VIRTUAL E SEM VIRTUDES
VIRTUAL E SEM VIRTUDES
João
Joaquim
Geração virtual e sem virtudes. É proibido proibir! Tudo pode!
As famílias não têm mais o direito e o dever de
impor limites e exercer sua autoridade sobre os filhos sem a contestação e
rebeldia dos menores.
As assertivas e expressões no preâmbulo desta matéria são truísmos ou verdades banais
que se podem constatar nas relações de nosso dia-a-dia . Sejam uma relação
intra-familiar de pais e filhos ou de alunos e professores.
Eu prenuncio que estamos caminhando para um estágio perigoso
e degradante das relações dos pais com seus filhos, das escolas com os alunos(
professor/aluno), notadamente no ensino fundamental de 1º e 2º graus.
Considerando que a educação é a base de toda forma de relação entre os humanos;
e isto vai desaguar em todas as formas
do exercício de cidadania e civilidade.
Vejo tudo como questões sérias, de causa multifatorial.
Todavia , penso que as famílias têm dívidas e mais dívidas nos cartórios de meu
protesto sobre as origens de tantos descaminhos pelos quais vêm trafegando
nossas crianças e jovens. E não são poucos estes desvios. O mundo e a vida vêm se
constituindo em verdadeiros labirintos do mal, pelos quais estamos todos nos
perdendo. Ainda não estamos perdidos, mas à beira do precipício.
Pais e educadores estão passando por um processo de distração
. A maioria das pessoas se esforçam, gastam , ralam na pura e simples criação
dos filhos. Criação e maturação se procede com a cria de qualquer animal não
humano. Cachorro, macaco, bezerro, gato por exemplo. Com estes fica até mais
fácil porque eles não exigem smartphones, tablets, shoppings, comida cara,
roupas de grife e mesadas.
Qual tem sido o sonho de consumo de muitos casais de hoje?
Ter filhos. Muitos pais têm até múltiplos filhos; realidade comum pela carência
de planejamento familiar. Fruto também da irresponsabilidade dos próprios casais ou namorados
e omissão do Estado com políticas de
orientação sobre gestação e ônus na educação dos filhos. Trata-se de matéria séria a exigir uma
crônica específica.
Como afirmado , criação e educação são termos bem distintos. Como vem se
caracterizando a “educação” que os pais têm dado aos filhos desde a idade das
fraldas e chupetas ? Reproduzo minhas
afirmativas iniciais: tudo pode, é
proibido proibir, não se pode dizer não. Os pequenos não parecem ter mais
limites que tinham os pais e avós. O medo e reserva dos nãos e dos limites têm
sido a marca na criação dos filhos destes tempos pós-modernos. Educar vai muito
além da pura e simples satisfação instintiva e material dos pequenos.
Tomo de empréstimo palavras da psicanalista Luciene Godoy (
seguidora das teorias de Lacan). Estamos vivendo a era do gozo. Noutros termos
, todos , inclusive crianças e adolescentes, precisamos de fruir e ter acesso a
tudo que a tribo global nos oferece. Aqui entra tudo mesmo. Desde a liberdade (
ou libertinagem) de ação e comportamento até a aquisição que o mundo midiático e consumista-capitalista nos
indicar como a bola da vez.
Cultura, boa formação escolar, ética , moral e cidadania
construtiva e participativa têm sido bens bregas e obsoletos. São coisas da
época pré-digital e pré-internet.
Entre os bens descartáveis e alienantes do momento temos os
objetos digitais e de informática. Todos têm que estar conectados ao que
recomenda a galera, a tribo global, o oceano de futilidades e fofocas do dia.
As crianças desde cedo já têm sido apresentadas a essas
coisas das telinhas mágicas. Muito cedo, muito antes de ir para as escolas elas
já são inseridas e conectadas às mídias digitais. Calcula-se que uma crianças
de 6 ou 7 anos , antes de iniciar a
alfabetização de fato, já tenha assistido cerca de 5000 horas de televisão, videogames
e internet. Já imaginou o choque cultural quando esta criança tiver que
manusear, o lápis de cor, o papel, os primeiros livros ? Dá trabalho, não ?
A internet é um mundo visual e virtual sem volta. Todos estão
plugados e on-line. Ninguém mais fala com ninguém. Repiso os termos: as famílias, os pais, os educadores e
responsáveis pelas nossas crianças estão distraídos. Onde isso vai parar não se
sabe.
João Joaquim médico e
cronista DM – joaomedicina.ufg@gmail.com