Apelidos
NOSSA CAPACIDADE DE DAR APELIDOS E RÓTULOS
João Joaquim
Uma das muitas vocações ou tendências inerentes às pessoas refere-se à
capacidade ou criatividade delas em nomear, dar títulos, rótulos,
qualificativos, adjetivos e outros atributos ao sabor de suas conveniências.
Sejam tais conveniências as de mais variadas naturezas. Assim temos desde os
de caráter pejorativo como o são os apelidos discriminatórios ou
vexatórios até aqueles também de senso gentil e afetivo.
Nesse rol de adjetivações entram por exemplo os pronomes e adjuntos ao
nome. São os casos de vossa excelência, e de doutor no sentido de alta dignificação pela
condição de autoridade, bem assim pela qualificação profissional ou acadêmica
do indivíduo.
No que concerne aos apelidos temos um capítulo à parte. Revela-se
questão até de natureza psiquiatra e sociológica dada a revelação da capacidade
criativa da mente humana seja para o bem ou para o mal.
Para esse expediente afetuoso em atribuir nomes e apelidos
carinhosos temos um nome, hipocorístico, de origem grega com o significado de
diminuto, pequeno. Exemplos, Zezé,Didi, lulu, lucita,Chiquinho joaozinho,
zequinha etc.
Na tendência pejorativa e até revelando bulling temos um sem-números de
casos. Assim temos o gordo, o cabeção, o zarolho, o vesgo, o cambota, o zoiudo,
o bocão, o mané, o pezão, etc.
No campo da antropometria e biotipologia temos outra demonstração da
infinita capacidade da inteligência humana em lidar com as características das
pessoas atribuindo-lhes qualificativos, classificação e adjetivos . Sejam eles (nomes) de conotação negativa ou
positiva. Assim são os casos dos adjetivos gordo, obeso, jamanta, baleia,
magrão, gordinho, pançudo, toquinho de amarrar jegue, girafa, entre outros.
Por fim dois tópicos merecem uma análise social e psiquiátrica quando se
fala da aptidão e criatividade de nossa mente em lidar com nomes, apelidos e
adjetivos. Primeiro , com situações patológica ou nomeação das doenças ou as
consequências e sequelas sofridas. Aqui entram os adjetivos diminutivos ou de
minimização dos sintomas e afeções sofridas. Neste rol temos muitas vezes o “início
de tal doença”, mas nunca a doença completa. Fulano ou a própria pessoa teve
não uma doença tal ou enfermidade tal, mas o início de pneumonia, de infarto, de
derrame, de diabetes, de enxaqueca.
O correto aqui na terminologia é graduar essas doenças, leve, moderada
grave, ou grau I,II,III etc. Uma doença tem início, meio e fim. Com cura, com
ou sem sequela ou morte.
O câncer ainda é uma doença que traz estigma e discriminação, por isso é
muitas vezes referido como aquela doença” ou se bem localizdo também denominado
início de câncer.
Segundo e último tópico, se alude em como as famílias, cuidadores e
mesma a sociedade e associações representativas tratam os portadores de muitas
síndromes genéticas, as malformações somáticas e outros portadores de sequelas,
déficits funcionais e anatômicos ou amputados. Para essa classe de pessoas, a
sociedade e as famílias encontraram um tratamento eufemístico, uma forma de
abrandamento ou minimização daquela alteração ou funcional ou física. Temos os
nomeados especais. portadores de necessidades especiais.
São os portadores de necessidades especiais, para um sem-número de
condições. Não importa qual o déficit funcional, cognitivo ou anatômico.
Lembra-me a propósito um caso que me ocorrera. Uma mãe leva o filho ao
hospital onde eu trabalhava. No atendimento interrogo-a sobre a doença
pregressa (que síndrome) o filha tinha, e ela responde: doutor ele é especial!
A quem eu devolvi com uma resposta simples e direta, mãe, especial para a sra.,
mas eu preciso saber qual é o seu déficit para eu medicá-lo corretamente. Ela
não sabia precisar o transtorno, o déficit que tornava aquela filho “ especial”
.
E especial, nos dias de hoje, com a educação que está sendo dada aos
filhos e alunos, muitos deles parecem mesmo especiais , especiais em não saber
se comunicar com os outros à sua volta, em não saber redigir um bilhete, em
articular corretamente um diálogo formal, em se fazer entender e expressar o
que querem da vida. São novos e pós modernos tempos. Tempos dos memes, da
Internet, do esvaziamento completo de conteúdo intelectual, de conhecimentos,
de ética, de relações humanos. Todos conectados
às redes sociais.
Enfim, e ao cabo é a nossa infinita tendência em criar apelidos,
rótulos, tratamentos, títulos, chistes, chacotas, eufemismos. Alguns ora beiram
ao hilário, outros ao preconceito e, às vezes, não dizem bulhufas.
JUNHO/2018