SOLIDARIEDADE
A
MORAL DO ATENTADO A JAIR BOLSONARO
João
Joaquim
Será que
podemos classificar o povo brasileiro de hospitaleiro, cordato, generoso e
receptivo? Não, definitivamente não. Ao menos quando se revisita a nossa
história. E nem precisa. Basta que se leia as estatísticas da violência em dois
cenários. Trânsito e conflitos pessoais. Somando mortes no trânsito e
homicídios são cerca de 120 mil vítimas por ano. São estatísticas de países em
conflagração bélica. Síria como exemplo.
Para dar
mais foro de veracidade, um pouco de história ajuda no convencimento da tese de
que o Brasil não é só paz e amor. A guerra de Canudos (BA), do líder messiânico
Antônio Conselheiro; a guerra do contestado (PR, SC). Mais recentemente,
os massacres de Carandiru (SP) e o de Eldorado dos Carajás (PA). São mostras de
que a sociedade brasileira, a cultura e índole do brasileiro são permeadas de
muita violência. Então a tese de violência na cultura e na índole do
brasileiro, ganha muita consistência só pelas estatísticas desses dois
cenários, crimes dolosos contra a vida e a letalidade dos motoristas de nossos
trânsitos urbano e rodoviário. Que se registre, muitos dos crimes de
trânsito são dolosos e não culposos. Álcool
e drogas entre os ingredientes desses delitos.
Mas nem
tudo está perdido. Isto porque parcela de nossa gente, das diversas classes
sociais, têm no coração e nos sentimentos espontaneidade de generosidade, de
gentileza e amor ao outro. Ainda dentro de nossa sociedade, muitas pessoas
quando estimuladas, ou mesmo de forma passiva mostram seus sentimentos de gentileza
e filantropia.
Quando
se fala nesses sentimentos que distinguem os humanos de outros animais vem-me à
lembrança o grande historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). Ele
escreveu a obra Raizes do Brasil. Nesse livro, o autor faz uma análise da
cultura do povo brasileiro, da influência portuguesa em nossa formação. Mais
que um ensaio a obra é um tratado de Sociologia e Historiografia do Brasil. A
1º edição do livro se deu em 1936 e foi traduzida para outros idiomas. Foi
então que Sérgio Buarque desenvolveu a expressão “homem cordial”, uma tradução
ou enfoque sociológico.
A
expressão original é creditada ao poeta santista Ribeiro Couto (1898-1963), com
influência ou endosso do embaixador e poeta mexicano Alfonso Reyes (1889-1959),
que atuou e viveu na cidade de Santos. Eles foram contemporâneos e com vasta
produção literária.
Essas
sucintas notas introdutórias tiveram por objetivo trazer um episódio de grave
violência que foi o atentado ao deputado federal e candidato a presidente da
república, Jair Bolsonaro. Como noticiado e repicado por aqui e alhures, o
candidato (eleições gerais 2018), fazia uma passeata comicial em Juiz de Fora
MG, quando sofreu uma facada no abdome com graves lesões vasculares e
digestivas. Foi prontamente socorrido, passou por cirurgia reparadora e a
recuperação se aparenta de bom
prognóstico.
No
concernente ao ato de violência (tentativa de homicídio) não remanesce dúvidas
de que trata-se de ato inominável a que o agressor responderá criminalmente com
base na lei de segurança nacional. Em resumo, um atentado contra alguém
motivado por ideologia política. Esta é a previsão legal, nessa redação.
A
legislação prevê pena de muito rigor. É muito arrazoada e plausível tal
previsão, porque é um atentado contra a liberdade de expressão e contra a
democracia.
Como não
se deve dar tudo por perdido, podemos tirar do rumoroso e condenável fato
algumas lições. Desse ato criminoso podemos extrair algumas lições para a nossa
sociedade.
Tinha
razão o escritor citado, Sérgio Buarque. Imediatamente ao atentado todos os adversários de Bolsonaro
se manifestaram em solidariedade, desejando pronta recuperação ao deputado.
Mais que isto, esses mesmos concorrentes à cadeira presidencial suspenderam
suas atividades de campanha eleitoral e se irmanaram numa corrente de energia
positiva em favor da vítima. Corações cordiais, quanta surpresa!
A
segunda grande mensagem vem da classe médica, à qual se orgulha de pertencer
esse humilde e noviço escriba. Aliás , formada na Universidade Federal da mesma
cidade onde se deu o atentado. Juiz de Fora MG.
Falando
do socorro em si; tudo confluiu para o
sucesso no atendimento. Assim, a proximidade da vítima até a santa casa de Juiz
de Fora (1,3 km), a rapidez no transporte e pronto socorro. Foram esses três
fatores determinantes na sua sobrevivência. Em aditamento a esses fatores, a qualificação
da equipe anestésico-cirúrgica. Houvesse uma demora de mais 10 ou 20 minutos, o
risco de morte seria elevadíssimo.
O que se
tira deste, como ao certo, de outros atentados e tragédias é a existência e
mobilidade da fraternidade, da hospitalidade e amor ao próximo de muitos compatrícios,
de muitas pessoas e profissionais abnegados, como o foram os médicos,
cirurgiões e intensivistas .
É
incontroverso que a maldade, a violência e intolerância subsistem na mente e na
alma de muitas pessoas, por razoes psicopáticas ou sociopáticas. E outros casos
e episódios até por motivos ideológicos.
De outro
lado muitos são os indivíduos que cultivam a generosidade pela generosidade.
“Apesar
de tudo eu creio na bondade humana” - Anne Frank. E esse grupo de pessoas nos
estimulam e nos exemplificam em sermos bons e generosos. Em praticar a bondade,
a generosidade e a Ética, por elas mesmas, sem outros motivos
excitatórios. Setembro/2018.