UM CARETA E DESADAPTADO DOS TEMPOS MODERNOS
João Joaquim
Eu confesso que sou um desadaptado para
certas realidades desse mundo moderno. Se bem que a ideia de modernidade é algo
relativo. Um conceito parecido com o tempo que para o nosso glorioso Albert
Einstein é uma ilusão. Modernidade e antiguidade ou tradição nos remetem à
noção de idade, de novo e velho; enfim ao conceito de tempo. Dentro dessa
definição de moderno e tradicional, vamos ao seguinte conceito: moderno é
aquilo que é melhor para mim, ou esta: é aquilo que mais me traz
realização e felicidade. Pronto. Aqui esbarramos num ponto relativo e
conflituoso do que seja novo e velho. Mas, deixemos de filosofar e sejamos mais
objetivo e prático .
Vamos pinçar um exemplo ainda de bom grado a algumas pessoas, inclusive a mim mesmo, qual seja, o
hábito da leitura. O que agrada a imensa maioria dos adolescentes e jovens de
nossa era digital quanto ao gesto de ler. ? Proceder à leitura nas plataformas
digitais, notebook, tablet, iPad. Todavia, para mim e alguns outros
aficionados ao livro a melhor opção ou meio de ler um bom texto ainda é o
formado físico impresso. Ler um livro em papel me traz uma enorme satisfação e
felicidade. Eu não trocaria o moderno do adolescente dos tempos virtuais, pelo
tradicional. O jovem de hoje prefere o livro eletrônico (e-book). Eu
ainda vou mais pelo mesmo conteúdo encadernado, ou em brochura, e, às vezes, até cheiroso com uma agradável
textura ao tato e manuseio.
Nessas premissas exordiais em falei do moderno e do
antigo e puxei o livro como exemplo. Iniciei com o particípio desadaptado e
continuo com minha desadaptação a certas coisas (coisa, palavra coringa) desses
tempos digitais e da informática. O meu word office já grifou meu texto me
alertando que desadaptação não existe. Não mudo o verbete porque não estou nem
aqui ou aí para rigor léxico ou ortográfico. Se no Aurélio ou Houaiss não existe
, no meu há e fica assim consignado, desadaptação, desadaptado. Ou seja não
ajustamento, não conformado.
Outro setor que me faz sentir meio careta ou desantenado
se refere às diversões ou entretenimento. Eu pego as opções de música, sejam na
forma gravada com um dj ou mais comumente ao vivo com uma banda ou um vocalista
a sós(solo).
A primeira desadaptação que tenho é com a vibração
sonora (altura). Muitas vezes somos convidados para uma confraternização, uma
tertúlia, um encontro de colegas ou familiares. Iniciada a parte que deveria
ser acessória, um fundo musical, não se pode mais falar. Ninguém ouve nada. São
sons tão altos que aliás extrapolam em muito os limites recomendados como
fisiológicos aos ouvidos humanos. São 150, 200 decibeis. A muitas pessoas tal
exagero sonoro causa desconforto e dor nos tímpanos e terminações nervosas no
ouvido interno.
Outra questão também a que não me adapto se refere
ao estilo das músicas, suas letras e melodias. Em tempo, é de bom alvitre que
se lembre a origem da palavra música. O termo vem de musa. Eram nove as musas,
deusas das artes. Fico eu aqui a pensar com meus botões , o que deve sentir a
musa Euterpe ligada às melodias, à criação artística musical (sic) nos tempos
modernos. Certamente com algumas canções e estilos que temos hoje ela deve
portar algum EPA , equipamento proteção auditiva, porque são letras e estilos
de deixar até as deusas surdas.
Muita vez temos como convidados de uma festa
pessoas na sua maioria acima de 40, 50 ,60 anos. Nesse cenário e para esses
convivas são apresentados músicas tipo pagode, rock moderno ou funk; ou seja,
em absoluto descompasso com o público presente.
Este exemplo da desarmonia e da disfonia( dismusia)
entre a platéia e as músicas apresentadas ocorreu comigo. Fui convidado para
uma festa de encontro com meus pares( médicos). Seria um bate-papo
despretensioso para falar de amenidades, umas trocas de figurinhas entre
amigos. Tudo ia muito bem, festivo e com diálogos até saudosistas.
Iniciada a cantoria, o que se tinham era sons estridentes e músicas com
letras nada poéticas, não se ouvia nada. Como ninguém dos convivas se
comunicava por libras, muitos foram embora, inclusive o desadaptado que aqui
vós fala. Nesse tipo de festa jamais. Never more - junho/15
João Joaquim - médico - articulista DM - joaomedicina.ufg@gmail.com - www.jjoaquim.blogspot.com