HERANÇA CANINA..
OS CACHORROS
COMO HERANÇA
João
Joaquim
Assim se
passa a História entre dois vizinhos humanos, de um lado um morador solitário ,
do outro uma viúva( “de marido”), mas na companhia de um filho gente e filhos
cachorros. Assim relata Luziano Cerbino( o sr Luzi ).
A
rotina de Maria Pancrácia Vanilina, vulgo Vani, era sempre previsível de todos.
Levantar, fazer o café, trocar água e ração dos cachorros; eram três bichos; jogar
os excrementos fora, tomar o café da manhã, dar uma ajeitada na casa e
adivinhem o passo seguinte? Isto mesmo, tudo previsível : passear, como ela
mesma referia, com os filhos quadrúpedes.
E naqueles
ligeiros encontros e despedidas, dona Vani foi pontuando-me sua biografia. Ela
tinha uns 55 anos , talvez um pouco mais posto que ela tinha dois filhos, 28 e
30 anos. Um já casado, o outro morava com a mãe. Ela ainda esperava pela
realização de ser avó.
-Dona Vani,
a senhora não cansa dessa rotina que, diga-se com efeito, não é das leves?
- Sinto-me,
tem dia, já fatigada dessa obrigação, mas preciso cuidar deles (cachorros)
porque se não for por mim ninguém faz nada pela alegria e bem-estar dos
animais.
- isto mesmo
dona Vanilina! Animais precisam de liberdade. Nós somos livres e sabemos o
quanto é bom não viver entre muros ou quatro paredes. Nós ainda podemos
sair de forma livre, sem nenhuma rédea, sem canga e sem coleira. Imagine para
uma criatura dessas de quatro patas. Não ver o sol nascer, se quer respirar o
ar mais puro da atmosfera, não ver ao menos o sol e o céu pela janela. Tudo vai
contra a natureza e o instinto da espécie. E por esse termo não hei de
esquecer-me o quanto quer bem aos bichos.
Vani era
também uma espécie de pessoa bem resolvida com a vida. Ela tinha se enviuvado
aos 32 anos e não quisera mais compromissos esponsais. Tivera alguns namorados
na viuvez, mas nunca compartilhou o mesmo teto com esses cônjuges. Para ela o
bom mesmo era ter uma vida desimpedida, ou como se diz no popular sem peias nem
meias.
- Na
verdade, seu Luzi (Luziano Cerbino) ,essa prática de ter cachorros foi herança
de meu marido. Ele tinha essas doenças de cabeça e o que alegrava o homem
era cuidar desses animais que a gente criava em casa. Depois eu mudei
para um prédio e não tive como deixar as crias pra trás.
Vani parece
que não era afeita a falar do passado do falecido. Até onde informei, ele
morreu suicidando-se. Tratamentos psiquiátricos e analíticos foram muitos.
Todos infrutíferos. Ao que sugere era um caso de transtorno de afetividade e
humor bipolar. Foi uma tragédia marcante. Como marido e pai o ex foi pessoa de
puro caráter. Fora os sintomas de cabeça e relações humanas difíceis , não
havia o menor reparo a fazer naquele homem.
- O que a
senhora pensa das pessoas que vivem em cidade grande, confinadas em restritos
apartamentos, têm tarefas de casa, precisam de trabalhar fora para ajudar no
orçamento doméstico e com tudo isso ainda criam cachorros? Afinal os pets
exigem cuidados como se gente fosse; tem médicos , ração, higiene, afeto e
muito mais.
-Eu não sei
seu Luzi . Eu só sei que depois desses meus bichos eu só quero bichos de
pelúcia. Tanto que esses, que são a segunda geração deixada pelo ex já
são castrados e quando morrerem, morreu também minha missão de cuidar de
cachorro.
- No
condomínio (continua Vani), onde moro há 15 anos, já houve brigas de vizinhos
em razão de animais. Casos houve em que até a justiça interveio para decidir
quem tinha razão. Teve um caso mais complicado com um condômino de nome Anateu
Biliário que tirou até arma para outro morador. Era um senhor já de idade
o dono dos bichos . Ele tinha dois vira-latas que choravam e latiam muito para
sair do apartamento. Depois ele deu os bichos e tudo se apaziguou.
- Olá, bom
dia dona Vani! Mais um dia com os filhos quatro patas?
- Mais uma
rotina. Amanhece o dia e eles já fazem festa, latem, sorriem porque sabem que
vão passear.
O que se
depreende é que Maria Pancrácia (Vani) era pessoa normal, boa e de muita
humanidade e lucidez. No fundo e em sumário, ficava patente que viúva de marido
e no zelo das crias do ex ela tocava a vida sem resmungar. Ao que sugere era
sua sina . Além da pensão do marido foram também deixados os bichos
como herança. Contanto o que se possa questionar nas lides diárias com
aqueles pets, ela era pessoa feliz e bem resolvida. Agosto/2015