terça-feira, 28 de maio de 2019

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 Deselegância no Celular


A evolução dos recursos da comunicação no mundo é algo extraordinário. A história nesse sentido é algo fascinante. Pode-se afirmar sem hesitação que a comunicação até início do século XIX guardava intima relação com os meios de transportes. Transmitir alguma informação tinha estrita dependência com a logística de mobilidade a longa distância. Em fins do século XIX, houve um progresso com a invenção da telegrafia. Na antiga Grécia por exemplo, época do surgimento das olimpíadas o meio de comunicação mais rápido e confiável era o próprio homem, os atletas olímpicos eram empregados nesse sentido.
Já no fim do século XIX houve grande avanço com a invenção do automóvel e da telefonia fixa. Nesse contexto tivemos então a contribuição histórica de Gerald Ford com o automóvel e de Grahn Bell com o telefone. As contribuições do século XX foram a invenção do avião do Santos Dumont (1906), do rádio, da televisão, da internet e da telefonia móvel. Todos esses recursos extremamente aprimorados no início e evolução do século XXI, não impropriamente chamado era digital ou da pós modernidade líquida, segundo teoria do filósofo polonês Zigmunt Bauman.
Uma temática por demais interessante se refere ao uso de cada invenção, cada descoberta, cada recurso tecnológico. Além do emprego correto de cada instrumento a serviço da humanidade pode-se também analisar os seus desvios de função. Ou seja, o que seria o desvio de função? Seria todo e qualquer emprego dessa ou aquela máquina ou utensílio pessoal, industrial e coletivo para fins nocivos, para toda finalidade que não seja algum benefício para si ou para terceiros, incluindo a coletividade, a sociedade. Tomemos o caso do telegrama. Enquanto foi empregado, porque trata-se de um meio de comunicação extinto ou obsoleto, será que foi utilizado para fins ilícitos, para passar trote, fofoca, ou Fake News. É pouco provável, considerando que em sua existência sequer se conhecia  ou se falava em Fake News ou pós-verdades.
Tome-se o recurso da carta tradicional ou outras remessas pelo correio, sedex por exemplo. Ainda se emprega muito esse meio de comunicação para o cometimento de atos ilícitos, difamações, injúria, ofensas pessoais e outros expedientes delituosos. Como exemplos temos mensagens injuriosas a alguém, o transporte de drogas ilícitas e entorpecentes ; e mesmo bombas e explosivos com intenção homicida. Analisamos os recursos do rádio e televisão. O emprego do rádio e televisão com desvio de função não se dá de forma numericamente significativa. E tem uma única explicação, a questão da exposição e identificação do autor da infração ou crime de que natureza for. Aqui torna-se impossível o anonimato. Ou seja, nesses veículos de comunicação o agressor se faz notar e identificar pela voz e pela cara. 
Por fim, temos então os dois meios de comunicação da pós modernidade a internet e a telefonia móvel. Quando se fala em emprego do telefone, se pode referir tanto ao fixo como o móvel. Nesse gênero de comunicação em se falando estritamente de se ligar, telefonar para alguém. Ainda se pode empregar esses instrumentos para fins nocivos, ilícitos e imorais ou até criminosos. Todavia com os mesmos riscos do rádio e televisão, pela quase impossibilidade do anonimato, considerando que o autor das ofensas pode ser localizado.
A internet dos meios de comunicação moderno se tornou a campeã em desvios de função. E aqui vão as razões. O fator mais importante é a permissão do anonimato relativo. Relativo porque as polícias dispõem de meios e recursos para se chegar ao autor de qualquer trote, ofensa ou prática de crime. Ou seja, através de rastreamento do IP se chega até o endereço do emissor daquela mensagem.
Como fecho de matéria, algumas considerações a respeito dos smartphones, também e ainda chamados de celulares. Na verdade esses tão buscados e desejados objetos digitais se tornaram computadores portáteis de fácil porte manual. Eles se tornaram disparadamente os recursos de comunicação que mais têm desvios de função. Basta imaginar que o que menos se faz com um aparelho de celular são ligações telefônicas. Pesquisa do IBGE aponta que mais de 90% do acesso à internet se faz com um aparelho móvel, tablets ou smartphone.
E aqui volta à questão: não é o aparelho que é incivilizado, antissocial, antietiqueta. O defeito, o vício, o mau uso é por conta do usuário, do indivíduo que porta o apetrecho digital. Mau é o ser humano.
É a eterna dependência, a nomofobia, a fomofobia. Isto é, as fobias de perder a conexão com a internet, o medo de perder o que está se passando nas redes sociais. As cenas useiras e vezeiras indicativas de ausência de etiqueta e deselegância são: estar numa festa, numa missa, num culto, numa reunião, num jantar, na rua, nas recepções públicas e privadas e se atender uma chamada,  passar mensagem, se digitar, se falar de viva voz para os quatro canto do planeta. Foram-se embora a intimidade, a privacidade, o recato, a vergonha. A maioria das pessoas não se falam umas com as outras. Todos ligados e online nas redes sociais. São outros tempos, era digital.   Maio/2019.            

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