Charlatas
CHARLATÕES E MAGAREFES
João Joaquim
Ao abrir esta matéria confesso estar sentindo contrariado em
fazê-la, mas a faço por princípios de
consciência e ética. Independentemente de status social ou profissão da pessoa,
imagine-se ter ciência e ser testemunha de um crime. Qualquer que seja esse
delito. Contra a vida, contra os costumes (bons costumes), contra qualquer bem
público, uma contravenção, roubo ou fraude. Não importa a sua natureza; o que
faria essa testemunha, considerando-a como gente do bem e honesta? Imagine um
médico que frauda o SUS, um plano de saúde. O advogado que treina o seu cliente
e representado a mentir diante de um juízo. Um dentista que cobra por um
serviço ou material de má qualidade! São formas de contravenções e ferimento de
morte a essa regra de respeito e convivência milenar chamada Ética.
O que faria então quem vê tais práticas ? Certamente que
denunciaria tal delinquente ou defraudador às autoridades competentes. Em assim
procedendo, essa pessoa tocaria sua vida em paz e não teria remorsos ou
peso na consciência quando por exemplo fosse dormir ou usufruir de seu repouso
, de suas férias.
E não é sem razão que os governos através dos órgãos públicos
criaram os canais de comunicação para denúncias. Que podem ser feitas de forma
anônima. Há também as ouvidorias, os disques- denúncias. Enfim, existem várias
maneiras para que a sociedade, os cidadãos ajudem no combate a tudo aquilo que
é ilícito, corrupto e criminoso. E não importa o tamanho, a posição desse fora
da lei e da ética .
Dentro desse espírito de colaboração de cada um temos a nosso
favor as tecnologias digitais. Estamos na era da informática, das redes sociais
e da telefonia móvel. Com um celular fazemos áudios, vídeos e fotos da melhor qualidade.
Os conceitos de privacidade, anonimato e clandestinidade mudaram. E são
mudanças para o bem e para o mal. Eu diria que mais para o bem. Acabou-se
aquele forte apoio no qual os desonestos e criminosos se sustentavam de fazer
tudo às ocultas e de forma clandestina. Eu lembraria até que o Brasil está
sendo reescrito e despoluído de tanta corrupção sistêmica graças às provas
obtidas através dos meios digitais.
Entre estes, os registros e áudios de ligações de celular e trocas de e-mail.
Bem vindas e santas tecnologias.
Torno a ideia primeira, o meu constrangimento em escrever
publicamente sobre tal matéria. Todavia, repriso minhas reflexões sobre o que
vou aqui denominar medicina da enganação. Que gera os seus filhotes de mesma
natureza, tipo a medicina do enriquecimento ilícito, da pirataria, do engodo,
da concorrência desleal e do puro charlatanismo moderno, aquele em que os
profissionais frequentaram faculdades e têm nas paredes dos consultórios
diplomas de nível superior.
Algum leitor poderia já inquirir, mas o que têm feito os
conselhos regionais de medicina (CRMS)? O ministério público e mesmo
outros órgãos por dever , competência e interessados em tais questões tão
sensíveis que, pode se afirmar, de relevância pública; porque também atingem a saúde
pública? Dentre esses órgãos não públicos podem ser citados planos de
saúde como unimed, saúde caixa, caixa de assistência do Banco do Brasil
entre outros de saúde suplementar.
A boa prática da medicina, aquela fundada nos critérios
tecno-científicos e ético-humanísticos tem sido uma exceção frente a tanta
enganação, marketing enganoso e charlatanismo de toda ordem. Nenhuma
especialidade parece escapar a essas más práticas profissionais ( malpraxis).
Se lá no direito temos os chicaneiros e rábulas, aqui no âmbito da saúde temos
os charlatões, os curandeiros, os tratadores, os feiticeiros, os megarefes
entre outros agentes do engano, do embuste, do logro.
São esses os epítetos com os quais podemos tratar tais
profissionais que com a cara deslavada e muita desfaçatez oferecem as mais
absurdas condutas terapêuticas a muitos “clientes” desavisados. Eu chamaria
tais profissionais de os falsos profetas da profissão, que aliás, não se
restringem a medicina. Eles infestam muitos outros ramos da saúde. Como se vê
também em outras profissões.
E como exemplos concretos tomemos estes: como acreditar num
médico que mal escuta o paciente e não o examina e lhe prescreve uma
lista de 20 ou 30 exames de sangue e tantos outros de imagens e funcionais? Que
fundamento científico existe em saber a taxa de magnésio , de selênio, ou
potássio em uma pessoa saudável, se esses elementos são flutuantes no dia a dia
e mostram taxas variadas na proporção de minha alimentação, hora a hora, dia a
dia ?
Como acreditar na capacitação técnica de um cirurgião
plástico sem no mínimo 4 ou 5 anos de especialização? Como acreditar em médicos
que recebem bônus ou propinas( percentual) em exames de laboratório ou
presentes e patrocínios da indústria farmacêutica?
Face a tais descalabros e enganações das profissões eu
conclamo e concito às vítimas ou testemunhas dessas práticas ilícitas e
nefastas! Reajamos todos em nome do bem comum.
Indignai-vos. Denunciai tais charlatões e magarefes. Para
isso existem os CRMs, o Ministério Público , as ouvidorias de SUS, dos
Planos de Saúde. Nós só tornaremos este país melhor, mais justo e ético
se todos se engajarem numa força-tarefa de mais Ética e honestidade em tudo.
Janeiro 2017.