FELICIDADE
SER FELIZ COM A FELICIDADE ALHEIA
João Joaquim de Oliveira
Afirmar
que o objetivo primeiro do homem nesta terra é a busca da felicidade é uma
obviedade. Ninguém em sua existência busca a infelicidade. O vir à luz já é uma
felicidade. Mas, afinal o que é mesmo a felicidade? Cada um pode ter um
conceito, um modelo de ser feliz. Neste introito lembro de uma tirinha que
expressava com muita propriedade o quão é vário e difícil esta ideia que cada
um faz desta bem aventurança. A cliente chega à oficina de um chaveiro e lhe
pede: “ você pode me fazer uma chave da felicidade”? Não menos malicioso o
chaveiro pensa, pensa e responde, “ faço sim, basta que me traga o modelo”.
As maneiras
e vias que levam as pessoas a viver bem e serem felizes são tão subjetivas e
díspares que existem aquelas que têm na promoção da felicidade dos outros a sua
própria felicidade. Já pensou! Ser feliz em promover o bem-estar, a
alegria e a felicidade alheia? Isto é a regra? Claro que não! Vivemos em
um mundo, em uma sociedade calcada no egoísmo e no materialismo. Cada um por si
e Deus por todos. Quando o mais ético seria um por todos , todos por um.
Hoje há uma
busca insana, desmedida e neurótica pelo gozo e prazer. Satisfações estas
confundidas com felicidade. São sensações que passam ao longe da fruição
verdadeira de felicidade. Realizar-se, ser feliz tendo como alvo o outro
leva-nos inevitavelmente à seara da ética na sua mais pura essência. No campo
ético do humanismo, podemos buscar vários de seus legados do bem. Dentre
estes vamos trazer à memória por exemplo a filantropia, a fraternidade e
a compaixão. Vejam que estes verbetes já trazem embutidos a sua definição.
Filantropia,
amor ao homem(ao outro); fraternidade, sentimento de que somos uma
irmandade de uma mesma família, a humanidade. Compaixão, sofrer junto ou com a
dor alheia. Virtude é outro legado o mais puro e perfeito da ética, da
felicidade em propiciar ao outro a felicidade. Segundo Aristóteles,
virtude é a firme e perene vontade de fazer o bem ao outro. Isto é a
quintessência da beleza ética e de generosidade.
Uma
reflexão filosófica que gosto muito de fazer quando se fala de felicidade é
aquela que trata de meu papel no mundo, na sociedade, enquanto estamos
vivos. E essa provocação deve começar com a seguinte indagação: o que eu
represento para o mundo! Para a sociedade de que faço parte? Para as pessoas à
minha volta? O que eu faço em meu dia-a-dia para ajudar tornar este mundo
melhor e mais humano?
Será
que se eu deixar de existir eu farei alguma falta? São reflexões que eu
devo fazer a mim mesmo e começar a pensar no conceito e na busca da minha e da
felicidade do outro. Qual será o legado de bom e de útil que posso
deixar depois da minha morte. Será que fui tão egoísta, tão pequeno(a),
tão inútil que ninguém notará minha ausência quando eu me for?
Há
pessoas assim! Elas passam pela vida sem ter vivido, quando muito olharam e
cuidaram apenas de seus umbigos. Muitas, sequer, cuidam daqueles que
muita vez, cuidaram tanto delas para lhes permitir a sobrevivência: os pais ,
os ancestrais por exemplo . Viver e tocar a vida assim não é felicidade.
É entrar e sair da vida como uma tábula rasa, uma lousa em branco, sem nada
escrito. Que triste!
João Joaquim de Oliveira médico- cronista
DM joaomedicina.ufg@gmail.com