenário e um estilo de vida que tudo indica, não têm volta.
Paixão e patologia (páthos) são palavras siamesas que se aplicam a muitos comportamentos e preferências em nossa intitulada modernidade líquida. “Patia”como doenças e paixão como um estado mórbido, um comportamento ou sentimento fora das balizas do que é considerado padrão. Cardiopatia, de todos conhecida é uma doença do coração. Nesse paralelo, estamos vivendo a era das “patias”. Basta ler o DSM-V, das doenças psiquiátricas. 
Digitopatia. Trata-se da doença do apego aos objetos digitais. O representante máximo é o smartphone, ninguém mais solta a mão do celular. Não basta ser dono do, mas estar com ele em mãos o tempo todo. Na mesa do almoço, na rua, em um culto ou missa. Sem ele o indivíduo sofre de outros transtornos, a nomofobia e a fomofobia. Os medos de ficar offline ou  de não receber informações das redes sociais.
Consumopatia. A doença do consumo é causada pelos apelos das aliciadoras propagandas. Para isso não faltam os ditadores e guias da moda, do que o indivíduo deve comprar e consumir para pertencer à tribo.
A Esteticopatia- A doença da estética e das plásticas. Os aliciadores dessa doença estão disseminados pela indústria da cosmética, dos padrões de anatomia facial, glútea, palpebral, de mamas e abdome. Nada pode estar flácido ou reduzido. O belo e estético e tudo esticado e saliente.
Etilopatia e a drogopatia. Além da doença comportamental do alcoolismo, temos uma sociedade que para funcionar bem deve usar algum psicotrópico. Para esses objetivos entram em ação os antidepressivos, os sedativos, os soníferos, os calmantes, os medicamentos para déficits de atenção, os estimulantes sexuais, os inibidores de apetite, etc.
Futebolopatia. Trata-se de uma doença psiquiátrica muito prevalente na nossa era das grandes comunicações. Os portadores dessa paixão ou patia (páthos, doença) se caracterizam massivamente como indivíduos imbecis, parvos, néscios, grotescos e grosseiros. São, na maioria, capazes de espancamento de torcedores de outras equipes, mutilações e mortes, como mostram à farta, as redes de televisão. Outros tipos menos graves são capazes de abandonar emprego, deixar família ou vender bens essenciais para seguir os times “da paixão” em longas viagens; sem a noção de que ganhar ou perder faz parte do jogo. Ou seja, transtorno de personalidade em alto grau de pureza. Essas doenças já fazem parte do catálogo das doenças psiquiátricas. Novembro/2019.
  

Far-Nientes

PESSOAS FAR-NIENTES
João Joaquim 

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Vida Bandida

A VULGARIZAÇÃO DA VIDA PELAS REDES SOCIAIS  
João Joaquim 
Algumas preocupações com as quais a maioria das pessoas deveria se dedicar ou ocupar ou mesmo pré(ocupar) seriam algumas indagações sobre a vida. Muitas dessas interrogações poderiam ser sobre a própria vida. Seriam perguntas diretas e óbvias como esta : o que é a vida? O que tem sido a minha vida? O que eu tenho feito da minha vida? A humanidade, representada por mais de 90% das pessoas, leva a vida como um barco ou uma nau ao sabor de suas velas, que se dirige ou se deixa dirigir pelos ventos que a (nau) conduz. Trazendo tais questões para o nosso meio, onde  vivemos e podemos melhor testemunhar, fica a impressão de que a cada passo do progresso científico e tecnológico, mais e mais nos mergulhamos( a grande maioria das pessoas) nas banalidades que o mundo nos oferece. Assim deve ser dito porque nos cenários mercadológicos acha-se de tudo. E então existem  os mercadores de todas espécie de banalidade, de futilidades e contracultura.
A internet e suas ubíquas redes sociais como o facebook, twitter e whatsApp vem permitindo , de fato e de direito, a que todos se mostrem o que são, o que fazem, o que não são, o que não fazem, e o mais importante: o que fingem ser. Quantas pessoas são o que elas mostram nas redes sociais? Luxo, glamour, alto poder aquisitivo, joias, corpos turbinados e torneados de silicone e outras matérias tóxicas como o botox, etc. E o mais falso:  felicidade perene. Ninguém mostra tristeza, depressão, enxaqueca, cólicas, tédio, conflitos pessoais, infelicidade. A felicidade permanente se tornou uma marca dos nadadores da Internet, muitos são náufragos desse perigoso mundo, sem controle de qualidade, sem limites do que pode e não pode circular. 
Nos idos tempos pré-digitais existiam alguns princípios e valores dos quais a maioria das pessoas não abria mão. Entre muitos desses quesitos pessoais se falava de privacidade, de recato, de sobriedade, de respeito recíproco, de vergonha mesmo, como referido no popular. Acabaram-se, esses valores como bens  pessoais e tudo se banalizou.
Recato e privacidade são ou eram atributos e virtudes que agora  parecem extintos porque não fazem mais parte das cláusulas de convivência e respeito nas relações sociais. Toda essa tendência tem uma explicação: a sociedade, maciçamente, está vivendo sob a égide e os auspícios de um mercado de consumo sem os crivos da ética e da moralidade. Exibicionismo e libertinagem vêm se tornando os apelos da felicidade. “Mostre o que o você não é, exiba o que não tem “. Eis  o slogam de uma nova vida libertária e sem limites. É a modernidade líquida conforme teoria do filósofo polonês Zigmunt Bauman.
Muitas são as marcas ou muitos os sintomas dessa nova vida opcional das pessoas. Para tanto abra-se a página de cada um nas redes sociais e lá estão as cenas sociais do usuário (a). O começo se dá pelas vestes sumárias, ou nenhuma roupa. Não basta mostrar o rosto em esfuziantes risos e gargalhadas. O mais importante é mostrar o que o vestuário deveria cobrir. São pregas e peitos estufados de silicone, glúteos e rostos estufados de tudo quanto há de enxertos, peles esticadas a custo de botox. 
Botox para endireitar as linhas de expressão; tudo é mostrado numa irreprimível  descontração. O exemplo do  requinte do que se tornou a vida em sociedade é que tudo começa na vida intra útero. As mulheres se engravidam sem a mínima noção dos rigores e critérios da criação e educação dos filhos. As barrigas desnudas são despudoradamente exibidas virtual e publicamente, os partos são gravados e circulados livremente nas redes antissociais. As crianças ao nascer são mostradas e filmadas sem nenhum pudor, como se troféus fossem de seus pais.
E para não falar da banalidade de males maiores, como os da violência, conforme teorizou a filosofia Hannah Arendt (1906- 1975) algumas pitadas sobre a banalização das pessoas com os alimentos. O exibicionismo ou exóticos hábitos alimentares da sociedade chegaram ao grotesco e ao ridículo de primeiro as fotos e posts dos coloridos pratos, depois o gesto grotesco de se refestelar de comida. De uma primitiva  cultura ou costume simples, humilde e frugal e até de comunhão com o divino chegou-se ao banal e ao  frívolo. Quanta banalidade e imbecilidade assistimos em nossa pós modernidade.   Algumas nos dão nojo e engulhos. Nov/2019.

Assassínios (as) de Reputações

Quando se fala em assassinato, tem-se logo o conceito desse delituoso feito. Ato de matar, de eliminar o outro, também chamado de crime cont...