FÉ E CREDULIDADE...
João Joaquim
Faço com os meus leitores desta matéria uma breve digressão
sobre fé e credulidade. O que vem a ser credulidade ? disposição
consciente e voluntária das pessoas em acreditar em afirmações, ideias e
teorias sem uma comprovação fáctica ou científica desses conceitos.
Trata-se de uma constatação não exclusiva do povo
brasileiro, mas uma inclinação inerente do gênero humano. São vários os fatores
responsáveis pela crença do indivíduo no que lhe é comunicado como “verdadeiro
e real”. Entre os indutores desta tendência temos a escolaridade, a cultura,
sua vivência mística(religiosa), o meio sóciofamiliar do qual faz parte,
vivências pessoal e familiar dentre outros.
Um componente que julgo de grande relevo na crença das
pessoas é o comunicador(interlocutor) da ideia, da “verdade” que se quer vender
e passar ao outro.
Na história da importância do interlocutor, no agente da
comunicação e seu peso na venda e transmissão de uma ideia eu vou buscar um
grande exemplo na filosofia ocidental. Na Grécia antiga, dentre os gigantes
sábios da época (Platão, Sócrates, Aristóteles), havia um classe de filósofos
chamados sofistas. Os mais célebres foram Górgias e Protágoras. Os verbetes
sofisma, sofismar, sofisticação tem a etimologia no termo sofista( do grego,
sábio, impostor).
O que faziam os sofistas? Nada mais do que a arte da
retórica, as técnicas da persuasão e do convencimento. São considerados os
primeiros advogados da História. Eram os magos da oratória. Os políticos
corruptos e demagogos daquela época tinham os sofistas como mestres da
propaganda e do marketing. Alguma semelhança com nossos governantes e marqueteiros
políticos de agora? Não se trata de mera coincidência!
Mas, saindo da História e voltando ao meio social à nossa
volta, ao vulgo, às pessoas comuns; menciono ocorrências muito vistas do
quanto as pessoas têm a aptidão em acreditar em factóides, em teorias, em
fabulações ou conceitos fabulosos e falaciosos.
Na seara mística volta e meia temos relatos por exemplo de
aparição de santos, da virgem Maria e outros “milagres” pela fervorosa fé das
pessoas. Não se quer negar que haja milagres. A biologia mostra muitos
prodígios ; entretanto com a neutralidade divina. A vida em si já é um
milagre. Outros dois agentes de importância capital na credulidade das pessoas
são a fama (celebridade) de quem diz (anuncia) um fato e os meios de
comunicação. Os recursos televisivos e virtuais de hoje se tornaram os
instrumentos mágicos da comunicação. A televisão noticiou vira quase uma regra,
uma sentença infalível. Trata-se de simbiose mágica no convencimento das
pessoas menos críticas e suscetíveis a estes recursos de comunicação. Já
cinzelando o fecho do tema eu pago algumas sardinhas para minha brasa. Na
esfera da saúde quantas pessoas ainda não acreditam em berinjela ou limão para
o colesterol, em alho e cebola para o coração, em cura de hepatite com banho de
picão, ou pepino para emagrecer?
Basta que Anas e Marias e outros atores e atrizes
midiáticos e globais o “façam” ou anunciem em seus programas de muita
audiência. “Podes crer”.
João Joaquim d médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com