SAGRADO x PROFANO
João Joaquim de Oliveira
"Quero
encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas
as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do
combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de "pacificação" será
duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que
deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade
assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si
mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se
enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da
grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais
necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza “- papa Francisco 25
julho/2013
Entre tantos fatos e feitos tenebrosos,
dantescos, medonhos e macabros em nosso Brasil, um fica para a história
doméstica e mundial. Refiro-me aqui à visita do sumo pontífice
Francisco, neste mês de julho/2013. Como se sabe Mário Jorge Bergoglio (o papa)
é argentino. Nosso consolo é que Deus é brasileiro.
Mas, enfim a visita desse pastor e líder máximo da
igreja católica ao nosso país nos representa um verdejante e florido oásis no
que tem sido nosso cenário político-governamental, um deserto tórrido, infértil
e sem alvíssaras de chuvas e vidas novas.
Oxalá, a simpatia, a simplicidade, a humildade que
reverberam de sua santidade, possam inspirar e contagiar muitos dos mandatários
dessa gigante nação. Quem sabe assim, não germinem na cabeça de nossa
presidente , de seus 39 ministros e
outros cerca de 25000 mil assessores sem concurso, muitas virtudes e outros
atributos racionais para atender aos anseios e clamores de nosso povo.
A jornada mundial da juventude (JMJ), presidida
pelo papa, pode ser um símbolo, um
marco, uma combustão para mudanças positivas imediatas reclamadas pelas
classes menos favorecida. A JMJ, como sabido, é um acontecimento ecumênico. São
centenas de milhares de jovens de várias partes do globo. Eu tenho como uma bem
sucedida coincidência, a JMJ com os
protestos que ocorrem no Brasil . São cobranças em diversos serviços
públicos essenciais como transporte urbano de qualidade, assistência médica
digna e disponível para todos; e com muita ênfase o combate e punição à
corrupção. Vejo com muito otimismo esta interposição de clamores por mudanças e
a vinda do papa ao Brasil, nesses tempos de muitas incertezas e descrença em
nossos homens públicos.
No que concerne à pessoa e homem Mário Bergoglio, é
unanimidade tratar-se de figura extremamente humilde e aureolada de muita
beleza e sublimidade de alma. Não foi em vão que escolheu como nome Francisco.
O de Assis, como se sabe, foi um apóstolo italiano que renunciou a todo bem
material e viveu como Jesus Cristo, em prol dos excluídos e pobres. Tinha até
as formigas e ervas daninhas como irmãos e irmãs. Fazia o bem a todos. O nosso
papa Francisco de agora parece reencarnar o espírito e os desígnios de são
Francisco de Assis de outrora. Que esplêndido exemplo para nós.
Que estas virtudes floresçam em todo o seu
pontificado. O mundo anda carente de seres que primam pela bondade e
generosidade. A visita solene do religioso e também estadista Mário Bergoglio
ao nosso país tem sido marcada de muito aparato de segurança. O bom é que ele
tem se negado a tantos privilégios e distinções de outros homens de Estado. Na
recepção, que nossos políticos prepararam para Francisco, dois
momentos me aguçaram algumas reflexões e atenção! O primeiro foi seu discurso
de que batia ao portal de cada brasileiro e pedia licença para entrar em nossas
casas, ao nosso país, e que não trazia ouro nem prata, mas Jesus para todos.
Veja quanta ternura, quanta pureza e enlevo nestas expressões. E que contraste
com nossos estadistas presentes nessa cerimônia , no palácio do governo do Rio
de Janeiro.
Entretanto, numa mostra da dualidade entre o belo e
o feio, do virtuoso e do vicioso, do bem e do mal; quem estavam na sessão
de cumprimentos e beija mão? Vários de nossos oportunistas, corrompidos e
corruptos representantes. Só para ficar em dois nomes, Renan Calheiros e
Henrique Alves, presidentes respectivos do senado e câmara dos deputados. Foi o
encontro da profano com o sacro, do execrável com o admirável, da maldade com a
fraternidade. Ainda bem que a aura de beleza, de ética e bondade do papa
ofuscou e nos fez esquecer essas polutas figuras da política.
Pensando melhor, bom seria que esses públicos e
impudicos representantes do povo, com tantos acertos e dívidas em tribunais e
com a sociedade, poderiam aproveitar a presença do santo padre em nosso
território e com ele confessar seus muitos e escabrosos pecados,
cometidos contra o povo e a nação. Quem sabe algumas penitências, e milhares de
pais-nossos e ave-marias poderiam abrandar seus dramas de consciência e
adiantar o que “suas excelências” têm de acertar no juízo final, antes de
serem enviados ao purgatório. Seria uma oportunidade ímpar. Mas, como tem
outros pecados como a arrogância, a prepotência e a desfaçatez, jamais se
curvariam a esta iniciativa.
Julho/2013
João Joaquim de
Oliveira médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com