Medicina em dois tempos
A MEDICINA PRÉ INDUSTRIAL E PÓS
INTERNET
João Joaquim
Em tempos mais antigos, até meados do
século XIX ou período de início industrial ( 1830), a qualidade de vida era
muito precária. Pelo menos para 90% ou mais das pessoas. Basta lembrar algumas
atividades. Locomover por exemplo. Quando se podia viajar por mares ou rios,
havia até algum conforto e bem estar. Quando a viagem era para o interior
de um país, aqui a coisa se tornava mais árdua. Podia-se ir de transporte
ferroviário, onde houvesse, por carruagem puxada por animais (caleça, jarretes,
tilburi), no lombo de burros ou a pé.
A comunicação é outro exemplo do
atraso e penúria daqueles idos tempos, até por exemplo a chegada do telégrafo (
1832, Samuel Morse) e do rádio( Nicola Tesla, Marconi, 1906). Uma carta,
uma encomenda por exemplo podia demorar 10 dias, até um mês.
Uma questão que trago à pauta
refere-se à saúde, seara onde milito e posso falar um pouco melhor até pelo
interesse que o tema me desperta. Vamos imaginar a saúde, as doenças enfim, ali
no início do século XIX. Parece nem ser bom imaginar como era a saúde pública,
a higiene, as doenças que acometiam as pessoas naqueles tempos.
Os cuidados da saúde bucal
quando a família real chega para o Brasil em 1806, são exemplos do primitivismo
e precariedade em tudo. Conta-se por exemplo que nesses tenebrosos tempos
algum nobre ou rico chegava a comprar os dentes de algum escravo para colocar
em sua boca. O fidalgo membro da realeza ficava sem um dente, porque as doenças
periodontais levavam a essa perda no indivíduo ainda jovem. O que ele fazia?
Obtinha esses dentes de um escravo ou plebeu e os fixava em sua boca. Na certa
durava muito pouco o processo. Isto é uma mostra do que era a precariedade da
saúde naqueles tempos.
No sentido estrito de saúde e
qualidade de vida pode-se começar pela própria expectativa de vida que era
baixa. O brasileiro vivia em média 60 anos. Com 50 anos o indivíduo já era
considerado idoso. As condições de saneamento básico, mesmo no meio urbano,
eram sofríveis. Poucas pessoas tinham água tratada, não havia tratamento de
esgoto, lixos se acumulavam pelas ruas e fezes eram lançadas a céu aberto. Não
havia aterros sanitários.
De forma pitoresca, num humor amarelo
ou negro, conta-se que a pessoa se aliviava num urinol ou penico e arremessava
o conteúdo para onde o nariz lhe apontasse. Imagine quem estivesse passando
pelas ruas.
Doenças como tuberculose,
varíola, febre amarela, tifo, sarampo matavam grande parcela das pessoas e
crianças porque não havia vacinas e nem antibióticos. Não se tinha estatística
de morte por câncer. Primeiro porque, sendo uma doença mais comum nos idosos, o
indivíduo morria ainda jovem de outras doenças. Segundo porque havia poucos
diagnósticos. Os casos existentes eram subnotificados até pela falta de
conhecimentos da medicina na área de oncologia.
A própria palavra câncer sempre
despertava repulsa, superstição e segregação social. Ao invés de se pronunciar
câncer, se referia aquela doença. Fobia e cultura que vigoram até hoje.
Enfim saltamos dois séculos e
chegamos na era das luzes em todos os ramos das ciências. Nesses tempos da
informática e da internet, com tantos recursos digitais e cibernéticos, a
medicina tem plenos poderes em fazer uma análise de cada pessoa e
apresentar-lhe os fatores de risco para cada doença. E o mais promissor: os
meios confiáveis e provados de se evitar cada doença, ao menos aquelas
causadoras das principais mortes naturais no mundo. São os casos das vasculares,
da hipertensão, dos vários tipos de câncer, do diabetes etc.
Agora , o mais melancólico e
surpreendente é constatar que em plena era do conhecimento , do domínio das
comunicações , dos recursos digitais e da internet, haja tanto charlatão,
curandeiro, aventureiro e falsos profetas da saúde.
E eles só fazem sucesso e ganham fama
porque sempre existiram também os idiotas, os néscios, os imbecis , os que
acreditam até em histórias da carocha e da mãe do ouro Para visitar essas
práticas basta ligar o rádio, ligar a tv, conectar a internet e têm-se lá
remédios e curas para tudo, desde calvície, gagueira, espinhela caída, à cura
do câncer e da impotência sexual. Até faculdades e escolas de amor se
veem. São os falsos terapeutas de casais, e das relações humanas por
algum canal televiso concorrente da rica e próspera Rede Globo. Só no brasil
mesmo.
Mas, enfim que prevaleçam as
conquistas das Ciências Médicas e da Saúde em prol da Humanidade. Nesse cenário
de tantos avanços basta recordar que muitas doenças antes mortais, hoje nem
existem mais. Como exemplos a varíola, a febre tifoide e a poliomielite.
Os vários tipos de câncer, antes muito estigmatizantes, social e
emocionalmente, agora são plenamente compreensíveis, preveníveis e
curáveis. Não é sem razão que a expectativa média de vida é de quase 80 anos. Como
exemplo e reforço dos avanços da medicina temos hoje um sem-número de pessoas
com 100 anos, saudáveis e com plena lucidez.
Vivam as ciências! Viva a
medicina! Mas, repito, tem que se precaver dos curandeiros e charlatões de toda
ordem. Eles continuam enganando as pessoas. Como último aviso, se recomenda: os
charlatões mais nefastos e perigosos são os diplomados, os que ostentam os
títulos de doutor e têm inscrições nos conselhos da categoria. De novo, só
mesmo no brasil e em outras republiquetas das bananas. fevereiro/2017.