segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

AGONIA NO OCTÓGONO



 AGONIA NO OCTÓGONO, O COLISEU DA HIPERMODERNIDADE.
                                                                                                                                                       JOAO JOAQUIM





Quando se fala em Coliseu vem-nos à mente a cidade de  Roma, não a Roma de nossos tempos, que abriga, pode-se assim dizer, o Estado do Vaticano, sede papal da igreja católica.
Este anfiteatro gigante( o coliseu), maravilha do mundo contemporâneo lembra uma Roma da era medieval.
E os coliseus brasileiros? Vejam os leitores! Parece até mania de grandeza, mas nós temos sim, nossos Coliseus. Ah! Ah! Imagina! O Brasil não ia ficar fora desta. Se somos penta no futebol, se temos arenas padrão FIFA para o esporte mais popular, por que também não os nossos Coliseus?
Todavia, vamos primeiro fazer um tur pela Roma do período pré-medieval e sabermos um pouco de sua maior obra arquitetônica, que está de pé até hoje. O Coliseu.
O termo coliseu vem de colosso(colosseo), em homenagem a estátua colossal do imperador Nero, que existia nas proximidades dessa gigantesca obra, uma materialização de poder e opulência daquela época. . Também denominado anfiteatro Flaviano (dinastia dos Flávios ), ele foi erguido pelos imperadores Vespasiano e Tito (80 d.C).
A obra tinha (ou tem) quatro andares e cerca de 80 entradas com capacidade para 100.000 pessoas. Desastres naturais e os terremotos de 847 e 1231 provocaram grande avaria nas estruturas dessa magnífica  obra. Sua construção durou 10 anos e foram “usados” cerca de 60.000 escravos judeus. Quem imaginava que escravos eram só os de etnia negra, pode constatar que naquela época os brancos também sofriam nas mãos dos ditadores.
Agora o que deixa as pessoas civilizadas  estarrecidas no mundo de hoje, e com toda razão, foram os espetáculos que se encenavam, ou melhor que se praticavam nas arenas do Coliseu. Coisas próprias da época pré-medieval. Lá no interior daquele “esplendor” da engenharia da época as penas de morte se transformavam em espetáculo ao vivo. Todos tinham entrada e comida de graça. Foram os tempos da cultura do pão e circo. Era uma forma dos imperadores deixarem a plebe, o povão de barriga cheia . Assim eles não reclamavam das agruras de se viver sob as leis ditatoriais dos poderosos de então . Alguma semelhança com o Brasil de hoje( do pão e circo) é mera coincidência.
 Cristãos e inimigos dos imperadores eram soltos nas arenas e feras como tigres e leões famintos os devoravam sob os apupos da nobreza e de populares. Calcula-se que mais de 500.000 pessoas morreram e um milhão de animais selvagens tiveram o mesmo destino em “divertidos” safáris para delírio dos presentes. Havia também lutas humanas. Eram os gladiadores,  numa espécie de vale-tudo. Eram espetáculos onde os homens se nivelavam com animais os mais bestiais e selvagens possíveis. Eram crueldades e mais crueldades e o povo em delírio .
Bem ! e os nossos coliseus ?  Uma réplica dessas lutas dos gladiadores romanos, lá daqueles tempos medievais, se dá hoje no Brasil e em outros países como U.S.A. São as lutas de UFC e MMA realizadas em arenas especiais chamadas octógonos. Com uma diferença básica; nesses coliseus de Pindorama ou em  terras do tio Sam que são montados onde se faz o espetáculo , além da platéia presente há transmissão pelas TVs, rádio e internet. São milhões de pessoas que vêem as bestas-feras humanas apanhando e massacrando os adversários. Além de reprises em TV aberta e fechada, pela internet pode-se assistir tudo, sem nenhuma censura.  Ganha aquele que mais ferimentos e danos provoca no adversário, ou deixa-o desmaiado, quando não  em coma, inválido ou morto. O inusitado é que o indivíduo pode também se autolesionar . Foi o que ocorreu com o brasileiro Anderson Silva, na madrugada de 29.12.13, quando ele tentava recuperar o título de pesos médios de UFC contra Chris Weidman em Las Vegas (U.S.A). Anderson fraturou a perna esquerda ao tentar atingir o adversário. Uma cena  dantesca, trágica e muito dolorosa.
Para políticos do esporte, gestores do bem-estar e da paz, para nossos governantes  e simpatizantes dessas rinhas humanas está tudo normal. Agora pense que péssimo exemplo representa  esses massacres sendo televisionados e repetidos para quem quer ver. Imagine  se nossas crianças e adolescentes vão ficar de fora, sem  assistir  a esses dantescos e sádicos espetáculos . Eu duvido.
Os empresários, do ramo, os patrocinadores, as TVs transmissoras como Rede Globo e afiliadas chamam estes massacres humanos de esporte. Tudo sob os beneplácitos e chancela de nossas autoridades e da justiça.
Como se conclui, o sadismo, o gozo com o sofrimento alheio, o espetáculo que envolve o aniquilamento, humilhação, carnificina e sangue alheio são coisas não apenas dantescas e medievais, mas bem atuais. Tem gente que gosta, se diverte, se delira com tudo isto e paga caro para ver. E há os algozes e vítimas, empresários e patrocinadores que levam milhões.
Depois desta, fica então a reflexão, os milhões de espectadores destas brigas talvez não tinham pensando. Mas, nossos octógonos de UFC e MMA são mesmo nossos coliseus do Brasil e da hipermodernidade. Isto porque somos humanos, racionais , dotados de inteligência , às vezes propagamos a paz e condenamos a tortura, os crimes impunes, a violência contra a mulher etc. Já imaginou que hipocrisia! Só mesmo no Brasil , ou em Las Vegas ,  e em países de mesmo quilate civilizatório.   

     

    João Joaquim -médico- cronista DM  joaomedicina.ufg@gmail.com

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