Farra do boi
O REPULSIVO PROJETO DE VIOLÊNCIA
CONTRA OS ANIMAIS
João Joaquim
Quando a imprensa do Brasil e do
mundo mostra o recrudescimento da violência de toda ordem é natural que
muitas vozes levantam contra essa triste realidade. Não só a mesma
imprensa, em todos os níveis, mas segmentos da sociedade civil, grupos de
religiosos, de ativistas do bem, da ética e da moral clamam e bradam pela paz e
pela vida. Em que pesem tantas vozes ressoarem por uma causa tão nobre e
humanista, há um grupo de brasileiros, parcela muito significativa, que vem
atuando em sentido exatamente contrário.
O fato de que quero tratar é de todos
já conhecido, falo da controvertida prática da vaquejada. Ou seja, há pessoas
que amam a violência. Sim, porque se gostam de se divertir com o sofrimento dos
bois, das vacas e de cavalos , devem gostar de outras formas de violência.
Violência contra a vida, não importa de quem seja a vida, é violência sempre. A
dor é a mesma.
O grupo de brasileiros a que me
refiro não se compõe apenas de zé-povinho, pé-rapado, analfabetos e
descamisados. Desses também, que têm um fascínio inexplicável pela violência. O
grupo mais representativo e adeptos de tal abominação é composto de os próprios
praticantes (peões) , os donos dos animais e empresários do ramo, cuja
faturamento anual chega próximo de 600 milhões de reais/ano.
O mais esdrúxulo, asqueroso e nefasto
em tal vil projeto, não se restringe a essas pessoas comuns aludidas acima.
Muito pior do que tais ativistas, a maioria de nossos desacreditados senadores
aprovaram uma proposta de emenda constitucional (PEC) da vaquejada. Acreditem,
os nossos representantes do congresso, todos seniores (senatus, senhores
idosos), em sua maioria, aprovaram o exercício , o entretenimento , a diversão
da vaquejada.
O que se espera dos senhores
Senadores da República? De quem sempre se espera ideias maduras e
sensatas. É de fato de fazer tremer e ter repelões! Uma casa legislativa,
composta dos senis e experientes homens da república ,contrariar a constituição
e os preceitos básicos de ética, do meio ambiente, da vida e da natureza
(ecologia) e aprovar tal PEC da vaquejada.
Nossos “digníssimos e excelentes”
senadores estatuem não só contra a não violência e contra a constituição. Eles
estão contrariando o próprio supremo tribunal federal(STF) que instado sobre a
matéria já tem decisão firmada contra tal prática por ser uma autêntica atrocidade
e cultura de maus tratos aos animais. À semelhança do que é uma rinha de galo,
de cães e outros animais que têm vedação expressa e pena prevista no código
penal. Só mais um detalhe, no STF há como que um empate técnico na decisão. Ou
seja, mesmo os nossos considerados impolutos e ilibados homens da lei, alguns
deles , claro, são a favor de se divertir às custas do infortúnio, dos maus
tratos e da violência contra os animais.
Já imaginou , se eles, os animais,
tivessem o poder , o condão , a prerrogativa de se divertir às custas de
esporadas, chicotadas e ferimentos dos humanos! Isto me lembra a Revolução dos
bichos, de George Orwell.
Os curtidores, adeptos e empresários
desse execrável entretenimento se apoiam no slogan e lobby de que se trata de
uma “prática cultural”. Retórica estapafúrdia que me traz à lembrança as festas
promovidas pelos imperadores (déspotas) do império romano. Foram nos tempos do
histórico coliseu romano. Eram os circos de entretenimento do povo. Pão e circo
para a ralé, a plebe, aos domingos ,e no mais só opressão, opressão e opressão
das pessoas (romanas) no acesso aos direitos básicos como comida digna, moradia
e saúde.
Prisioneiros, condenados e
inimigos políticos dos imperadores eram jogados às feras. Leões, tigres e lobos
famintos. Os humanos ali sendo trucidados e devorados, e a turba, os adeptos,
as galerias vibrando com aquela barbárie e aquele morticínio pelas feras
esfomeadas e predadoras. Feitos de tempos das cavernas, comportamentos de
bestas-feras e outras insanidades.
Fica ao menos esse consolo e
essa dantesca justificativa, mas inqualificável e inominável : o cultivo, o
culto, a cultura da violência vem dos tempos dantescos e de eras medievais. Não
se trata, originariamente, de criação, de admissão , nem de legislação do
senado brasileiro. Este se espelha em outros tempos.
Quanto aos danos sofridos pelos
animais não remanesce dúvidas de que eles são graves, violentos e
irreversíveis. Sofrem tanto os bovinos quanto os cavalos em tais práticas. Os
ferimentos mais comuns são arrancamento dos rabos, fraturas de pernas,
rupturas de ligamentos e vasos sanguíneos, lesões de medula óssea ou espinhal e
necessidade de sacrifício dos animais pelas sequelas mutilantes . Não contando
o estresse extremo que sofrem tanto os animais e mesmo as pessoas contrárias a
esses dantescos espetáculos.
De todo modo resta uma promissora
esperança! Caso a PEC seja sancionada pela presidência da república, o STF deve
ser novamente requerido a se manifestar. E como se compõe de senhores
igualmente seniores e idosos, e mais ajuizados, porque juízes supremos que são,
novamente devem se pronunciar contra essa mal engendrada, imoral e
desumana PEC. É isso que a maioria dos brasileiros, inclusive muitos
nordestinos, esperam dos 11 ministros de nosso colendo e egrégio
STF. Todavia, não fiquemos muito otimistas porque muitas decisões,
jurisprudências e liminares são editas, aqui no Brasil, ao sabor de
movimentos de grupos populares e apelo de massas. Fevereiro/2017.