Minhas origens
MNHAS REFERÊNCIAS
João Joaquim
Já me fizeram uma pergunta e aqui vai a ampliação da resposta. Quais as
minhas referências de vida? E aqui eu poderia abrir uma grande chave porque
referências de vida se supõem múltiplas possibilidades. Mas, simplifiquemo-las
em referências sociais, morais, éticas, culturais, religiosas, ecológicas,
lúdicas, esportivas, etc.
Sem assemelhar a uma resenha técnica ou científica mas a um
apanhado prático e compreensível, eu início pela minha família. Sou oriundo de
uma família humilde. Meus pais eram semianalfabetos. Ser analfabeto absoluto ou
funcional não significa ser de inteligência parva ou tacanha, porque esta
constitui um traço genético.
Todos nascemos com o mesmo potencial inteligível. O que distingue o
cabedal ,o potencial técnico, cientifico e cultural de cada um é a oportunidade
que o meio social vai lhe proporcional e os esforços que o sujeito vai
despender para assimilar essas oportunidades oferecidas.
Meio social aqui incluem o patrimônio cultural da própria família, o
acesso a escolas de boa qualidade, os atributos dos segmentos sociais com os
quais se dá a interação social do indivíduo, etc. Na maioria da
sociedade, as pessoas são frutos do meio onde vive. “ O homem é o homem e
suas circunstâncias “ Ortega Y Gasset.
Assim iniciou-se minha primeira influência social. De minha família,
herdei os preceitos mais primitivos de honestidade de não roubar, de me
capacitar e buscar prover o sustento sem depender de outras pessoas, de praticar
o bem independentemente de perguntar para quem, entre outros valores éticos e
morais. Meus pais incutiram em minha cabeça o princípio que pode ser assim
resumido: o melhor e maior patrimônio que um pai ou uma família pode legar ao
filho é o patrimônio da cultura e do conhecimento. Enfim, é o ensinamento de
que o saber é poder. Essa preleção e legado ficaram impregnados em minha
memória, sobretudo por minha saudosa mãe, Sra. Ercília de Paula Neves, que não
mediu esforços para me dedicar aos estudos, desde o nível fundamental.
Outro legado que ainda trago de família se refere à cultura da Bíblia.
Dos ensinamentos contidos nas escrituras sagradas. E aqui abro uma outra chave
de explicação. Todas as mensagens contidas na Bíblia encerram em códigos e cláusulas
de ética e moral. Esta avaliação se dá independentemente do valor religioso do
indivíduo, abrange inclusive ateus e agnósticos. Todos os postulados bíblicos
significam diretrizes para uma vida digna e de boa convivência para
qualquer sociedade, não importa a ideologia e crenças. Na mínima das hipóteses
tem-se ali a maior das inspirações que pode produzir o engenho criativo da
mente humana. E para os que creem são frutos de chispas e iluminação de
Deus.
Paralelo ao lado místico e convicção na existência e imanência de Deus,
eu sempre tive a Bíblia como a melhor expressão literária e poética.
Os evangelhos (boas novas) representam-me não apenas um guia de
bem-aventurança em uma conotação de religiosidade, mas a par dessa
verdade em feitos poéticos e épicos. Em especial para os que têm uma
vivência harmoniosa com o planeta e sua flora e fauna. Daí então eu concluir e
ter os escritos sagrados como minha fonte de beleza, de uma estética, e
de ética sem outras iguais. A Estética e a Ética do Amor e da Generosidade.
Assim fui singrando minha trajetória de vida e fazendo meus referenciais
sócias, éticos e culturais. Toda minha formação escolar se deu em instituições
públicas. E todas elas me deram um bom suporte de aprendizado. Na parte a mim
devida, reafirmo que a minha tarefa foi das mais árduas e desafiantes, tendo em
conta o baixo poder aquisitivo e econômico da família adicionado aos escassos
recursos tecnológicos e de informação da época de estudante secundarista e
universitário, anos de 1970. Formei-me em medicina em 1981, na universidade
federal de Juiz de Fora - UFJF MG. Trago sempre minha pequena Iapu MG, e minha
Ipatinga MG, nas minhas melhores reminiscências de infância.
Muitos foram em termos de cultura, os homens e autores de cultura que
marcaram e marcam meu gosto, minha admiração e referências. Na literatura por
exemplo. Tenho uma enorme atração e afeição por Machado de Assis, João
Guimarães Rosa, Lima Barreto, dos quais sou um eterno leitor. Na poesia
aprecio imensamente as criações de Olavo Bilac, Castro Alves, Álvares de
Azevedo e Augusto dos Anjos. Aqui só para citar alguns gostos e preferências.
De música clássica cito Chopin, Bach, Mozart e Beethoven. De MPB Milton
nascimento, Tom Jobim, Vinicius de Morais e Chico Buarque.
De ativistas humanos e políticos sempre nutri muita admiração por
Malcolm X, Patrice Lumumba, Mahatma Gandhi e Martin Luther King.
De homens estadistas e políticos eu citaria Nelson Mandela (África do
Sul), Konrad Adenauer (Alemanha), Juscelino Kubitscheck (Brasil).
Enfim, estes homens, muitos já falecidos, assim como algumas mulheres
como Ana Neri, Olga Benário e Zilda Arns, foram e continuam sendo meus pontos
de apoio em cultura, moralidade, dignidade e dedicação em prol de uma sociedade
e um mundo melhores. São figuras públicas tão importantes e construtivas que
não deveriam ter morrido porque fazem muita falta. Hoje vivemos tempos tão
sombrios e incertos que não sabemos quem são nossos referenciais. O que se tem
de certo é muita incerteza e muitas dúvidas quanto aos destinos de nosso País.
Se pudesse, quem me dera , bem que gostaria de ter a companhia de homens
de outra era. Outubro /2018.