quinta-feira, 22 de maio de 2014

BRASIL ESCRAVO



João Joaquim        

Os escravos do império e de hoje


Mês de maio no Brasil lembra um fato histórico na vida do país. No dia 13 se comemora a abolição da escravidão. Ela se deu, com a assinatura da lei Áurea em 13 de maio de 1888. Um estado brasileiro teve a primazia de se anteceder a extinção da escravidão, foi o Ceará. Por isso ele foi intitulado Terra da Luz. Em 1884 ele declarava extinto o tráfico negreiro. Para tanto, teve um personagem que foi decisivo nesse feito. Um jangadeiro negro, Francisco José do  Nascimento, apelidado de dragão do mar, foi decisivo nessa conquista. A princesa Izabel teve a honra de assinar o decreto da abolição, mas na verdade ali era a materialização de movimentos nacionais que já se alastravam país afora desde 1870. Não perdendo de vista que a Inglaterra e outros países já cobravam do império o fim dessa prática abominável.
Quando olhamos para aqueles anos do século XIX com o final da escravatura e começo do século XXI; ou seja quando lemos a história das últimas décadas do império (1870-1889), e comparamos com nossa história presente, se torna oportuna uma indagação: A escravidão foi extinta de ofício e de fato?
Vamos ao que temos de concreto naqueles tempos e nos dias de hoje. Para começar a abolição como uma lei não foi uma unanimidade. Figuras políticas e muitos proprietários de terra eram contra o fim da escravidão. Afinal isto criaria um problema econômico para os latifundiários que teriam que contratar mão-de-obra dos próprios libertos ou de imigrantes europeus. A própria constituição da chamada república rio-grandense de 1843 era favorável ao tráfico negreiro, à escravidão.
Para felicidade dos escravizados prevaleceu a corrente dos notáveis brasileiros pró-abolição. Dentre esses grandes homens não podemos deslembrar um Eusébio de Queirós, José Antonio Saraiva, André Rebouças, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Rui Barbosa, Castro Alves dentre tantos outros.
A conquista da extinção do tráfico e da  escravidão dos negros foi, para a época e sempre, um feito heróico para os seus defensores e chancelada pelo Estado ( império na época  ), na pessoa da princesa Izabel, uma vez que seu pai  dom  Pedro II se encontrava de viagem pela Europa. No entanto, numa questão o Brasil foi omisso e imprevidente; o que fazer com os libertos e seus filhos? Não houve um planejamento para aquela legião de pessoas, absolutamente analfabeta. Como eles poderiam substituir e se abrigar? E a educação daquelas crianças e adolescentes? A ausência e falha do estado com políticas de assistência aos seus ex-escravos e filhos parecem ter reflexos até hoje. Uma demonstração dessa constatação pelo próprio país tem sido a criação das cotas e direitos diferenciados (ou privilégios ) para os negros, afrodescendentes e mulatos. Institutos estes que sugerem reforçar uma outra questão vergonhosa e intolerável que é a discriminação ou preconceito racial. Fica a sensação de uma oficialização estatal do crime de racismo, o que contraria os próprios ditames da nossa constituição quando proclama em alto e bom som que  todos somos iguais em direitos e deveres.
Uma política muito deficitária de todos os governos, desde tempos imemoriais e imperiais foi na área educacional. Esta deveria ser uma plataforma administrativa prioritária de todos os partidos que chegam à condição de governar e chefiar o país. Fosse assim a visão de cada chefe de estado, não haveria a necessidade desse remendo ou ressarcimento sócio-educativo de cotas para tantos direitos como ingresso a universidade, em serviço público e outros bens e serviços públicos.
Mas, volto e arremato com nosso tema maior, a escravidão. É vergonhoso, mas na prática e nos rincões de nosso país ela ainda é praticada. Calcula-se que cerca de 40.000 pessoas trabalham para os seus patrões em condição escrava. O que vemos em algumas cenas denunciadas pela imprensa e ministério do trabalho nos parece mais degradante do que o trabalho escravo da época dos senhores de engenho. Naqueles tempos, pelo menos abrigo e comida farta os trabalhadores tinham, os escravos de hoje nem tanto.
Hoje mesmo para muitas categorias profissionais ditas formais, com carteira assinada, o salário e condições de trabalho se assemelham muito aos escravos da época do império.
Se alguém se atreve em me contradizer eu pergunto: o que um homem que tenha mulher e pelo menos um filho fará com um salário mínimo? Com que dignidade viverá esta família com R$ 750,00 em nossos tempos? com a palavra os nossos digníssimos governantes entronados lá em Brasília.     

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