PENSAR E FALAR
PENSAR É
LIVRE, EXPRESSAR NEM TANTO
João
Joaquim
É opinião
unânime que um dos mais nobres tributos da condição humana seja a liberdade. E
aqui é ser livre no sentido o mais amplo possível. Imaginemos a mais nobre e
primitiva dessas liberdades que é o direito de locomoção ou como se diz no
vulgo o de ir e vir. Não é sem razão que uma forma que o Estado encontrou para
punir um criminoso é com a privação da liberdade. Em termos frios e realísticos
o encarceramento de uma pessoa é mais cruel do que a pena de morte. Isto é
sobretudo verdadeiro no Brasil onde as condições dos presídios são desumanas e
degradantes. O nosso próprio ministro da justiça José Eduardo Cardoso já opinou
que preferia morrer a ser hóspede de nossas penitenciárias. São
autênticas pocilgas com um alto grau de putrefação, insalubridade e muita
indignidade à pessoa humana. Tratar qualquer delinquente de forma
degradante e desumana é se igualar aos instintos e condutas delitivas desse
próprio criminoso.
Mas, em
termos conceituais, o que é liberdade? Consultando nossos léxicos tradicionais
está lá assentado: liberdade é o poder que tem o indivíduo de decidir ou agir
conforme sua própria determinação( ou sua própria vontade). Quando buscamos a
definição por exemplo nas Ciências Jurídicas e na área constitucional temos que
a liberdade não é um poder absoluto de agir ou decidir conforme a própria
vontade do indivíduo. É o velho princípio de- meu direito termina onde começa o
direito do outro, do meu próximo e semelhante- Faz todo sentido esse
balizamento e limitação da liberdade de cada um. Imagine quanta anarquia nas
relações humanas se cada pessoa pudesse falar ou expressar o que lhe desse na
cabeça. Seria um caos com interações muito aflitivas e tensas no convívio
humano.
Carlos Ayres
Britto, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), cravou essa: “ a
liberdade de expressão é a maior expressão de liberdade”. Eis que então entra
nessa liberdade uma limitação, ou seja, eu posso até dizer o que eu determino
ou quero sobre alguém ou alguma entidade. Todavia, com uma ressalva, eu estarei
sujeito a ser interpelado judicialmente por eventuais ofensas a terceiros. São
explicações adicionais feitas pelo próprio ministro.
Tais ditames
e ressalvas previstas em lei não foram consignadas sem razão e sim concebidas
para uma convivência e coexistência harmoniosa e respeitosa entre as pessoas e
entre todos os segmentos públicos e privados da sociedade.
Há muitas
formas de liberdade que são quase absolutas. A liberdade de criação
artística por exemplo. Se formos pensar com muito rigor ainda cabe aqui alguma
ressalva. Imagine por exemplo um artista no ato de retratar alguém
(pintor-fotógrafo). Tem-se uma tela desse pintor. Uma pessoa que
porventura tenha um defeito anatômico, uma deformidade física por uma doença
mutilante ou que seja uma pessoa que não gosta de se mostrar! Certamente essa
pintura, essa obra de arte vai trazer um impacto negativo no emocional ou
bem-estar dessa personagem retratada . Veja que mesmo na criação artística o
indivíduo não poderá dizer tudo o que se passa em seus pensamentos, em sua
autodeterminação( conceito de liberdade) de pintar ou escrever tudo que
pensa. Deve haver um balizador, um limitador de expressão, no sentindo de
apaziguar interesses e sentimentos antagônicos.
O que
é saudável e construtivo nesse mundo de pessoas tão diversas é o exercício de
muitas outras virtudes e expedientes que tornem nossas vidas uma troca contínua
de conhecimentos e experiências. Assim, paralelamente ao exercício de muitas
liberdades por que não o respeito às diferenças? Por que não a cultura da
gentileza, do acolhimento ao outro? Por que não o saber ouvir sem desdém ou
subestimação as ideias e opiniões contrárias a minha? Por que não
aproveitar um pensamento, uma reflexão positiva, uma iniciativa salutar até de
um rival profissional ou político?
O que eu
quero deixar como mensagem é que ninguém é dono da verdade. Liberdade assim
como o domínio do conhecimento tem limites. Dessa forma e em nome da paz entre
as pessoas o melhor é o espírito de respeito , cooperação e compartilhamento de
valores e conhecimentos . E não perder de vista que outro bom conselho vem de
Sidarta Gautama, o Buda, o melhor caminho é o caminho do meio, o equilíbrio e
harmonia em tudo. Entre as pessoas idem.
“Quaisquer
Palavras Que Pronunciamos, Devem Ser Escolhidas Com Cuidado Porque As Pessoas
Ouvem E São Influenciadas Por Elas, Para O Bem Ou Para O Mal” (Buda).
Agosto/2015