BRASIL ESCRAVO
João Joaquim
Os escravos do império e de hoje
Mês de maio no Brasil lembra um fato histórico na vida do país. No dia
13 se comemora a abolição da escravidão. Ela se deu, com a assinatura da lei
Áurea em 13 de maio de 1888. Um estado brasileiro teve a primazia de se
anteceder a extinção da escravidão, foi o Ceará. Por isso ele foi intitulado
Terra da Luz. Em 1884 ele declarava extinto o tráfico negreiro. Para tanto,
teve um personagem que foi decisivo nesse feito. Um jangadeiro negro, Francisco
José do Nascimento, apelidado de dragão
do mar, foi decisivo nessa conquista. A princesa Izabel teve a honra de assinar
o decreto da abolição, mas na verdade ali era a materialização de movimentos
nacionais que já se alastravam país afora desde 1870. Não perdendo de vista que
a Inglaterra e outros países já cobravam do império o fim dessa prática
abominável.
Quando olhamos para aqueles anos do século XIX com o final da escravatura
e começo do século XXI; ou seja quando lemos a história das últimas décadas do
império (1870-1889), e comparamos com nossa história presente, se torna
oportuna uma indagação: A escravidão foi extinta de ofício e de fato?
Vamos ao que temos de concreto naqueles tempos e nos dias de hoje. Para
começar a abolição como uma lei não foi uma unanimidade. Figuras políticas e
muitos proprietários de terra eram contra o fim da escravidão. Afinal isto
criaria um problema econômico para os latifundiários que teriam que contratar mão-de-obra
dos próprios libertos ou de imigrantes europeus. A própria constituição da
chamada república rio-grandense de 1843 era favorável ao tráfico negreiro, à
escravidão.
Para felicidade dos escravizados prevaleceu a corrente dos notáveis
brasileiros pró-abolição. Dentre esses grandes homens não podemos deslembrar um
Eusébio de Queirós, José Antonio Saraiva, André Rebouças, Joaquim Nabuco, José
do Patrocínio, Rui Barbosa, Castro Alves dentre tantos outros.
A conquista da extinção do tráfico e da escravidão dos negros foi, para a época e
sempre, um feito heróico para os seus defensores e chancelada pelo Estado (
império na época ), na pessoa da
princesa Izabel, uma vez que seu pai dom
Pedro II se encontrava de viagem pela
Europa. No entanto, numa questão o Brasil foi omisso e imprevidente; o que
fazer com os libertos e seus filhos? Não houve um planejamento para aquela
legião de pessoas, absolutamente analfabeta. Como eles poderiam substituir e se
abrigar? E a educação daquelas crianças e adolescentes? A ausência e falha do
estado com políticas de assistência aos seus ex-escravos e filhos parecem ter
reflexos até hoje. Uma demonstração dessa constatação pelo próprio país tem
sido a criação das cotas e direitos diferenciados (ou privilégios ) para os
negros, afrodescendentes e mulatos. Institutos estes que sugerem reforçar uma
outra questão vergonhosa e intolerável que é a discriminação ou preconceito
racial. Fica a sensação de uma oficialização estatal do crime de racismo, o que
contraria os próprios ditames da nossa constituição quando proclama em alto e
bom som que todos somos iguais em
direitos e deveres.
Uma política muito deficitária de todos os governos, desde tempos
imemoriais e imperiais foi na área educacional. Esta deveria ser uma plataforma
administrativa prioritária de todos os partidos que chegam à condição de
governar e chefiar o país. Fosse assim a visão de cada chefe de estado, não
haveria a necessidade desse remendo ou ressarcimento sócio-educativo de cotas
para tantos direitos como ingresso a universidade, em serviço público e outros
bens e serviços públicos.
Mas, volto e arremato com nosso tema maior, a escravidão. É vergonhoso,
mas na prática e nos rincões de nosso país ela ainda é praticada. Calcula-se
que cerca de 40.000 pessoas trabalham para os seus patrões em condição escrava.
O que vemos em algumas cenas denunciadas pela imprensa e ministério do trabalho
nos parece mais degradante do que o trabalho escravo da época dos senhores de engenho.
Naqueles tempos, pelo menos abrigo e comida farta os trabalhadores tinham, os
escravos de hoje nem tanto.
Hoje mesmo para muitas categorias profissionais ditas formais, com
carteira assinada, o salário e condições de trabalho se assemelham muito aos
escravos da época do império.
Se alguém se atreve em me contradizer eu pergunto: o que um homem que
tenha mulher e pelo menos um filho fará com um salário mínimo? Com que
dignidade viverá esta família com R$ 750,00 em nossos tempos? com a palavra os
nossos digníssimos governantes entronados lá em Brasília.