terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

ANGú-STIA

A ANGÚSTIA E A DEPRESSÃO SÃO MALES QUE MUITO  ADOECEM AS PESSOAS NOS TEMPOS DIGITAIS
João Joaquim  

Quando debruçamos e pensamos na condição humana, fica-nos a impressão que menos a compreendemos. Da condição racional e metafísica e da condição mística. Do homem na sua constituição binária de corpo e alma (espírito). Tal condição de preocupação vem de antigos tempos. Um grande pensador que já tinha a natureza humana em suas reflexões foi Platão (429 a.C — 327 a.C). Ele  foi um filósofo muito dedicado a constituição da pessoa humana, como o significado da ética, do bem e da virtude. Sua tese era de que nós humanos temos uma parte sensível, constituída pelos sentidos, pelos instintos e experiências e outra superior.
Acima dessa dimensão instintiva  temos uma constituição denominada de inteligível (quase equivalente a inteligência). Essa esfera suprassensível seria equivalente a nossa alma. É aqui que reside a essência e verdadeira  formação do homem como animal racional que somos. Essa estrutura inteligível é também conhecida por teoria das ideias.
Para simplificar tudo que existe corporificado no mundo há  como  um arquétipo, ou modelo original uma forma perfeita, harmônica e esteticamente no campo das ideias. Basta imaginar uma caneta com que escrevo neste momento, tenho esse hábito de tudo primeiro escrever no papel . Sua forma e modelo perfeita veio da concepção das ideias, uma forma ideal. E assim, se dá com tudo o mais no mundo, com todas as criações feitas pelo homem.
Extrapolando um pouco as teorias platônicas da constituição do homem e da tese das ideias imaginemos agora a relação do homem com a natureza e o cosmos. Quantas não são as obras do homem como imitação ou cópias imperfeitas da constituição dos seres vivos e inanimados do planeta e do cosmos? Bastam as muitas obras de arte, pinturas, arquiteturas numa cópia ou mimetização do que nos mostra a terra. Quanta beleza, estética e harmonia que se tem no universo, de estrelas, de astros ? Belezas estas  que o engenho humano tenta fazer parecido?
Fazendo um paralelo com o mundo das ideias, todos os seres da natureza e do cosmo seriam a realidade, as formas perfeitas, o mais é tudo imitação e cópias imperfeitas. Nessa perspectiva introdutória eu adentro uma temática semelhante, com muito nexo com a constituição humana. É a condição existencial e essencial do homem frente à sociedade, isto é ,  frente aos outros humanos, a todas as formas de vida do planeta e frente a Deus. Temos que imaginar Deus como uma realidade que sobrepaira e sobreleva a todas as outras realidades sensíveis do universo.
Nessa condição existencial é bom que façamos um recuo na história para um confronto de duas épocas. Ou até três períodos para melhor compreensão. Tomando as concepções humanas, do que é o homem na idade média, num período pré iluminismo. Dois pensadores dessa época tiveram um grande significado, na compreensão do conhecimento racional e nas crença em Deus. Foram Pascal  e René  Descartes (1596-1650). Blaise Pascal (1632-1662) foi um metafísico e racionalista. Suas teorias tiveram muita identificação com as concepções e pensamentos cartesianos.
Nas entrelinhas e defesas do racionalismo não divergiam da existência de Deus. Dando um salto para fins do século XVIII e início do XIX, mais  precisamente, era das luzes ou da ilustração (iluminismo) de Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Revolução Francesa, era napoleônica. Ficam aqui uma interpelação e grande questão: todos os pensadores iluministas defenderam o rompimento com o empirismo, com o poder e imperativo da fé e dos dogmas, com o apogeu e normas impostas pela igreja.
Em que ajudaram e contribuíram os princípios racionalistas e científicos dos filósofos iluministas? As críticas decorrem por exemplo aos sistemas de governo. A maioria, as monarquias absolutistas, os sistemas totalitários, impérios; governos escravocratas, na exploração do trabalho da classe operária, nos regimes de exceção?
Quais luzes, que racionalidade houve  nas conquistas sociais, no gozo das liberdades, nos direitos do homem, nas liberdades individuais/ se bem que conforme assentado por Étienne de La Boitie, em seu o discurso da servidão voluntária, grande parte dos oprimidos e explorados  são assim por uma questão de gosto em até participar das tiranias.
Imagine se registrar tal comportamento em pleno século digital, era da comunicação e audiência instantâneas. Macacos nos mordam! Mas, há pessoas que são cúmplices na perda de sua liberdade e tornam escravas e servis de forma voluntária. O século XX pode ser considerado o período onde o homem político, isto é, aquele em posição de comando, de poder, de administrador público comete as piores atrocidades. Bastam as grandes guerras como exemplos. O homem de Estado se torna de fato o lobo do próprio homem, conforme teoria de Thomas Hobbes, em sua magnífica obra O Leviatã.
Thomas Hobbes (1558-1679/91 anos), foi um filosofo político que defendia um estado forte, no sentido de por ordem aos conflitos naturais entre as pessoas. Não imaginava  esse grande pensador que muitos governantes iriam levar ao extrema as suas teses e se tornar tiranos e dominadores sanguinários. Como o temos em todas as eras.
Por fim e já em conclusão retomo o sentido principal desta crônica. A condição e existência humana. Existência que conforme Sartre precede a essência. Primeiro o homem é, existe para depois ele almejar tudo o que for possível, em cultura ,significado, relações sociais e ambientais.
O que se tem de certo e de concreto é que vieram a metafísica, o racionalismo; mais que isto, todos os avanços científicos, o incremento das tecnologias, e continuam as irrespondíveis questões. Se o homem existe qual a sua finalidade? O  que somos, Por que somos? Para aonde vamos?
Frente a tantas dúvidas um fato inegável se faz presente, a  angústia em que vive mergulhada a pessoa humana. Todas a descobertas a partir do racionalismo, todas as invenções advindas com a evolução científica, a melhora nas relações sociais e na qualidade de vida; literalmente todas não foram o bastante para minimizar as angústias e neuroses que acometem tantas pessoas.
Frente a angustia existencial duas têm sido as buscas incessantes das pessoas: o reencontro com Deus, com o sagrado através das religiões e o socorro das terapias alternativas , bem assim com  uso e abuso dos psicotrópicos. Nunca se usou tanto psicotrópico como nos dias de hoje. E os psicofármacos têm sido uma ilusória e anestesiante solução para o eterno-retorno. Como extinguir a dor existencial?  Fevereiro – 2019

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