PORTA ARROMBADA
FECHADURA E CADEADO DEPOIS DA PORTA ARROMBADA
João
Joaquim
Há um ditado ou princípio popular que diz : nós só
preocupamos em colocar um cadeado ou boa fechadura na porta quando ela é
arrombada ou quando o ladrão entra na casa. Por esse e tantos outros adágios ou
provérbios pode-se avaliar o alto grau do bom senso e da inteligência das
pessoas, mesmo aquelas sem alta escolaridade. Fazendo uma análise e
interpretação deste princípio do cadeado depois da porta arrombada entramos no
campo da imprevidência do ser humano frente a toda forma de ameaça, risco e
prejuízo.
E aqui nesta mesma perspectiva eu puxo um outro senso
popular que tem tudo a ver com a falta de prevenção da pessoas. Refiro-me à
reação das pessoas em perceber o valor de algum bem, de algum conforto na
ausência, falta ou perda deste bem ou conforto. Já de pronto eu cito alguns
exemplos da cultura vulgar para realçar esta realidade. Vamos tomar alguns
serviços básicos do nosso dia-a-dia. Na interrupção do fornecimento de
água, energia elétrica, sinal telefônico etc. De pronto sentimos aquele
impacto, nos exasperamos, nos praguejamos e então a ficha cai; o quanto
são importantes estes serviços para a nossa qualidade de vida, nossa segurança
e conforto. Tanto assim que normalizado o problema (luz, água, sinal
telefônico), todos soltamos um altissonante uau! quanta alegria e
felicidade reconquistadas.
Mas, o porque de o ser humano viver de forma
desacautelada e não preventiva ? Ao todo e ao certo não se tem
muitas respostas. Como muitas perguntas em saúde ou do comportamento ficamos na
seara das conjecturas. De todo modo isto tem sido motivo de estudos
da psicologia, sociologia e psiquiatria por exemplo.
As atitudes do ser humano em viver e tocar a vida
abstraído dos riscos e ameaças que o cercam é instigante e de
intrigar aos estudiosos do índole , da personalidade, do caráter , do modus
vivendi do gênero humano . É o homem em sua jornada ; seja na sua rotina
no trabalho, no lazer, no trânsito; enfim em toda a sua dinâmica de relação com
o mundo, com o meio ecológico e com as pessoas `a sua volta.
Poder-se-ia ficar aqui descrevendo laudas e laudas
listando as inúmeras atitudes dos indivíduos relativas ao seu desleixo,
descuido, enfim ao seu jeito de viver de forma imprevidente. Mas, vamos a
seguir ilustrar algumas condutas que bem expressam esta tendência que vai além
da clássica solução do bom cadeado ou boa fechadura depois do prejuízo do
arrombamento da porta e visita do ladrão.
Podemos pegar os próprios acidentes ou sinistros pessoais
ou de trânsito. Ocorrido o imprevisto ou fatalidade, o indivíduo se dá conta de
que daí para frente é importante fazer um seguro de saúde e de vida (ou de
morte). Penso ser muito difícil alguém não ter tido uma questão pessoal ou
familiar desta natureza, eu pessoalmente tenho diversos exemplos na
família.
No quesito acidentes domésticos então a sociedade anda
repleta de tais casos. Quantas fraturas ósseas de idosos, queimaduras de
adultos e crianças nos lares por falta de medidas de segurança simples,
às quais temos acesso e informação diariamente. Trata-se do velho e recorrente
achismo de que “ comigo isso não vai ocorrer. Só que uma hora acontece e aí se
toma, tardiamente, as providências e prevenção. De todo modo como expressa
o dístico da bandeira de Minas, antes tarde do que nunca (“ Libertas qual será
tamem” , liberdade ainda que tardia). Imitando este lema, prevenção ainda que
tardia. Na área de finanças e economia
então o brasileiro é notório em desleixo e falta de planejamento. Aliás, a
invenção do cartão de crédito e cheque especial foi para explorar este lado
imprevidente e irresponsável das pessoas. Muitos gastam além das
possibilidades, depois se endividam e não sabem como sair do efeito dominó das
dívidas. Por isso o grande número de calotes, inadimplência e cheques sem
fundos no mercado. Trata-se da forma mais desonesta e inconsequente de
prevenção. Como uma pessoa pode adquirir um bem, um serviço sem dispor de
dinheiro para tais despesas? Tal prática beira a demência! Eu devo, não nego ,
mas não tenho como pagar.
Agora no arremate de pontuais considerações sobre tão
vasta temática eu pego um campo onde somos campeões em falta de prevenção, em
previdência. Em tempo: até nosso vetusto INSS é imprevidente com seus
segurados. Como sofrem as pessoas que dependem da previdência social. Somos
mestres no descuido com a saúde. Hoje depender de INSS e SUS, além de
susto é risco de morte .
No estilo pingue-pongue vamos a outros exemplos :
passei a vida toda em orgias alimentares, cheguei à obesidade mórbida. Agora
vou fazer dieta e cirurgia bariátrica. Aí vem os efeitos sanfona do emagrece,
engorda , recaídas, muita vez, se engorda mais do que antes da cirurgia.
Cirurgia , aliás, de grande porte, com seus riscos e mordidades no
pós-operatório.
Levei uma vida sedentária, fumando e bebendo. Colesterol
e açúcar no sangue sempre altos. Tive um infarto. Pronto, agora eu preciso me
tratar, me reabilitar e exercitar, porque o bicho ( no caso novo infarto) pode
me pegar de novo .
Check-up e exames preventivos periódicos para que? Eu não
sinto nada. Se acometido por um câncer corriqueiro, tão preventivo , de mama,
próstata, de útero, de aparelho digestivo; bate logo o desespero. Meu Deus! Por
que logo eu? Não sentia nada, agora eu vou me tratar; e vem então a via crucis
de quimioterapia, radioterapia, sequelas . Tudo poderia ter sido evitado.
E então eu finalizo e deixo uma pergunta: Se até com o
bem mais precioso, a saúde, o gênero humano é esculachado e desprevenido
com o que mais ele vai se antecipar e ser previdente? Só mesmo os humanos
racionais e inteligentes . Tínhamos que olhar mais e aprender com a natureza.
Quem sabe as abelhas e as formigas poderiam nos dar alguns conselhos, algumas
lições previdenciárias; com a palavra estes insetos tão organizados e
preventivos. A gente pode até cantar muito e divertir como as cigarras,
mas aprender um pouco a se prevenir como fazem por exemplo as saúvas e mesmo as
formiguinhas-doceiras .
João Joaquim
médico- cronista DM joaomedicina.ufg@gmail.com