terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

CRÃO-ELDADE

NOSSA CRUELDADE COM OS ANIMAIS
João Joaquim  

 Nós humanos, mais humanos poderíamos nos tornar se nos relacionássemos mais humanamente com os outros animais não humanos. O mundo seria mais belo, o mundo seria mais aprazível, o mundo seria menos violento, e todos, homens e animais poderiam viver na absoluta harmonia. Ops, minhas escusas pelas anáforas.
Ao certo o que se tem é que a relação do homem com os animais vem de primitivas épocas. Tal interação de proximidade, exploração e cativeiro se inicia na narrativa bíblia da construção de tamanha nau com  o emprego da força animal.  Em feito tão árduo e dispendioso necessário se fez o uso de ajuda de tração de elefantes. Portanto, o seu recolhimento à arca não se deu de forma graciosa. E mesmo quando da soltura da pomba para que ela retornasse com algum vegetal em sinal de terra à vista. Era o recuo das águas do dilúvio.
Fora da concepção e tradição bíblica o trato do homem para com os animais foi sempre de mais exploração, violência e maus tratos, do que de amparo, de  proteção e cuidado. E tal relação de desrespeito e ofensas não se atenuaram após a era industrial e têm-se as explicações. Antes da invenção do motor, do automóvel.
Muito da atividade motriz se fazia às custas de animais. Peguem-se os exemplos dos equídeos. Quantos cavalos e muares não foram empregados em operações de guerra até fins do século XIX e início do 20. Mesmo nos tempos digitais, com a evolução do automóvel, e até das naves espaciais. Muitas nações, em muitas plagas desse planeta, ainda se emprega  muito a força animal. Em muitas regiões  inóspitas da terra cavalos e burros (asnos) são os principais meios de transporte humano e de cargas.
A predação de animais é outro triste capítulo que envolve os humanos. Se somos racionais deveríamos usar desse atributo superior para proteger nossos irmãos não  racionais. Sejam eles bípedes, quadrúpedes ou mesmo ápodes por um design de criação. É o caso por exemplo dos anelídeos, dos hirudíneos, dos peixes e ofídios. E mesmo grandes mamíferos. Vejam bem o que andam fazendo com as baleias e outros cetáceos.
Basta rever a biografia dos elefantes, dos rinocerontes e muitos irmãos primatas. Muitos já foram extintos e outros em vias de sê-lo. Para ser bem realista, até nossa mãe Luzia, de que tinha apenas um esqueleto fóssil no museu nacional do Rio de Janeiro. A Luzia que viveu em Lagoa Santa MG tinha quase 12mil anos de idade. No incêndio do museu se transformou em pó, ou melhor em cinzas. Não é que ela estava destinada a tornar-se ao pó. Mas, pelo descaso de autoridades brasileiras, virou cinzas.
O abate de animais como fonte de proteína na alimentação das pessoas revela-se em outro condenável cenário adotado pela sociedade humana. Não que o consumo de carne vermelha mereça repúdio. O que se crítica é a forma de criação, de transporte e abate dos bichos. Tudo se inicia pela forma, e pelas condições onde se dão o crescimento e engorda desses animais. Muitas das espécies para tais fins são confinadas em curtos espaços, em condições degradantes, com extremos desconfortos e indução de ganho de peso com substâncias anabolizantes. O uso desses hormônios se traduz em um dano aos animais e as pessoas que vão se alimentar desses produtos frigoríficos contaminados.
Os maus tratos e condições degradantes na criação de animais para abate têm outros requintes de crueldade. A exótica carne de vitela é obtida com a criação de bezerros em diminutos confinamentos. São tratados com dieta para que a carne fique branca ou rosada e abatidos com 3 a 4 meses. O animal não tem nenhuma mobilidade e não tem direito sequer a tomar sol. Esta e outras formas de violência são  práticas comuns com outros animais como porcos e aves para produção de carnes especiais.
Na produção do “foie gras” (fígado gorduroso ou esteatótico) os patos ou gansos são tratados com uma sonda passada pelo esôfago da ave. O animal fica em uma gaiola e recebe uma dieta líquida contínua num sistema chamado gavage. Desta forma a engorda do animal e o fígado gorduroso se dão em poucos dias. A esteatose provocada no animal é a mesma que acomete os fígados dos humanos.
As técnicas de abate dos animais são outra demonstração da banalização da violência e tortura por que passam os animais.
Muitos dos maus tratos, violência e crimes contra os animais se fazem sob a displicência, sob a tolerância, quando não com a chancela e omissão de governos e autoridades sanitárias e do meio ambiente. Um exemplo para além do absurdo se deu com um navio de carga viva em outubro 2015, em Barcarena PA, no Rio Pará.
Como apurado, a embarcação em precárias condições transportaria 5000 bois para a Ásia. O navio naufragou antes da partida. As carcaças dos 5000 animais continuam no fundo do Rio Pará. Nesse episódio  nada mais se falou, os responsáveis pela tragédia continuam impunes. Trata-se da mais robusta e morta prova do quanto tem sido a indignidade, vilania, desprezo e negligência dos mercadores e autoridades nas relações com os animais.  Fevereiro /2019

João Joaquim - médico - articulist

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