Intolerância
UMA ELEIÇÃO MARCADA POR ÓDIO E INTOLERÂNCIA
Joao Joaquim
De todos os fatos, de todos os feitos, de todos os acontecimentos se
podem tirar frutos, lições e conclusões. Na presente consideração eu tomei
como acontecimento nossas eleições. Nem menos, nem mais, nossas eleições
gerais para presidente do Brasil, governadores e outros cargos mais. Assistindo
às muitas campanhas, palestras, encontros dos digladiadores, debates
televisivos, vinhetas, mensagens pelas redes sociais (facebook, whatsapp), etc;
eu pude assistir a um novo homem , o homo passio. Ou no bom Português ,
homem de paixão.
As eleições no Brasil têm se transformado nesse grande palco,
quando através de todos os instrumentos e recursos de comunicação as pessoas
expressam, verbalizam, vociferam e arrotam seus instintos e recalques de ódio,
de violência, de intolerância, de discriminação, de preconceito de toda ordem.
E que nenhum oriental ou fundamentalista , que por ventura me lê,
que pense que referidas atitudes se restringem aos chamados candidatos e
assessores. Tais expressões de raiva, de rancor, de violência, de intolerância
vêm de todas as classes de gente. Inclusas aquelas pessoas que entendem
bulhufas ou patavinas de política, de democracia, de estado democrático de
direito.
Muitos dos praticantes desse acirramento de ânimos, dessas contendas o
fazem a mando, com instrução de líderes ideológicos de partidos políticos. Ou
nem disso precisa, porque são violentos , rancorosos, raivosos por natureza,
por índole natural.
São pessoas com igualdade. Igualmente broncas, rudes,
ignorantes que sobrevivem profissionalmente dessa atividade. Atividade que é o
incitamento, o açulamento das massas rivais. Muitos desses contratados, para
espalhar e contrapor as ideias políticas têm como instrumento de trabalho as
redes sociais. Nessa terra de ninguém, sem censura e sem controle de qualidade
que é a internet, todos ganham voz e vez.
São os blogueiros profissionais; os mais destemidos se tornam
até videovisuais, através da rede YouTube. Se tornam youtubers por
ofício. Sãos as chamados celebridades momentâneas, efêmeras. Se bem que existem
alguns que se comportam como herpes labial, vão e voltam.
Temos então os embates, ou UFCs, dos mortadelas (os socialistas ou
de esquerda) contra os coxinhas (conservadores ou de direita). Ou coxinhas
versus petralhas. As redes sociais e os comícios são seus octógonos.
Fazendo um contexto histórico sobre o “homo passio”. Nada de paz e amor,
nada da cordialidade do brasileiro como o apregoado por Sérgio Buarque de
Holanda em sua obra Raízes do Brasil.
Quem homem cordial é este descrito pelo indigitado historiador ? Basta
revisitar detida e isentamente os anais e fatos de nossa historiografia.
As coisas, a realidade da natureza da personalidade brasileira, já não
se inicia bem com a vinda dos primeiros colonizadores. Muitos dos que para cá
vieram já não tinham bom caráter. Relata a história paralela que na verdade
muitos dos primeiros imigrantes eram foragidos da justiça de Portugal. Outros
tantos aqui aportaram como desterrados e degredados dos países de origem. A
própria história oficial nos relata do quanto de violência, maus tratos,
estupros e mortes se praticou contra os nativos. E depois se seguiu com os
horrores e perversidade da escravidão dos negros africanos.
O tráfico negreiro é um fato que tisna, que mancha o nome do Brasil. Que
violência, que ódio maior do que a prática da escravidão? A exploração dos
negros no cativeiro se encerra numa abominação e foi praticada por quase
quinhentos anos no Brasil. Oficialmente ela acabou em 1888. Acabou ? Será ? E
os serviçais e trabalhadores em condições degradantes de tantos canteiros de
obras do país? E os trabalhadores semelhantes a escravos que sempre são
apanhados e resgatados pelos órgãos de fiscalização como Delegacias
Regionais do Trabalho? Quer violência mais degradante do que esta ! Tudo
isto em plena era das luzes do mundo digital . Que horror
Percorrendo os fatos e ocorrências de nossa história o quanto de
violência e ódio se registra no comportamento e expediente das pessoas.
Notadamente quando se trata de gente de posses e de poder. Neste sentido basta
revisitar os conflitos internos, as guerras, as revoltas, os golpes políticos
de nossa história.
Tomemos o exemplo da guerra do Paraguai. E aqui a violência não foi
exclusiva do Brasil, foi uma tríplice violência, da tríplice aliança
Brasil, Argentina e Uruguai contra o perdedor Paraguai. A verdade é que a
derrota do país guarani significou um autêntico genocídio. Matou sem piedade,
civis, mulheres e crianças. Que cordialidade é essa de nosso brasileiro?
E assim sucedeu com outras intolerâncias, ódio e violência. A guerra de
Canudos contra o sr Antonio Conselheiro, ocorrida no Arraial de Canudos,
interior da Bahia, entre 1896/1897. A guerra do contestado, e tantos outros
conflitos.
A própria história republicana é recheada de golpes, violência,
intolerância e ódio. Mortes. Muitas mortes se deram a pretexto de
ideologia e discriminação política. Basta reestudar como foram o golpe da
proclamação da república e o banimento da família imperial de Dom Pedro
II. A ditadura implantada Por Getúlio Vargas no chamado estado novo. O
clima de escaramuças e ódio que resultou no suicídio de Getúlio Vargas.
O golpe militar e a ditadura implantada em 1964. Muita repressão,
torturas e violação de direitos humanos foram praticadas nesse período. Com um
registro a se fazer: não fosse os militares, certamente os militantes de
esquerda tinham convertido o Brasil em uma ditadura comunista, aos moldes de
Cuba da dinastia da família Castro (Fidel e herdeiros).
E assim se deduz( cada um a seu modo) dessas eleições gerais de
2018, que nunca se viu tanta manifestação de ódio, de intolerância, de
violência e desrespeito à livre manifestação do outro. À liberdade de gosto e
escolha. Ainda e mesmo que essa liberdade e escolha sejam o partido X ou Y.
ainda que a simpatia seja por um candidato com muitos pecados e culpas nos
cartórios e nos tribunais superiores, como nunca tivemos em nossa História
Republicana. Falei e disse, e como diz Bariani Ortêncio , Maktub . Ah, e também
se não estava escrito eu deixo escrito agora. Outubro/2018.