MENTIRAS E ELEIÇÕES
AS MENTIRAS E FABULAÇÕES DE NOSSAS
ELEIÇÕES
João Joaquim
Conta-se que a época de maior mentira
per capita é a época de eleições. As pessoas por um modo e costume geral já mentem
naturalmente. Agora a classe política suplanta aquilo que se pode chamar número
tolerável de mentiras. A mentira só se torna perigosa e nefasta em duas
situações, feita sob juramento ou em promessas de campanha eleitoral. Fora
desses dois cenários trata-se de questão de foro íntimo, de sentimento e ética pessoal.
O perjúrio ou juramento falso deveria
ter também uma previsão religiosa, deveria ser um pecado capital. Porque
previsto como crime já consta do código penal. Imagine só, o indivíduo de forma
pública, e solenemente, mentir ante uma autoridade judicial. Trata-se de um
caráter muito volúvel, é ser muito cínico, de cenho regateiro e deslavado, a
ponto de merecer algumas demãos de óleo de peroba. Ou seja vai ser cara-de-pau
lá no Amazonas, onde ainda se extrai o popular lubrificante das perobeiras.
Uma outra reprovável mentira é
justamente aquela verbalizada por candidatos a cargos eletivos. Trata-se, eu
diria, até de uma forma escarninha de dirigir-se aos eleitores.
Na seara da Política, as encenações falsas,
além de mentira se revela em um
expediente ardiloso, subterrânea e embusteiro de enganar as pessoas de boa fé.
Eu, particularmente, aprecio ouvir as plataformas de mentiras de muitos
candidatos, que de candura não têm nada. Pelo que se deduz das alocuções, dos
discursos, das entrevistas, o tamanho das potocas e das lorotas é diretamente
proporcional ao cargo. Quanto mais elevada a hierarquia, mais bem elaborada vai
ser a mentira.
Todavia, nessa estratégia, de mais
nobre a função, mais convincente a falsidade, há candidatos que se denunciam e
caem em contradição. Existem alguns que
são tão deslavados em mentir que tentam emendar ou justificar sua impostura.
Como aquele sujeito que em comício no interior disse para a plateia que se
eleito construiria uma ponte em tal lugarejo. A quem um gaiato na escuta retorquiu.
Mas, como se ali não se tem nem rio? E o impostor e cascateiro responde, não há
de que, a gente traz um rio para a região.
Eu gostaria de assistir a muitos
políticos, sendo submetidos a um polígrafo, o famoso detector de mentiras. Há
também as tomografias ou ressonâncias funcionais.
E nem precisa de tais exames
imagéticos para dar um flagra e desmascarar qualquer mentiroso ou embusteiro.
Tudo pode ser deduzido através das reações e movimentos corporais. O sujeito
quando mente vai apresentar um série de sinais, de trejeitos, de mímicas, de
contornos corporais que denunciam sua falsidade.
Nesse sentido temos um aumento da
pulsação, da pressão arterial, de movimentos de pernas e braços, de coçaduras
de parte do corpo, de contrações labiais e palpebrais, entre outros indicativos
compatíveis com uma fala mentirosa.
É assim que funciona o polígrafo,
detector de mentiras. São sinais indiretos com uma grande chance de acerto. A
tomografia ou ressonância funcional se fundamento no consumo de O2 cerebral, na
troca de impulsos sinápticos fora do padrão fisiológico. Numa contextualização
histórica e filosófica trago ao texto dois pensamentos distintos sobre a
mentira, a conduta, a postura ética das pessoas.
Na antiga Grécia existiu a corrente
filosófica dos sofistas. Eles foram especialistas na arte do convencimento.
Foram contemporâneos de Sócrates.
Há críticos mais isentos que afirmam
que eles foram também os próceres e protagonistas na arte da mentira. Eles
praticavam a linguagem da retórica, do belo discurso, da lábia. Segundo outros
estudiosos eles são também considerados os primeiros advogados. Eles ensinavam
a criar teses e argumentos paralelos aos fatos reais que chegavam a convencer
aos mais sagazes juízes e jurados. Os sofistas mais famosos da época foram
Protágoras e Górgias. “ O homem é a medida de todas as coisas, das coisas
enquanto são e das que não são enquanto não são “ – Protágoras .
Dos sofistas vem o termo sofisma,
mentira. Quando se fala em conduta humana e ética se torna simbólico lembrar do
grande filósofo Immanuel Kant. Ele estabeleceu dois imperativos para as
relações humanas, o categórico e o hipotético. No imperativo categórico se
aconselha a que cada pessoa tenha um comportamento de aceitação universal. Em
outras palavras, uma atitude, um gesto, uma conduta só é virtuosa e benfazeja
quando resulta em um bem para qualquer pessoa, em qualquer parte do planeta. Ao
contrário, no imperativo hipotético a ética se torna subjetiva, particular. Nem
tudo que é bom para mim é bom para todos.
Nem tudo que é bom para a abelha é bom para a colmeia.
Assim posta, esta singela resenha
sobre a mentira, se torna fácil e dedutível com qual corrente filosófica que os
políticos brasileiros se alinham. Tem a dos sofistas , mentirosos e de Kant na Ética
Universal. Setembro/2018.