terça-feira, 28 de maio de 2019

O tédio do Novo

frustrante mundo novo 

joao  joaquim 
É interessante e curioso como o desenvolvimento científico e tecnológico propiciou a melhora na qualidade de vida das pessoas. Sobre isso penso haver uma unanimidade. Apesar de tantos avanços, tanto progresso em todas as áreas do conhecimento ficam-me ainda algumas inquietações e frustração. Uma inquietação é que nem todos têm acesso à revolução científica e tecnológica. A todas as conquistas, na verdade. Mas, uma exceção é benfazeja e prova que nem tudo é de quem pode pagar. Dia desses vagava por praças e passeios e nesse passeio isso me ficou estampado na cabeça. 
Debaixo de farrapos de cobertor e em andrajos um morador de rua foi despertado pelo seu smartphone
- Alô, não. Eu estou aqui na praça Joaquim Felix. Não, agora não posso porque vou dormir mais um pouco.
As revoluções científicas da internet e da telefonia móvel têm em comum essa característica humanitária e democrática. Quase todos  delas fazem uso com a mesma qualidade e conforto. O indivíduo pode não ter onde cair e repousar depois de morto, mas ele desfruta dos benefícios e futilidades da internet, redes sociais e telefone celular. E uma das facilidade é essa: como os aparelhos de celular são descartados, a cada edição o usuário de poder aquisitivo mais elevado troca de aparelho. Um novo é adquirido e doa o anterior para quem não pode adquirir tal objeto do desejo de consumo da humanidade. Santo atributo descartável.
Disse então de minha inquietação e frustração com a evolução da revolução científica e tecnológica e não sem razão. Se de um lado tanta qualidade e produtividade trouxeram esses progressos, o mesmo não se verifica quando se trata do ser humano em si como pessoa pensante, crítica, criativa, racional e inteligente.
Frente a mecanização e automação de quase tudo, a um sem-número de procedimentos digitais em substituição aos analógicos; ante ao fascinante mundo das múltiplas opções da internet fica uma inquietante pergunta: e o homem (gênero)? Em que ele evoluiu? Que revolução se vê nos atributos de racionalidade e inteligência do bicho humano? 
O que diria Aldous Huxley (1894-1963/69 anos) com o seu admirável mundo novo. Ele foi um visionário da evolução da condição humana. Mas, errou. Errou porque mesmo não prevendo a descoberta da internet e redes sociais ainda defendia o uso do ácido lisérgico (LSD) como energitador da mente e inteligência das pessoas.
Hoje de fato, temos um admirável e embriagante mundo novo da internet, das redes sociais e facilitação da comunicação virtual e telefonia móvel. Mas, quando se olha as pessoas em sua cotidiana lida nos vêm a descrença e a frustração. Ficam sempre as imagens de um franco e irreversível retrocesso nos atributos de evolução, inteligência e criatividade do gênero humano.
A televisão do controle remoto trouxe as pessoas para o conforto do sofá  e da pipoca. Os portões eletrônicos trouxe o comodismo de nem sair dos carros. Até o ato de  ir para a ginástica e padaria se dá de automóvel.
Quando muito , alguns saem  puxando os seus encarcerados pets de estimação e recolhendo os seus excrementos, quando o fazem esses donos, porque às vezes , nem cuidadar dos seus bichos de expiação( ops, de estimação), eles fazem 
A grande maioria das pessoas, estuda, quando estuda, e se torna estagnada até onde estudou. Nada, mas nada mesmo, essas pessoas acrescentam em suas vidas em sentido de formação cultural, humanística e profissional. Muitos profissionais, médicos, engenheiros, advogados, têm um diploma e um manual elementar de trabalho, que se tornam obsoletos com os anos. 
Em conclusão e parodiando Oscar Wilde, a maioria das pessoas não vive, apenas existe, subsiste e sobrevive. Inquietante, frustrante e fútil mundo novo.  Março/2019.  

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