Pareço e Sou..
PRIMEIRO AS APARÊNCIAS DEPOIS A ESSÊNCIA
João Joaquim
Conforme teorizou Jean-Paul Sartre assim se dá a
estrutura do homem; primeiro tem-se a existência, depois vem a essência.
Tivesse esse grande pensador vivido até os dias de hoje, século XXI, era da
“modernidade liquida” e descartável, talvez ele pudesse modificar o seu
princípio. Quem sabe este: primeiro tem-se a existência depois a aparência e
por fim a essência. O mundo se transformou em demasia nos estertores do século
XX e nos albores do século XXI. Como ficará a sociedade em meados e fim do século
XXI? A sucessão de mudanças tem-se dado em ritmo frenético. Tudo tem-se dado de
modo fluido, líquido, volátil e imprevisível. O tempo, que tempos! Os dias
correm e tudo (se)transforma.
Paul Sartre (1905-1980) viveu um século de guerras,
de transformações geopolíticas e econômicas, de confrontos de ideologias
políticas, de guerra fria entre o mundo capitalista (EUA) e o mundo comunista
(ex URSS). Ele não viu o surgimento da internet. Este mundo de agora das
comunicações prontas e instantâneas, do poder e penetração das redes sociais.
Hoje, além das guerras endêmicas que continuam
ceifando vidas, temos uma guerra de informação. São as fake News, as fofocas, a
vigilância eletrônica, a bisbilhotice da vida alheia, a invasão da
privacidade das pessoas e tudo quanto de mensagens de conteúdo vazio, rasteiro,
fútil e difamante. Como acertadamente opinou o escritor e semiólogo Umberto eco
(1932-2016) a internet e as redes socais permitiram a que uma legião de idiotas
e imbecis tivessem vez e voz.
Se antes eles falavam em algum bordel ou
botequim e ali mesmo findavam suas bobagens e frivolidades, agora eles dispõem
desses canais por demais livres e democráticos, as redes sociais. Todos agora
expressam o que quer, como querem e a
hora que querem . Sem filtro, sem barreiras, sem um controle de qualidade.
Eu não quero passar por um idiota, nem
retrógrado, em desclassificar, praguejar e demonizar o mundo virtual e suas
plataformas de navegação, as redes sociais e tudo quanto nossa sociedade
dispõe de mídias digitais. Seria no mínimo uma atitude ou reação de néscio e
paspalhão. O que se considera de incontestável é que a internet com todos os
seus aplicativos de conectividade se constitui numa invenção maravilhosa e
grande legado do final do século XX. Os seus idealizados não a projetaram
pensando no mal, em futilidades. Acima de tudo, foi uma invenção que veio
para adicionar comunicação confiável, cultura, informação e entretenimento.
Na função de comunicação e cultura o quanto se
tornou uma ferramenta preciosa e imprescindível na educação e formação
profissional em todos os níveis de ensino. Basta reportarmos aos exemplos dos
países desenvolvidos como Coréia do Sul, Noruega e Finlândia, onde já quase não
se utiliza o livro físico. A tendência tem sido a alfabetização com o emprego
do livro eletrônico, o e-book , da internet e as plataformas digitais. Uma
qualidade dessas novas tecnologias na educação é a economia de papel,
preservação da natureza (menos árvores derrubadas) e menos lixo ambiental.
Numa análise desapaixonada e isenta, o espaço
virtual e todos os recursos digitais não diferem dos ambientes físicos, dos
recintos sociais e vias públicas. Aqui e ali onde se davam e se dão as relações
sociais, as interações e conexões pessoais. Sejam estes espaços e arenas antes
e pós-internet.
Ao se trazer à baila tudo que se nos apresenta de
belo e feio, de bom e mau, do virtuoso e degradante, está a se falar dos
múltiplos comportamentos, das inclinações e gosto das pessoas. Tomando apenas
as redes sociais como partes do mundo das pessoas, elas se tornam apenas
vetores, veículos eficientes e céleres do caráter, das preferências, dos
valores e cultura de seus usuários. Todas as mídias e redes socais (facebook,
whatsapp, twitter) constituem em veículos os mais libertários e democráticos do
planeta. Basta comparar com o rádio, o telefone fixo e a televisão. O custo de
mensagens nestes veículos já os tornam inviáveis para as pessoas comuns. Todas
as mídias sociais são praticamente gratuitas.
Para quem quer que seja as redes socais representam
muros de exibições, praças de desfiles, outdoor de propagandas. Ferramentas
empregadas para o bem ou para o mal. Através delas cada um mostra suas
aptidões, suas habilidades, seus dotes morais ou culturais.
São agendas onde as pessoas apresentam o que têm.
Os atributos pessoais, o patrimônio cultural ou material. Entre esses as
plásticas realizadas, os tratamentos cosméticos , os implantes de silicone ou
PMMA – polimetilmetacrilato-, e outras estéticas de rejuvenescimento. Até os
riscos de complicações, de morte, as
consequências éticas e criminais de profissionais nada habilitados nesses
procedimentos. Tudo ganha visibilidade pelas redes sociais.
Uma
nova realidade tem-se tornado visível com
o advento das ferramentas virtuais, a perda da intimidade. Foram
abolidas, portanto, a privacidade, o recato, o pudor (vergonha) e o
sigilo pessoal. O usuário almoça e posta, viaja e posta, namora e
posta, vai a praia e posta, faz plástica e posta, tira foto nu e
posta. Todos livres, leves e soltos. Primeiro
as Aparências, depois vem a Essência. Janeiro/2109