NATUREZA E PREVENÇÃO
MENOS REMÉDIOS E AGROTÓXICOS E MAIS NATUREZA E PREVENÇÃO
João Joaquim
Hoje, ao escrever este artigo eu estou mais uma, de
tantas vezes, a avaliar a quantas anda o estado de nossa Medicina
Preventiva. Uma paciente procurou-me com um pequeno ferimento perfurante na
planta do pé. Além da assepsia e curativo de praxe, prescrevi-lhe uma
imunoglobulina e vacina anti-tetânica. Acreditem quem quiser, mas em todas os
Postos de Saúde, cantos e remansos de Goiânia não há vacina contra uma doença quase sempre
fatal, o tétano. Três doses da vacina e a pessoa está imune por 10 anos. Já imaginou
o sujeito morrer por falta de uma simples vacina, obrigação da Saúde Pública.
Faltam várias outras vacinas na Capital.
Cada vez mais eu dou razão ao notável Nelson
Rodrigues que tão bem descreveu o nosso complexo de vira-latas. Ah! no Brasil é
assim mesmo, nada tem jeito, e voltamos para a nossa zona de conforto. É a
política, a economia, a ética, a moral pública; nada pode ser mudado.
Todos vamos nos conformando e nos adaptando ao “status quo”. Somos ovelhinhas
do mesmo rebanho. Na boiada já fomos e continuamos a ser bois , parodiando Geraldo
Vandré.
Somos considerados um país emergente, integrante
dos BRICS, a 7ª economia do mundo . Entretanto , quando o assunto é saúde somos
terceiro-mundista em consumo de crack e outras drogas ilícitas, em bebidas
alcoólicas, das quais a cerveja e a cachaça as mais populares. Somos campeões
em falta de previdência , em consumo de drogas lícitas , aquelas
compradas livremente em farmácias das esquinas, em psicotrópicos com as
receitas de um médico amigo ou pirateados pela internet. Quase todas as
famílias tem alguém que usa um rivotril, um lexotan, um diazepan, um frontal,
uma paroxetina, um citalopran etc. Somos uma espécie de povo que
consome vários remédios proibidos e abolidos nos EUA e Europa( para
obesidade por exemplo) graças à fragilidade das leis e normas da vigilância sanitária
, da leniência do ministério da saúde e
Conselhos de Medicina. Somos tudo isto e muito mais. Na América Latina, não
somos os únicos . Somos uma espécie de laboratório de experimento de tudo
quanto é paliativo, curativo, embromativo, empulhativo e lucrativo de
países primeiro-mundistas.
Quando se fala em saúde, somos todos vítimas de um
sistema industrial e capitalista que visa apenas o lucro. A medicina
preventiva e todas as suas coirmãs como a homeopatia, a fitoterapia e a
medicina quântica são exemplos nesse pacote; porque elas não dão lucro, não
enriquecem as indústrias e seus empresários. São por isso pouco atrativas e
desinteressadas.
Nós somos um país e um mundo (leia um sistema
industrial e capitalista) que cuidamos e tratamos direitinho os sintomas, as
doenças e suas sequelas e consequências. As estratégias e metas ideais deveriam
ser o que? Tratar bem a saúde, o indivíduo, as crianças, as gestantes. Com que
métodos e recursos? Com o emprego de toda forma de terapia preventiva. As
vacinas e soros e muitas outras modalidades de profilaxia são apenas bons
exemplos.
O que é saúde (definição atual da OMS)? É um
conjunto harmonioso de bem estar físico, psíquico, mental, social, relacional,
ambiental, religioso e ético.
Parece até exagero, mas a corrupção e as crises
éticas vividas no Brasil são uma grave forma de doença, porque elas refletem e
contaminam todo o organismo nacional e todas as instituições públicas. Órgãos
esses que tinham a obrigação de zelar pela segurança, direitos e saúde das
pessoas. Hoje, somos um país doente, tamanhas são as angústias, medos, ameaças
e incertezas que invadiram as casas e famílias dos brasileiros(as). Como ter
saúde plena num cenário desses? Segurança pessoal, social, no emprego; a paz e
conforto de espírito encerram também em bem estar e saúde. Como ter esses
estados no Brasil de hoje ?. Estamos entrando em falência múltipla dos órgãos
públicos.
Torno à Medicina Preventiva ”stricto sensu”. Cada
dia, cada ano que passa ,somos uma humanidade doente. Nossas doenças são o
resultado daquilo que comemos, da interação com o meio ambiente, com toda forma
de alimentos e toxinas que ingerimos. Tudo saudável de que o organismo
humano precisa pode ser obtido e extraído da terra. São elementos simples.
Basta que sejam puros e sem agrotóxicos. Vitaminas, aminoácidos , proteínas etc
. Todos podem ser obtidos no cultivo da
terra, sem atitudes predatórias .
A cada dia que entro nas enfermarias e UTIs de um
hospital eu me convenço daquele axioma “ nós somos o que comemos”. São as
doenças degenerativas como as vasculares, o infarto, os derrames cerebrais, a
obesidade, o diabetes e muitas formas de câncer. Frutos e consequências de
nossa alimentação preferencial: os churrascos, as massas, as carnes
industrializadas, as gorduras saturadas e trans , os carboidratos em
excesso e bebidas como os refrigerantes e cervejas. Aliados a um estilo de vida
sedentário, temos então um pacote completo para as doenças que mais matam
no mundo, as citadas acima.
Um exemplo cristalino e robusto do estrago que faz
os alimentos da moda e o sedentarismo está, acreditem, nos próprios
animais de estimação das pessoas. Os cães e gatos que as pessoas trazem
enjaulados em casas e apartamentos (ou apertamentos) têm menos expectativa de
vida e padecem das mesmas doenças e mortes dos donos: obesidade, hipertensão, diabetes, infarto,
artrose e câncer. “ São animais tão amigos e fieis que sofrem os mesmos
males e têm as mesmas causas mortis dos amorosos donos” ( João Dhoria Vijle).
Que ironia!
Em conclusão pode-se afirmar que nosso organismo
nos fala a todos os dias através dos sintomas e doenças que nos afligem. Os
sintomas e as enfermidades são alarmes e sensores de nosso corpo e
constituem uma oportunidade de evoluirmos e refletirmos sobre a
importância da prevenção. Se os governos e a Saúde Pública pouco fazem para as
pessoas, cada um de por si pode buscar na alimentação, na natureza e no estilo
de vida estratégias e opções para um envelhecimento saudável, sem órteses e sem
próteses ; e com muito mais qualidade de vida pessoal, e menos ônus para a família e sociedade.
Out/2015
João Joaquim médico e articulista do DM