O INFERNO É BEM AQUI
O
INFERNO , DANTES E DE AGORA
João Joaquim
O mundo parece andar de ponta-cabeça. Há pessoas
que dizem nem gostar tanto de assistir televisão como antes, dado o noticiário
de violência e policial que aparece nos telejornais diários. Tais
manifestações de recusa em não ver tanto mais TV como se fazia antes não se dão
sem razão. O espaço ocupado pela maldade nos noticiários nos enoja, nos
deprime, nos preocupa e muito. Entre tantas afirmações que ouvimos de
entrevistados, uma tem se tornado lugar-comum, “a gente vai para o trabalho e não
sabe se volta vivo”. “Hoje foi fulano, amanhã pode ser eu a próxima vítima”.
A sociedade, as famílias perguntam atônitas. Onde
vamos parar com tudo isso? por que de tanta violência? A vida tem perdido
o valor na consciência e coração dos maus. Quanto vale eliminar o outro? Um par
de tênis, um aparelho de celular, um amassadinho no carro, uma rápida discussão
de trânsito, vinte , dez reais, ou nada disso.
Onde estão as causas de tanto mal? Perguntam a
sociedade encurralada e as famílias de todo o país.
Seria o aumento vertiginoso da população? A
competição por mais território? O recrudescimento dos ânimos e intolerância a
tudo? Onde entra o papel do capital em índices tão alarmantes de agressão?
Seria a neurose do consumo a qualquer preço?
O capitalismo desregrado e selvagem traz embutido o
instinto canibal, de agredir o outro de forma inconsequente. É o homem sendo
lobo do próprio homem já dizia Thomas Hobbes , um dos filósofos contratualistas
.
E a educação, ou melhor a sub ou falta dela, que
papel tem na violência? Vivemos no século da educação rasa, supérflua;
quando tudo parece descartável e sem valor.
Estamos na era do predomínio das imagens, das
piadas fúteis, burras, pornôs e sem nenhum senso de criatividade. Vivemos a
época do excesso de leis não cumpridas, da abundância dos direitos. Temos até o
ECA( estatuto da criança e adolescente), para adolescentes delinquentes. O
Estado se intrometeu muito onde não devia, na educação dos filhos que é de direito e dever das famílias. Hoje temos por exemplo a lei da palmada. Conforme
o corretivo que os pais aplicam aos filhos, pode haver denúncia e processo na
justiça. Todo os direitos possíveis aos filhos. Os pais agora que se cuidem. Os
filhos podem entregá-los a justiça. Crianças e adolescentes hoje têm acesso
irrestrito a informações no mundo virtual. Ainda que sejam informações que
deformam o indivíduo em tudo, no caráter, na cidadania, na ética, no convívio
social civilizado.
Vivemos a escola da criação e formação de monstros
humanos( basta acessar as mídias virtuais). Parece ser a materialização das
profecias apocalípticas. Tudo tem se passado ao vivo e em cores vermelhas
de sangue. São pais e madrastas eliminando filhos, filhos descartando e
executando pais em planos e cenas as mais desumanas e diabólicas. Idosos e avós
de antes eram fonte de exemplo, de inspiração, de sabedoria e modelos para
filhos e netos. Hoje são estorvos,
trambolhos e deixados à própria sorte.
As famílias têm se abdicado da educação dos filhos.
Delegam esta missão indelegável a terceiros(escolas). Os alunos passaram
a ter formação como mercadorias. É como se para tanto bastasse um manual de
instrução. As escolas são este manual, e para as famílias é o quanto basta.
Basta contratar uma creche, um bom colégio e pronto, missão cumprida.
As famílias, os pais vêm tocando as suas vidas em
completa distração e distanciamento entre seus membros. Falar uns com os outros
para quê? Melhor falar com as mídias digitais: celular, smartphone, ipad,
tablets. As máquinas não cobram nada e obedecem a tudo e a todos os dedos.
Bastam simples toques digitais. O diálogo com pessoas cansa, exige raciocínio
lógico, troca de emoções, hipocrisia, fingimento.
Entramos de cabeça na era das
monstruosidades. São monstros na política, monstros na cultura, na justiça, em
toda a vida social. Monstros têm sido
criados até no esporte. A violência e atos monstruosos vêm grassando e
contaminando todo o tecido social. Quando achávamos que tínhamos visto tudo de
ruim e tenebroso, assistimos cenas as mais dantescas e repulsivas praticadas de
forma gratuita e sádica. Linchamentos e execuções a sangue frio têm se tornado
corriqueiros nos noticiários de TV. Armas de fogo para os homicidas nem
fazem tanta falta. Mata-se por esganadura, mata-se por estrangulamento, mata-se
até com injeção que de sedativa se usa como destrutiva( dormonid,
diazepan, lexotan) . Na fúria vale até arrancar um vaso sanitário e jogar na
multidão. Infeliz e perdida a cabeça atingida, afinal a morte é gratuita,
pouco importa a identidade da vítima.
Todos nós perguntamos em pânico. Quem vai nos
proteger? Ninguém acredita mais nas instituições que deveriam nos defender e
tutelar. O Estado está falindo ? Temos visto um estado criminoso e do mal se
emulando e digladiando com o Poder Oficial.
Depois do macabro sequestro e venda das
adolescentes e jovens nigerianas pelo grupo terrorista Boko Haram ;
desse repulsivo e nojento estupro coletivo; o que mais nos reserva este
mundo-cão de tanta violência e abominação? Vamos esperar pela próxima
reportagem. Maio/2014
João
Joaquim médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com