FORA DO....
FORA DO CENTRO
João Joaquim de Oliveira
Uma palavrona que as pessoas bem sucedidas ou
sábias empregam muito se chama concentração. Mas, afinal o que significa
concentração? Atenção para sua dissecção etimológica, con-centro-ação, ou
seja estado ou ação voltada para o centro, o núcleo, o cerne ,a essência
daquilo que se faz. Simples assim não? Ao escrever esta pequena crônica sobre
esta condição que também encerra disciplina no que se faz, será que eu
estou bem centrado neste meu mister? Bem, pelo menos vou procurar exercer esta
técnica ao discorrer sobre ela própria (concentração).
Muito já se ouviu dizer que as novas gerações ou
têm uma dupla capacidade de concentração ou não se concentram em coisa nenhuma.
É o caso por exemplo de se estudar ouvindo música, de dirigir atendendo o
celular e enviar uma mensagem etc. Aliás constitui infração de trânsito dirigir
e usar o celular. O risco é grande .
A mim, de uma geração mais madura, me parece meio
complicado, fazer simultaneamente duas destas atividades, quase como assobiar e
chupar cana. Eu penso e observo que a perda de foco ou centro no que se faz se
deve muito ao ritmo frenético da “vida moderna”. A sociedade vem primando pela
velocidade e quantidade, mas perdendo em qualidade. E põe falta de qualidade
nisso. Sem qualidade de vida, de relações sociais, de laços afetivos, de vida
conjugal, de afeto com os filhos e pessoas queridas e por aí vai. A dispersão
das pessoas na modernidade de hoje é tamanha que elas se desconcentram até de
si próprias. Querem exemplos cristalinos? Com que periodicidade essas
pessoas intituladas aceleradas e muito produtivas procuram um médico de
confiança para um “check-up” básico? Quantas vezes por ano elas vão ao cinema
com o cônjuge ou filhos? Quantos livros agradáveis elas lêem por ano?
Quantas viagens de lazer elas fazem com a família?
Esses tipos comportamentais aqui citados podem
até estar concentrados na profissão, mas desfocados do que lhes são mais
valiosos; a auto-estima, a saúde, as relações sociais e afetivas em todos os
seus graus. Todos os insumos e produtos das ciências e tecnologia têm tornado
as pessoas reféns ou escravas destes avanços. Os objetos de informática e de
mídias digitais podem muito bem exemplificar este grau de alienação a que
chegamos. Hoje as pessoas estão muito mais centradas nas redes sociais(
sociais?) e suas mídias do que na família, nos amigos ou em si próprias .
A cada apetrecho eletrônico ou digital que a pessoa
incorpora em sua rotina de vida, esta pessoa se torna refém dele. Aqui há
uma inversão de valores. De possuidor do objeto moderno, o indivíduo se torna
possuído pelo objeto, porque este não desgruda mais do (ex) dono. São exemplos
típicos dessa relação inversa o telefone celular, o notebook, os tablets, o
iPhone e tantos outros objetos de informática.
Não se quer aqui demonizar ou tachar de fúteis
tantos recursos eletrônicos, de informática e as mídias em geral. Chama-se a
atenção apenas pelo uso certo, no contexto próprio e hora certa. Se assim não
for procedido, as pessoas estão perdendo o foco, a concentração e o próprio
rumo de suas vidas. Isto é perverso, nocivo e perigoso; com riscos de tornarmos
tão frios e autômatos como os próprios computadores.
Se a pessoa não puder fazer uma caminhada, ir a
uma cerimônia qualquer, a uma academia de ginástica sem levar o celular e
outros penduricalhos digito-virtuais, melhor seria dar uma pausa em tudo;
talvez umas sessões psicanalíticas; e repensar as prioridades da
vida. Pode ser falta de concentração ou foco. Cada atividade, seja no
labor diário ou lazer merece uma dedicação exclusiva, para não sair
do centro do que se faz ou da rota certa da vida. Finalizo com este
conselho: Todo utensílio , objeto ou invento moderno pode ser útil ou bom
pelo bom ou mau uso que se faz dele; o dono é que pode ser tornar um benéfico
ou nocivo( excêntrico ) usuário do próprio bem.
João Joaquim de Oliveira cronista DM