CPI DE CORRUPÇÃO
Diálogos
República(veis) de Uma CPI de Corrupção
João
Joaquim
A sessão é
aberta e o presidente dirige-se aos membros da comissão
-Srs
deputados, vamos dar início aos nossos trabalhos. Ops, novidade, porque
primeiro é segunda feira, depois quem diz que parlamentar trabalha? Mas,
deixemos o nosso representante ir em frente.
- Todos
assentados e de preferência com os seus celulares desligados ou no silencioso.
-O depoente
intimado tem a permissão para se identificar e se apresentar.
Iniciado o
interrogatório, tudo volta como dantes no plenário de burburinhos e cochichos.
Em tempo: uma, comissão parlamentar de inquérito(CPI) funciona assim: tem o
presidente, o relator, o vice-presidente, o depoente e seu constituído
advogado. As sessões podem ser públicas, com órgãos de imprensa
presentes, ou fechada e sigilosa. Temos ainda que pode o depoente falar ou
ficar mudo. Para tanto basta que ele tenha um “habeas-corpus” ( deveria se
chamar habeas-bucca) de responder ou não o que lhe for perguntado. Pode parecer
esdrúxulo mas aqui no Brasil e alhures é assim que funciona e regem as leis
e a constituição.
A sessão ora
aqui relatada era aberta ao público e à imprensa, por isto podia ser vista e
ouvida porque também tinham na cobertura radio e televisão. O presidente está
com a palavra e dirige-se ao primeiro parlamentar inscrito.
- Deputado
X1, vossa excelência tem a palavra durante cinco minutos para fazer as
interpelações que julgar necessárias ao depoente. O nosso representante se
ajeita na cadeira, faz uma assuada nas narinas, limpa o bigode, posiciona
frontalmente o microfone e começa então o ritual das interrogações.
A
essência e natureza dessas oitivas são tidas e sabidas
sem importância porque tudo se encerra em um diz-que-não-diz e o arremate ou
epílogo como o de todas outras CPIs se dá em um
plenário de pizzaria. No plenário de uma dessas comissões , como de
resto em muitas outras sessões do congresso é que se passam muitos
acontecimentos mais rentáveis que nem de longe sonha nossa vã e
curiosa Filosofia.
Mas, como
estamos no século da informática e dos recursos digitais vamos aos adendos a
quem não é muito afeito às redes sociais ( face, whats...).
Deputado X2
ao celular -Alô! Aqui quem fala é o X2.
-“Pois não
deputado, aqui é o Zé Gamela (capataz). Sabe aquele lote de nelore que tava pra
chegar? Chegou, das três mil cabeças da boiada, só umas três que teve problema
no transporte e foram abatidas. No mais tá tudo nos conformes”.
- Tá bom
gamela! Escuta! aquele criador de cavalos pegou os dez mangas-largas
que me comprou?
- Pegou sim
dr deputado. Ele deixou aqui um chequinho comigo. Tudo conforme o combinado, no
valor de dez mil (entenda-se milhões). Este cheque eu posso depositar naquela
sua conta da caixa?
- Não
Gamela, este você deposita na conta do Silva Naranga( entenda-se citricultor) ,
meu cunhado que você já conhece.
A sessão tem
curso e muitos dos membros da referida comissão comportam-se como se nada a
eles dissesse respeito. Uns coçam as caspas da cabeça, outros consultam e-mails
e o whats, outros coçam algumas partes mais pudendas e
continuam naquele mundinho à margem da realidade brasilis
e dos embates com o depoente da sessão cepeitiana .
O deputado
X3 parece no território da lua, todo refestelado e bem repoltreado em sua
cadeira. Como seus pares, passa em revista as últimas notícias no i-Phone. Eis
que chega uma chamada
-Alô.
Oi meu bem, só pra lhe falar que meu carro chegou. Sabe aquele meu
Audi 2,0 de 10.000 km rodados, o gerente pegou ele na troca. Eu
gostei mesmo foi da BMV. Ela é mais confortável e melhor de levar as crianças à
escola. Dei um cheque de nossa conta, foram só 330 de troco (entenda-se mil).
-Tá tudo
certo amor, o importante é seu gosto.
Já
passam das 19 horas e alguns inquiridores da sessão já se foram
embora.
O deputado
X4 está de cochichos com o colega do lado. X4 já teve a palavra . Aliás, foi
ele o mais breve na sua inquisição. Ele recebe uma mensagem no whats
-Você
me pega aqui às oito? Já saí do salão, estou de cabelos e unhas prontas. A
Zuleide (cabeleireira) me falou que estou chiquérrima. Eu disse pra ela que
queria ficar bonita pra você. Mas, não falei seu nome.
- Ok amor,
legal, me espera aí na porta do salão. Estou naquele mesmo carro preto chapa
branca. Me aguarde.
Como se
depreende dos diálogos no plenário de uma casa legislativa, seja em uma sessão
aberta ou fechada à imprensa, no centro ou em seus recônditos há
muitas outras coisas que não sonha a nossa mais vã ou
fútil Filosofia.