VERDADES DE ONTEM , MENTIRAS DE HOJE
João Joaquim
Olhando e lendo a história de tudo nesse mundo e em nossas vidas nos damos conta de como muitas verdades e versões são temporais e com a evolução dos conhecimentos se tornam mentiras tolas e, as vezes, até cômicas. É o caso por exemplo da teoria defendida pela antiga igreja católica do geocentrismo ( terra como centro do universo). Esta era uma verdade tão arraigada até o século XVI que muitos defensores do contrário( heliocentrismo) foram condenados à pena de morte na fogueira pela “santa inquisição”. Giordono Bruno foi uma dessas vítimas porque não se retratou de suas idéias. Galileu Galilei trocou a vida por renunciar a sua teoria do heliocentrismo. Mas, antes disso foi preso e quase virou carvão. Ele trocou suas convicções pela vida. Não foi uma má idéia porque a vida é preciosa.
Em uma sinóptica digressão pelas ciências médicas vamos relembrar alguns conceitos antigos que de verdades se tornaram mentiras hoje. Ao fazer um paralelo com aquilo que acreditavam os cientistas da época e hoje, chegam a ser pitorescas e anedóticas as crenças e convicções daqueles tempos da idade média. Como de muitos sabido, Hipócrates foi um grande filósofo grego e considerado o primeiro médico com registros oficiais, daí ter o título benemérito de pai da medicina. Hipócrates foi e continua sendo uma figura emblemática para a classe médica. Uma mostra de sua importância é o juramento escrito por ele e que é repetido e juramentado pela categoria até hoje. O raro é o cumprimento de seus preceitos éticos, cujo teor tem um sentido muito humanístico e acolhedor com o doente.
Vamos a alguns exemplos de conhecimentos ou crenças de antigamente e que hoje caem na categoria do exótico, do charlatanismo ,do gênero pitoresco e engraçado. Eu começo por uma doença grave e epidêmica de regiões tropicais como África e norte do Brasil, a malária. Trata-se de uma infecção causada por protozoários do gênero plasmodium e transmitida pela picada de um mosquito do tipo anófeles. Conhecida dos asiáticos desde o século VI a.C, admitia-se que ela tinha um nexo causal com condições insalubres de pântanos e água estagnada. Locais onde havia putrefação de material orgânico e exalação de mau cheiro. Dessa crença da relação etiológica com um ar pútrido e fétido surgiu o nome da doença, “mal aire”, mala aria (mal ar), malária.
Epilepsia. Duas curiosidades sobre esta doença neurológica. Existem várias formas. A principal, também conhecida por grande mal se caracteriza por um desmaio súbito e crise convulsiva. Esta convulsão representa uma cena impactante para as pessoas comuns. O indivíduo além da perda de consciência, faz contrações musculares fortes, salivação, trava os dentes (trismo), tem liberação de esfíncteres (urinação e defecção). O que pensavam a sociedade, curandeiros e até médicos da antiguidade? Havia uma crença que essas crises eram uma possessão demoníaca. Agora imagina o quanto de discriminação e segregação social sofria um portador dessa forma de epilepsia; que hoje, se sabe muito bem, ocorre por descargas e circuitos elétricos neuronais, e cujo tratamento é o uso de um anti-epiléptico prescrito pelo médico. Um simples comprimido diário. A segunda curiosidade da epilepsia : o nome que também recebia. Chamavam-na de mal comicial. Por ocorrer em grandes aglomerações de pessoas ( comícios eleitorais) ; o que faz sentido porque qualquer estresse agudo pode estimular a cérebro e eclodir a crise convulsiva.
Falamos do pai da medicina, o Hipócrates, no começo desta resenha e vamos fechando com ele e outro gigante da antiga medicina , Cláudio Galeno. Hipócrates tinha uma teoria muito interessante, depois encampada por Galeno, para explicar todas as doenças. Tratava-se da teoria dos quatros humores. Segundo eles o ser humano adoecia pela quebra da homeostase interna (equilíbrio) destes fluidos: a bílis amarela, a negra, o sangue e a fleuma (linfa). Segundo essa tese a ruptura da fisiologia destes compartimentos provocavam inúmeras doenças, não só orgânicas mas também psicossomáticas (era o princípio do humoralismo). Vem desse antigo princípio a idéia ou sentido que damos a humor, que pode expressar uma disposição ruim (má) ou boa (alegre) de nosso espírito. Pode-se estar de bom (alegre) humor ou colérico (irritado), de mau humor.
Agora fico aqui ruminado com meus botões e cadarços e fazendo um paralelo com a política. Já imaginou se daqui cem anos a gente descobre que o PT de hoje é a melhor opção política? Como tem muitas mentiras que depois viram verdades e vice-versa , nada é impossível!
João Joaquim
médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com