DEUS IMORTAL...
DEUS NÃO
ESTÁ MORTO
João Joaquim
Um dia desses estava eu sapeando (ou
zapeando) pelos canais de TV e deparei-me com uma entrevista. Eu como gosto de
ouvir e ver as ideias dos outros me detive naquele canal. Era um pai com a
fisionomia plangente e lacrimosa. Uma expressão de dor emocional. Foi condoído para mim
aquele momento. Esse pai havia perdido o filho em um gravíssimo acidente de
carro, cujas causas já se sabem foram alta velocidade e falta dos cintos de
segurança. Uma ocorrência sinistra mas, rotineira nas cidades e rodovias de
nosso Brasil (60.000 mortos/ano).
Os meus leitores cativos e outros fortuitos já
devem estar pensando: lá vem de novo uma matéria e esse cronista a falar de
vítimas de trânsito. De fato, assim pensando, e até o
que fazem nossas autoridades; quando morre uma pessoa se torna uma
tragédia , mas muitos de forma paulatina aqui e acolá acabam virando uma
estatística da polícia rodoviária e do IBGE ao final de cada ano.
Entretanto , o que me motiva nessa fala
da dor do pai pela trágica morte do filho foi sua fá que agora estava sendo
colocada em xeque. Confessou o pai: todos os dias quando o filho saia para seus
compromissos profissionais, ele (pai) fazia orações e pedia proteção divina
para o filho em suas lides e atividades diárias. Ele sempre tinha temor, medo
mesmo quando o filho estava nas estradas. Diante do fim tão imprevisto
e doloroso do filho, esse pai nesse tormentoso transe indagou do repórter “será
que Deus existe”?
Veja, meus leitores e leitoras, que dúvida das mais
emblemáticas de parte da humanidade. E para contextualizar tão
insigne e universal pergunta eu rememoro outras tragédias que
abateram sobre a humanidade e que suscitaram as mesmas dúvidas. Como exemplos o
terremoto de Lisboa em 1755 e mais recentemente o holocausto do nazismo
(1938-45) e o terremoto sobre o miserável Haiti em 2010. Só aqui foram cerca de
300.000 mortos .
Eu me lembro de literaturas jornalística e de
filosofia, quando diversas personalidades desses ramos do conhecimento fizeram
as mesmas indagações. Os horrores e sofrimento humano com o
nazifascismo foram tamanhos que muitos questionaram da misericórdia
e da existência de Deus. Eu acredito em outras razões que escapam ao nosso
entendimento .
Acreditar ou não em Deus é questão de pura
convicção ou intuição pessoal. Diante do infortúnio, da
dor, das tragédias e dos cataclismos e de outras tsunamis , penso ser
compreensível questionar a existência de uma força cósmica superior, um ser
onipotente e ubíquo a que chamamos de Deus.
Vamos imaginar tal questão em outro viés, mas no
mesmo contexto. E a explicação da existência humana? Ela também tem dois polos
de discussão. Das duas hipóteses, para quem quer que sejam, uma é verdadeira. Independentemente
da tese verdadeira( criacionista ou evolucionista), temos como certo e de
consenso que o homem é uma espécie diferenciada, dotada de razão e para os
crentes em Deus, com a dualidade corpo e alma.
Um outro atributo sublime de que somos dotados é o
chamado livre-arbítrio. Ou seja, cada pessoa tem a plena liberdade e o poder de
agir da forma que melhor lhe aprouver. Todavia, com uma condição, que o
indivíduo tenha também a consciência do bônus ou ônus dessa
liberdade de ação. Em outros termos ( conforme outras filosofias ou
religiões) é o que se chama de lei do carma: o que vai, vem. Num dito
mais coloquial, quem planta vento certamente colherá tempestade. Quem planta
paz e calmaria certamente colherá os frutos da bonança. Quem planta prudência e
os cuidados elementares pela vida, certamente terá uma existência longeva e saudável
.
Clareando mais a tese acima exposta. Deus, não pode
estar ao mesmo tempo em todos os lugares, mostrando o melhor caminho, a
velocidade mais segura nos automóveis para os motoristas infratores. Ele também
não pode evitar as fúrias da natureza contra as ações predatórias do homem em
seu livre-arbítrio. Hoje os temas da moda são os efeitos dos desmatamentos predatórios
, o efeito estufa, o impacto do ozônio, o derretimento das geleiras, o
esgotamento da água potável , a desertificação da terra, a extinção de muitas espécies
animais, etc. Culpa de quem ? Do homem no seu livre-arbítrio. Daqui a pouco
corre-se até o risco da extinção da mandioca, “ uma invenção brasileira”(
presidente Dilma Rousseff ).
Deus não pode impedir que um drogadito ou
alcoólatra saia ao volante e morra ou mate alguém no asfalto. Ele assume as
consequências sinistras na sua infinita liberdade de ação. Um indivíduo que
passa décadas no vicio do álcool tem alto risco de morrer de cirrose hepática
ou pancreatite crônica , todo fumante assume o risco de morrer de câncer de
pulmão . Deus não proíbe ninguém da embriaguez , da dragadição , do tabagismo,
de se desrespeitar as leis mais simplórias de segurança do trânsito. É o
exercício dessa prerrogativa humana do livre-arbítrio , ainda que esta
liberdade de poder e de ação seja para o bem ou para o mal. A escolha é de cada
um.
Por isso, assim pensa este escriba, que cada um
deve estar ciente de sua parte e seu dever em todo gesto e atitude. Deus tem
outras coisas mais sérias para cuidar. A nós nos foi delegado fazer o que for possível
. Para Deus deixemos o impossível e os milagres.
João Joaquim de
Oliveira médico – articulista do DM joaomedicina.ufg@gmail.com