PROPAGANDA E....
PROPAGANDA E PUDICIDADE
João Joaquim
Hoje vivemos uma época em
que nunca se viu tanto destaque como a publicidade. O mundo industrial tem
muita publicidade, o comércio idem, as artes idem, o esporte idem, a cultura
idem. As pessoas mais ainda . O que são as pessoas hoje que não um conjunto de
propaganda e publicidade? Para robustecer minhas proposições iniciais, a
internet, as redes sociais, as plataformas digitais estão aí para reforço dessa
tendência que parece não ter volta. Cada vez mais o ser humano gosta de se
exibir, de se mostrar, de se pavonear, de estar em evidência.
Lembra-me aqui a origem da
publicidade ou propaganda, são termos equânimes e de mesmo significado.
Conta-se, seja lenda ou realidade, mas faz todo o sentido e com nexo lógico,
que esta arte de se mostrar, de se exibir começou com o estudo de um
veterinário ornitólogo. Shizitu Viguti, um indiano de Nova Deli , nos
primórdios do século VIII a.C, dedicava-se ao estudo dos pavões. Todos sabemos
que são aves galináceas de grande porte. O macho tem plumagem brilhante azul ou
verde e imensas penas caudais que se abrem formando ocelos iridescentes;
fazendo um conjunto muito harmonioso de grande beleza visual. Ao cortejar
a fêmea o pavão exibe todos esses adereços. Quanto mais bela e colorida for
essa exibição mais chance de ser aceito e acasalar com a povoa à sua volta.
O que estudou o ornitólogo o
professor Viguti ? Ele fez um estudo observacional e estatístico. As aves
machos que tinham melhor exibição, mais bela plumagem e mais visibilidade eram
as que mais se acasalavam e deixavam portanto mais descendentes. O resultado
dessa bela exibição , de toda essa estratégia de se apresentar às fêmeas era a
garantia da perpetuação dos genes e da espécie . Pronto,
nasceu daí a publicidade, a propaganda e estamos no estágio em que nos encontramos.
Estamos na era da visibilidade, da publicidade, da comunicação rápida e
instantânea. Tudo é exibição .
Aliás, justiça ainda seja feita à
contribuição do pavão nos princípios da arte de se mostrar, de se vender
(publicidade). Da participação histórica e milenar dessa belíssima e exótica
ave, surgiram as palavras derivadas: pavonáceo, pavonada, pavonesco. O
verbo pavonear, caminhar ou desfilar com galantaria e soberba. Mostrar, exibir,
ostentar, enfeitar-se, ataviar-se à maneira dos pavões .
Hoje podemos dividir a
publicidade em dois ramos principais, aquele voltado para o mundo empresarial
ou pessoa jurídica, e outro aplicado à pessoa física. Assim fica fácil o seu
entendimento. A publicidade pessoa jurídica pode ser pública ou privada. Pode-se
ver que todo governo tem um órgão ou ministério das comunicações ou propaganda.
Aqui haja dinheiro. Nessa empreitada tem aquela exorbitância monetária
que o governo faz como obrigação de quem está no poder e deveria ficar só
nisso. Mas, tem os gastos com a chamada propaganda enganosa, maniqueísta
e mentirosa. Nesse imbróglio tem ainda a cota para a corrupção, que no caso
particular do Brasil é enorme!
A publicidade privada envolve a
indústria e o comércio. Aqui leva vantagem quem melhor se maquiar, quem melhor
se exibir, quem melhor impressionar os sonhos e desejos de gasto do consumidor.
É a mesma estratégia e habilidade do pavão em atrair a pavoa.
No campo da publicidade
pessoal se torna impossível, nos dias de hoje, dissociá-la da internet e das
redes sociais. Nesses tempos virtuais, com tantos recursos digitais e de mídia
houve uma mudança radical nos conceitos de intimidade, privacidade e sigilo
pessoal. Na verdade as pessoas se comportam(na internet e telefone celular) como se tivessem
perdido o senso de pudor, recato e decência. Os (as) internautas da grande rede
perderam a vergonha de se exibirem ou mostrar seus atributos físicos e
pessoais. Ninguém mais se cora ou se vexa em mostrar os seus atributos físicos
e a anatomia íntima seja em fotos ou vídeos. Parece que os glúteos, coxas,
bumbuns e seios turbinados a silicone valem mais do que os dotes intelectuais e
culturais. É o predomínio dos atributos do mundo da beleza e da estética.
Se na origem e nos objetivos
principais a propaganda se destina a valorizar o que se mostra, na internet as
pessoas têm se mostrado o contrário desses desígnios. Há como que uma perversão
e degradação dos valores morais, da ética e da intimidade daqueles que andam
embriagados e entretidos com a exibição e exposição no mundo virtual. Não
contando ainda que os dados civis, identidade, informações pessoais ficam à
mercê para quem os queira usar de forma criminosa.
Parece, enfim, que as pessoas se
encontram perdidas, e em que pese estar fazendo uma publicidade pessoal, estão
na verdade vulgarizando seu nome, o respeito da família e jogando a própria
honra e a sua própria dignidade na vala comum dos indignos e no lixo. Olha
quanto perigo estamos vivendo hoje com a empolgação e embriaguez dos encantos e
armadilhas do mundo virtual e da Internet!
João Joaquim médico e
articulista do DM joaomedicina.ufg@gmail.com