Sofismas
PROPAGANDA ELEITORAL LEMBRA A ARTE DE SOFISMAR
João Joaquim
Assistindo a propaganda eleitoral deste 2018, vêm-me a lembrança
duas obras da filosofia ocidental. Uma a República de Platão, onde o grande
filósofo valendo-se de sua teoria do mundo inteligível ou das ideias nos traz a
concepção do que seriam as formas de governo ideal. A segunda obra de grande
importância é a utopia do britânico Thomas Morus. Nessa magnífica criação o
autor nos fala de um lugar imaginário. Ao pé da letra, do grego ou, não, topos,
lugar =(utopia).
Literalmente, lugar nenhum, ou não lugar. Thomas Morus (1478-1535,
Londres) tem uma biografia muito interessante. Ele foi um Lorde Chanceler do
Rei Henrique VIII; soberano este que se rebelou contra a igreja católica,
porque se divorciou da 1ª mulher, dona Catarina, para se casar com
Ana Bolena. A igreja de Roma negou. O que fez o Rei? Ele rompeu com o vaticano
e criou sua própria igreja. Dai surgiu a igreja anglicana (da Inglaterra).
Thomas Morus, religioso e leal que era às decisões do vaticano se manteve
solidário com o papa de então, clemente VII.
O que se teve em todo esse imbróglio é que Morus não se abdicou de suas
convicções, ele foi preso e condenado à pena de morte. Tudo por causa de um devasso,
tirano, ególatra e recalcitrante governante de nome Henrique VIII.
A organização estatal proposta na utopia de Morus é aquela de uma nação
altamente organizada, harmônica, ordeira, com um povo continuamente feliz,
realizado e seguro. Agora, façamos uma reflexão rasa e imediata. Se naquela tal
concepção era uma ilusão, um feito irrealizável, imaginemos tal concretização
em um Brasil de hoje.
Portanto, nos fazem lembrar essas magníficas obras, quando
assistimos ao que apregoam nossos candidatos a cargos parlamentes, a chefia de
Estado, a funções de grande responsabilidade na vida pública.
Outros personagens que me vêm à lembrança nas audiências que fazemos aos
candidatos e políticos são os sofistas. Como refresco de memória, os safistas
eram filósofos dedicados à oratória e a retórica. Eram mestres na arte
(ou ardil) do convencimento. Eles são considerados os predecessores da
advocacia. O que faz um bom advogado? Ele cria uma tese, uma sequência de
argumentos capazes de se tornar uma verdade ou realidade, que aos olhos de
pessoas comuns não seriam de fato verdades.
Vem de sofista o termo sofisma. No senso comum o que vem ser um sofisma?
Um argumento que embora falso pareça aos menos argutos e atentos uma afirmação
válida; mas que na essência está eivado de má-fé e falsidade.
Muitos são os nossos governantes e candidatos a funções eletivas que
estudaram a fundo os filósofos sofistas e portanto sabem a arte de
impressionar, de burlar, de convencer com seus discursos retumbantes e
falaciosos. Ainda sobre os sofistas. Dois foram os mais proeminentes:
Protágoras (480-410 a.C) e Górgias (485-380 a.C).
Protágoras é autor do axioma: o homem é a medida de todas as
coisas. Górgias afirmou que a linguagem é a principal ferramenta de
qualquer líder, orador, defensor ou chefe de Estado. Os sofistas eram
profissionais da palavra, da comunicação e da oratória. Eram mestres na lábia e
na conquista da confiança e fé alheia, ainda que para tanto empregassem a
má-fé, a perfídia, a dissimulação.
Assim, os liames que se fazem de candidatos em épocas de eleições, com
Platão, Thomas Morus e Protágoras têm vastos e todo o sentido. Os preceitos e
postulados propostos na República platônica representam o que pode haver de
mais ético, eficaz e humano numa organização estatal. E que fique lembrado,
democracia, segundo Platão, não é a melhor forma de governo. O melhor
regime segundo o grande pensador seria a aristocracia. Um Estado governado
pelos mais sábios, pelos mais aptos e éticos. Não se pode misturar Aristocracia
, os melhores; com Oligarquia , governo de uma minoria privilegiada
e desqualificada para o múnus que exerce. Coisas de Brasil.
A utopia de Morus tem sido a promessa de muitos
de nossos populistas e demagogos. A maioria deles para se chegar ao trono ou se
manter no poder usam e abusam de promessas irrealizáveis. São palavras e listas
de promessas à feição de muitos Protágoras e Górgias. Tudo não passa de burlas,
promessas vãs e sofismas. Mentiras, falácias de puro engano. E tem muita gente que
acredita. Tanto é assim, que são eleitos. Só mesmo no Brasil. Outubro
/2018