MEDICINA PROFISSÃO ...
NOBREZA E SACERDÓCIO NA PROFISSÃO MÉDICA
Todas as profissões podem ser muito, pouco ou nada
humanas na medida em que os seus agentes (profissionais) se fazem passar por
pessoas muito, pouco ou nada humanas. Pode até sugerir um paradoxo ou nonsense
esta locução “pessoa humana”. Mas, o sentido é figurado. Há indivíduos tão
maniqueístas, tão egoístas, tão autômatos nas suas relações sociais (sociais?)
que sua formação e conduta parecem ser destituídos dos atributos humanos; quais
sejam a fraternidade, a gentileza, o respeito ao outro (ou diferente), a
compaixão, a humildade; enfim sem tantos e quantos sentimentos e
virtudes, marcas maiores de nossa humanidade.
Eu vou buscar o exemplo onde eu atuo, a medicina, pela
vivência e experiência de três décadas. A medicina representa um campo de
atuação, onde os profissionais que a escolhem deveriam fazê-lo por absoluta
vocação e sacerdócio. É difícil fazer um estudo estatístico sobre o motivo
desta escolha. Eu nunca vi alguma pesquisa a este respeito. Contudo, de forma
empírica e por observação, posso afirmar com muita convicção que muitos médicos
fizeram esta opção profissional levando em conta outros quesitos que não o
vocacional.
Sem dúvida que o trabalho do médico ainda é revestido de
muito glamour, de muita distinção social. Basta lembrar que por uma questão
cultural, médico e advogado são chamados de doutor sem de fato deter esta
formação acadêmica. Isto demonstra o quanto a sociedade cultua uma enorme
admiração e respeito pelo médico. Esta, sem dúvida, constitui um dos motivos de
a medicina ser ainda uma das profissões mais procurada por nossa juventude.
Nos quesitos remuneração e retorno financeiro duas
considerações a fazer. Em se tratando de serviço público, médico é tratado e
pago como outro profissional qualquer. Para os gestores públicos, saúde e
educação não geram muita visibilidade para o patrão (governo), não trazem
muitos votos. Portanto, são profissões pouco valorizadas pelos políticos.
No âmbito privado o retorno financeiro vai depender da
especialidade escolhida e qualificação profissional. Se o médico tiver uma
ótima formação ética e técnico-científica em por exemplo cirurgia plástica,
oftalmologia ou em exames de imagem de ponta, com certeza ele será muito bem
remunerado na profissão.
Reporto-me à profissão como uma vocação e sacerdócio. Das
várias profissões humanistas, eu tenho a medicina como a de maior relevo e
nobreza. Basta realçar que ela envolve uma missão do cuidado, do amparo, da
compaixão, do lenitivo, do alívio da dor, do consolo e da cura. Nada aproxima
mais o médico de Deus do que dar saúde a outro homem, dizia Cícero (filósofo
romano).
Independentemente de ter uma remuneração digna e justa o
médico deve atender de forma ética e científica a todo paciente sob sua
orientação; não importam os atributos físicos ou cívicos e sociais dessa
pessoa. O compromisso maior do profissional de saúde deve ser com a saúde e
vida do paciente. O bom médico nunca deve se considerar um heroi ou semideus ,
pelos seus feitos em remediar, aliviar a dor ou salvar o paciente. Vaidade e
vedetismo são vícios de caráter que não devem compor a postura
profissional. A relação médico/paciente deve ser pautada sempre na cumplicidade
e confiança mútua. A natureza e fisiologia de cada pessoa são grandes
aliadas em qualquer tratamento, e elas se revigoram nesta relação de confiança
e respeito.
Eu costumo, sempre que inquirido, dizer que me considero um
médico privilegiado e abençoado por Deus e pelo destino. Sou pago para fazer o
bem e ajudar da melhor forma possível os melhores pacientes, cercados dos
melhores estudantes e dos melhores pares de profissão. Isto porque trabalho em
um dos hospitais universitários dos mais humanizados de Goiás. O Hospital das
Clínicas da UFG. Se ali carece de mais atenção dos gestores de saúde, de mais
conforto na estrutura física e equipamentos médicos, não faltam o empenho, a
dedicação, o amor , a melhor, a mais humana e comprovada qualificação
profissional e ética de todos os membros das equipes de saúde.
João Joaquim médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com