A MORTE DOS BOIS...
O SILÊNCIO DAS AUTORIDADES COM A MORTE DOS BOIS NO RIO PARÁ
João Joaquim
De quando em vez eu gosto de falar sobre os bichos. E aí dependendo de como e o que se fala, tem gente que discorda, vocifera e falta pouco nos excomungar pelo que expressamos. Trata-se muitas vezes de questão de opinião, trata-se em outro ensejo, de afirmações com fundamentos na biologia, na zoologia e também na medicina (dos humanos). Uma coisa é o diletantismo com tempero de humor e desfastio; outra coisa bem diversa é quando se fala de matéria com indícios e evidências científicas. Como médico eu tenho um profundo gosto e fundamentação, quando escrevo, sobre a chamada medicina baseada em evidências (MBE). São dados com critérios científicos, nada de achismo ou simples pitaco.
Lembra-me bem um certo artigo que escrevi cujo título era -os riscos da convivência com animais de estimação. Para quem não leu vá na busca de meu blog, www.jjoaquim.blogspot.com . Nessa matéria, eu abordo justamente quais as consequências para os humanos da proximidade entre as pessoas e seus intitulados animais de estimação. Diferente de outros brinquedos , esses amiguinhos e mimados pets , de forma inocente, simpática e irracionais que são, podem ser a fonte também ,de maneira insidiosa, lenta e imperceptível de doenças, algumas, às vezes incuráveis. Toxoplasmose, microcefalia, tuberculose, entre outras.
Desde criança em sempre tive uma relação próxima e amorável com os animais. Nascido e criado em zona rural até os 13 anos de idade, eu fazia uma interação permanente com os bichos domésticos e selvagens. Desde as galinhas com seus pintainhos até bois e cavalos. Sei bem quando uma mula empaca e, às vezes, o tombo é certo. Por sorte nunca me feri cavalgando esses animais. Já fui atacado por cachorros e guardo as cicatrizes até hoje. São instintos selvagens que os territoriais e fieis canídeos carregam de seus ancestrais. Que os cães são amigos e protetores dos donos é ponto pacifico e pronto. A diferença entre o cão e o gato é esta . O cão morre pelo dono, o gato frente a alguma ameaça é o primeiro a fugir e salvar a própria pele.
Já adulto e pré-senescente eu continuo com meus sentimentos de cuidado e proteção aos irracionais (termo que tem momento parece invertido com os humanos). Eu sempre fui um fã ardoroso de São Francisco de Assis, porquanto ele foi e é o santo protetor dos animais. Suas notas biográficas dizem que ele se dizia amigo até das formigas e plantas daninhas e as chamava de minhas irmãzinhas. No que eu o admiro de forma incondicional. Todos os animais, penso eu por intuição e convicção, foram postos no mundo como criação divina. Isto pensando no mundo macro. Agora no micro, tenho para mim que as pragas e as bactérias foram uma criação do diabo, aquele anjo decaído e das trevas que se rebelou e tudo fez para contrariar Deus, o criador do universo com suas belezas. Basta lembrar daqueles micros da tuberculose, da sífilis, da dengue, do HPV , das hepatites e da temível Aids.
Torno ,ainda, a um pouco da minha história com os bichos. Ainda recentemente, morava em um sobrado com um baita quintal. Lá tinha os pássaros livres no quintal e dois outros tipos de bichos que poucos apareciam para as pessoas. Eram as minhas minhocas (anelídeos) e escargot (caracol). Bastava chover e eles vinham à tona da terra para passear. Alguns se esticavam até à calçada e rua, eu corria lá e os recolhia para o quintal. Alguém via, fazia cara de asco com expressões de bicho nojento!
- Eu retrucava, não importa, são de estimação e os protejo e trato como se fossem meus cachorrinhos. A biologia nos informa que é um dos bichos mais antigos sobreviventes na terra, são da era paleolítica. Na França e mesmo no Brasil há pessoas que os consomem como pratos exóticos e apetitosos. Eu nunca os experimentei, mas que são carnosos , são .
Por fim, quero registrar uma tragédia que poucos jornais e TV a mencionaram, quando muito em rodapé de páginas, como algo corriqueiro e que a mim me provocou repulsa, dor e muito pesar. No dia 6 de outubro/2015, uma empresa de nome Minerva (SP) embarcou 5000(cinco mil) bois no porto de Vila do Conde, Rio Pará /Barcarena PA. Estes animais seriam transportados em condições de tortura e degradantes para frigoríficos, não se sabe para onde. No porto, no momento da partida, o navio de bandeira libanesa naufragou; 99% dos animais morreram afogados.
Além das cerca de 3000( três mil) toneladas de animais mortos, o navio, certamente sem capacidade e potência para tamanha carga, tinha também 700 toneladas de óleo diesel (petróleo), que estão presos no fundo do rio. Um ponto pacífico é que as consequências para o meio ambiente, as águas do Pará e ribeirinhos da região estão sendo e serão, por tempo não sabido, catastróficas.
A sociedade brasileira, autoridades, pessoas se condoem com os maus tratos e morte de um cãozinho, com uma ave de estimação. Algo normal e compreensível porque qualquer bichinho tem sensibilidade, emoção e dor. No porto de Barcarena PA, 5000 bois, vacas e novilhos morreram sob tortura, asfixiados e afogados enjaulados em um geringonça chamada de navio. O Brasil praticamente não tomou conhecimento desse morticínio de animais (3000 toneladas de reses estão enterradas no fundo do Rio Pará). Eu continuo triste e amolado com tanta maldade com os bichos ali mortos de forma tão cruel e degradante. Quem são os culpados? Haverá punição para tais gigantescos e odiosos maus tratos à vida animal e ao meio ambiente? Por que o silêncio dos chamados grupos protetores dos animais? Por onde andam os protetores dos cães beagle , do Instituto Royal, de São Roque- São Paulo( outubro/2013) ? Vocês que depredaram o laboratório do Royal, resgataram os cães que eram, aliás, muito bem tratados , só porque eles eram usados como cobaias. Vocês não vão protestar pelos milhares de bois mortos afogados, por questões de insegurança e maus tratos de quem os comercializa ? E os frangos que são mortos aos milhares nas granjas do Brasil, por falta de energia elétrica ? Ninguém vai protestar ?
O que vão dizer as autoridades responsáveis e os governos do estado do Pará e Federal? Por que todos silenciaram após a tragédia ? Vivemos em um mundo onde os cães domésticos são tratados como gente, pessoas no trabalho e coletivos urbanos andam como bois e bois em geral são tratados como cachorros . Quanta falta de senso humanitário e bovino . Nov/15.