FILHOS DE UM NOVO MUNDO
http://www.dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130721&p=22
Que filhos estamos criando
para um novo mundo?
Diário da
Manhã
João
Joaquim de Oliveira
Faço aqui
neste breve ensaio, ou melhor nesta sumária digressão uma também rasa análise
sobre os planos e sonhos que carrega grande parte de nossa
juventude.
Mas,
porque uma análise do que andam pensando e sonhando muitos de nossos(as)
adolescentes e jovens? A razão mais simplista se resume numa verdade também
simplista. Eles são o futuro do mundo. Há inclusive um lugar-comum que bem
expressa este meu comentário inicial que professa. “ O mundo que vou deixar
para meus filhos vai depender dos filhos que vou deixar para esse mundo”.
Pronto, acho que não preciso de dizer mais nada. Para um bom leitor e amante de
bons conselhos o mote deste princípio já diz tudo.
Embora de
entendimento trivial, este provérbio tem muito de engenhoso e filosófico. Eu e
você somos as mudanças que queremos para o planeta, para a sociedade, para o
meio social mais próximo de mim do qual eu faço parte. Simples assim, não acha?
Eu,
sinceramente, venho me preocupando muito com o comportamento, as atitudes, os
projetos e sonhos de nossos(as) jovens. Mesmo levando em conta os protestos, as
reivindicações, as marchas iniciadas neste junho/2013. Fica aquela
dúvida. Não seria apenas um fogo-fátuo, alguns arroubos passageiros? Até porque
nessas marchas existem muito vandalismo, muito radicalismo e falta de
liderança. Salvo algumas categorias como dos médicos e outros protestos
pontuais, onde se vê uma categoria profissional que encabeça as marchas.
É bom que
nós olhemos para a história, o tempo. Uma época sempre nos evoca alguma
comparação com o presente; fico a cotejar e defrontar o que eram os sonhos e
anseios das famílias e juventude dos anos 80(década 1981/90) e hoje, 2013. Mais
precisamente antes e depois da massificação do telefone celular e da informática
(internet). Para quem era jovem nessa época ,como eu, deve lembrar-se. O
adolescente ao ingressar no segundo grau já trazia definido o sonho de ingresso
em uma universidade, ter uma carreira profissional de sucesso. Ser alguém na
vida. Veja o peso desta expressão. Ser alguém ou um joão-ninguém. Uma diferença
quilométrica quando se pensa no papel de cada um para a família, para a
sociedade , para o mundo.
O bom
dessa atmosfera em que mergulhava nossa juventude, nesses tempos pré-digitais,
é que a família se embalava nesses sonhos, nessa ascensão sociocultural e
profissional do filho. Aqui, eu fui partícipe desse clima, dessa aura
positivista que reinava nos corações e mentes das pessoas e famílias dos idos
de 1980.
Todos se
irmanavam na mesma idealidade, com a mesma energia na busca por um futuro
promissor e construtivo para alicerçar e ancorar ainda mais este comportamento
dos jovens. Eu sou fruto desse idealismo pessoal e de minha família. Nunca
acalentei o sonho de ser famoso, quis e busco sempre ter alguma importância
para as pessoas que me rodeiam. Muita vez, famoso é esculpir na areia, ser
importante é talhar na rocha. Há pessoas famosas e nada importantes. Há outras
importantes e são eternamente assim ,e nunca famosas.
Pode
parecer puro saudosismo, mas , o nível da educação nas escolas públicas, me
parece, era bem superior aos dias de hoje. Passados então três décadas
daquele tempo é forçoso algumas reflexões e indagações. Como andam os sonhos e
o que pensa nossa juventude, navegantes que são ou náufragos,
deste mundo digital? Será que os moços e moças trazem alguns dos
sonhos de seus pais daquela época? Eu sempre gostei muito de otimismo, mas me
confesso cético e descrente da maioria de nossos jovens de agora.
Claro que
não é uma regra maciça, mas estanque. Há bolsões de jovens neste vasto Brasil e
mundo que precocemente, estimulados pelas famílias, têm os olhos fincados em um
futuro rico de sucesso, fundado em uma carreira profissional bem reconhecida,
no empreendedorismo, numa vida de relações ecológicas e sociais pautadas por
cidadania participativa e ética.
O
progresso fez muito bem à humanidade. A comunicação hoje, tida como 8º
maravilha para nossa juventude, parece que trouxe alguns graves efeitos
colaterais para todos; pais, crianças e jovens estão distraídos em
relação aos valores que devem construir e moldar o ser humano.
Os
adolescentes e jovens já não se preocupam com o futuro e não sonham como
antes. Parece não haver mais futuro para essa turma. A vida tem se
resumido no aqui e agora. A internet com suas redes sociais , games e tantos
outras futilidades tem sido a razão maior de se viver. As crianças
e jovens já não pensam como antes. As máquinas da informática pensam por
elas. Isto vem se constituindo em um perigo epidêmico , que muitos se negam a
enxergar.
Pais, os
gestores da educação e a sociedade precisam refletir e mudar esta
tenebrosa tendência. Do contrário, os filhos que vamos deixar para este mundo
serão uma legião de nerds , lerdos e de debiloides, dominados pelos
computadores e tantos outros instrumentos de mídia. E isto será muito triste.
Que pena!
(João
Joaquim de Oliveira, médico e cronista DM. joaomedicina.ufg@gmail.com)