AGONIA NO OCTÓGONO
AGONIA NO OCTÓGONO, O COLISEU DA
HIPERMODERNIDADE.
JOAO
JOAQUIM
Quando se fala em Coliseu vem-nos à mente a cidade de
Roma, não a Roma de nossos tempos, que abriga, pode-se assim dizer, o
Estado do Vaticano, sede papal da igreja católica.
Este anfiteatro
gigante( o coliseu), maravilha do mundo contemporâneo lembra uma Roma da era
medieval.
E os coliseus
brasileiros? Vejam os leitores! Parece até mania de grandeza, mas nós temos
sim, nossos Coliseus. Ah! Ah! Imagina! O Brasil não ia ficar fora desta. Se
somos penta no futebol, se temos arenas padrão FIFA para o esporte mais
popular, por que também não os nossos Coliseus?
Todavia, vamos
primeiro fazer um tur pela Roma do período pré-medieval e sabermos um pouco de
sua maior obra arquitetônica, que está de pé até hoje. O Coliseu.
O termo coliseu
vem de colosso(colosseo), em homenagem a estátua colossal do imperador Nero,
que existia nas proximidades dessa gigantesca obra, uma materialização de poder
e opulência daquela época. . Também denominado anfiteatro Flaviano (dinastia
dos Flávios ), ele foi erguido pelos imperadores Vespasiano e Tito (80 d.C).
A obra tinha (ou
tem) quatro andares e cerca de 80 entradas com capacidade para 100.000 pessoas.
Desastres naturais e os terremotos de 847 e 1231 provocaram grande avaria nas
estruturas dessa magnífica obra. Sua
construção durou 10 anos e foram “usados” cerca de 60.000 escravos judeus. Quem
imaginava que escravos eram só os de etnia negra, pode constatar que naquela
época os brancos também sofriam nas mãos dos ditadores.
Agora o que deixa
as pessoas civilizadas estarrecidas no
mundo de hoje, e com toda razão, foram os espetáculos que se encenavam, ou
melhor que se praticavam nas arenas do Coliseu. Coisas próprias da época
pré-medieval. Lá no interior daquele “esplendor” da engenharia da época as
penas de morte se transformavam em espetáculo ao vivo. Todos tinham entrada e
comida de graça. Foram os tempos da cultura do pão e circo. Era uma forma dos
imperadores deixarem a plebe, o povão de barriga cheia . Assim eles não
reclamavam das agruras de se viver sob as leis ditatoriais dos poderosos de
então . Alguma semelhança com o Brasil de hoje( do pão e circo) é mera
coincidência.
Cristãos e inimigos dos imperadores eram
soltos nas arenas e feras como tigres e leões famintos os devoravam sob os
apupos da nobreza e de populares. Calcula-se que mais de 500.000 pessoas
morreram e um milhão de animais selvagens tiveram o mesmo destino em
“divertidos” safáris para delírio dos presentes. Havia também lutas humanas.
Eram os gladiadores, numa espécie de
vale-tudo. Eram espetáculos onde os homens se nivelavam com animais os mais
bestiais e selvagens possíveis. Eram crueldades e mais crueldades e o povo em
delírio .
Bem ! e os nossos
coliseus ? Uma réplica dessas lutas dos
gladiadores romanos, lá daqueles tempos medievais, se dá hoje no Brasil e em
outros países como U.S.A. São as lutas de UFC e MMA realizadas em arenas
especiais chamadas octógonos. Com uma diferença básica; nesses coliseus de
Pindorama ou em terras do tio Sam que
são montados onde se faz o espetáculo , além da platéia presente há transmissão
pelas TVs, rádio e internet. São milhões de pessoas que vêem as bestas-feras
humanas apanhando e massacrando os adversários. Além de reprises em TV aberta e
fechada, pela internet pode-se assistir tudo, sem nenhuma censura. Ganha aquele que mais ferimentos e danos
provoca no adversário, ou deixa-o desmaiado, quando não em coma, inválido ou morto. O inusitado é que
o indivíduo pode também se autolesionar . Foi o que ocorreu com o brasileiro
Anderson Silva, na madrugada de 29.12.13, quando ele tentava recuperar o título
de pesos médios de UFC contra Chris Weidman em Las Vegas (U.S.A). Anderson
fraturou a perna esquerda ao tentar atingir o adversário. Uma cena dantesca, trágica e muito dolorosa.
Para políticos do esporte, gestores do bem-estar e da paz, para
nossos governantes e simpatizantes
dessas rinhas humanas está tudo normal. Agora pense que péssimo exemplo
representa esses massacres sendo
televisionados e repetidos para quem quer ver. Imagine se nossas crianças e adolescentes vão ficar
de fora, sem assistir a esses dantescos e sádicos espetáculos . Eu
duvido.
Os empresários,
do ramo, os patrocinadores, as TVs transmissoras como Rede Globo e afiliadas
chamam estes massacres humanos de esporte. Tudo sob os beneplácitos e chancela
de nossas autoridades e da justiça.
Como se conclui,
o sadismo, o gozo com o sofrimento alheio, o espetáculo que envolve o
aniquilamento, humilhação, carnificina e sangue alheio são coisas não apenas
dantescas e medievais, mas bem atuais. Tem gente que gosta, se diverte, se
delira com tudo isto e paga caro para ver. E há os algozes e vítimas,
empresários e patrocinadores que levam milhões.
Depois desta,
fica então a reflexão, os milhões de espectadores destas brigas talvez não
tinham pensando. Mas, nossos octógonos de UFC e MMA são mesmo nossos coliseus
do Brasil e da hipermodernidade. Isto porque somos humanos, racionais , dotados
de inteligência , às vezes propagamos a paz e condenamos a tortura, os crimes
impunes, a violência contra a mulher etc. Já imaginou que hipocrisia! Só mesmo
no Brasil , ou em Las Vegas , e em países de mesmo quilate civilizatório.
João Joaquim -médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com