segunda-feira, 29 de julho de 2019

ALExia

As Doenças da Incapacidade de Ler e de Escrever -Alexia e Agrafia 
João Joaquim  
 Ainda no século V a.C, o filósofo Heráclito de Éfeso já dava muita, uma enorme importância à palavra na arte da comunicação. Foi dele a criação do termo logos. Tal verbete tinha e mantem o sentido de discurso, de inteligência, de ciência. Tanto assim que logo e logia entram na composição da maioria dos nomes das ciências. Cosmologia, geologia, sociologia, antropologia, etc.
Sócrates (sem nenhuma obra escrita), Platão e Aristóteles foram outros filósofos e avatares do conhecimento que disseram e deram enorme importância ao uso das palavras, do discurso, no conhecimento das coisas do mundo , do cosmos, dos seres .
Nós humanos somos a única espécie do planeta que fazemos uso da palavra na comunicação. Outras espécies animais e até as plantas se comunicam, mas sem uso de símbolos e palavras como fazem as pessoas. Quando consultamos os achados, todos os registros de arqueologia, de antropologia, de sociologia. Enfim se pesquisar todos os indícios e vestígios de outras civilizações, lá estão salvos e gravados o seu modus vivendi, seus costumes e cultura. Através de símbolos, de palavras, de leis e disciplinas. Fica então consubstanciado que a palavra sempre foi uma marca do homem, mesmo na idade da caverna.
Os sábios de todas as civilizações deram enorme importância ao uso do alfabeto, das palavras e dos números. Em se falando em uso de números tivemos por exemplo a contribuição dos árabes com a aritmética. Foram deles a criação do zero e da álgebra. E muitas palavras para o nosso alfabeto.
Ainda em se falando de oriente tivemos Confúcio e Sidarta Gautama (Buda). Em comum eles defendiam que a palavra quando bem usada, com profundidade e coerência, era uma das ferramentas mais eficazes à disposição do homem, no trato com os seus semelhantes, com os homens do poder e até na interlocução com o sagrado, com Deus.
E o mundo veio evoluindo nas rodas do conhecimento e das tecnologias e chegamos ao planeta digitalizado . Tornando à sabedoria do mundo ocidental grande foi a contribuição da filosofia greco-romana para o mundo civilizado como um todo. Os pensadores gregos foram os próceres e mestres no uso da palavra, da escrita, do logos como discurso, argumento e conhecimento. Tome o exemplo de Aristóteles que muito contribuiu em nominar, em classificar as coisas do universo. Aristóteles (384 a.C-322 a.C) trouxe grande contribuição para a biologia e zoologia com a classificação taxonômica dos seres vivos.
Saltando já para os tempos d.C podemos creditar a vários pensadores a importância que davam ao uso da palavra, do logos, da escrita para nomear as coisas e representar o trabalho pensante. Desses baluartes do pensamento temos dois bem  alinhados com as ideias de Platão: o filósofo grego Plotino (205 d.C) e Agostinho de Hipona (354 d. C-430 d.C).
Por brevidade exigida pela hipermodernidade dos tempos digitais aceleremos e paremos no século XXI. Também intitulado era digital ou modernidade líquida nas palavras de Zigmunt Bauman. Os costumes, o modo de vida, as relações sociais, até a grande ÉTICA e a pequena, a etiqueta; todas se tornaram fluidas, inconstantes, inexatas. Nada dura para sempre, muitas coisas são transitórias, superficiais e plásticas.
A palavra, o logos, a escrita, o diálogo perderam o seu valor. Vivemos em uma sociedade do império das vaidades, das cores do fogo-fátuo( transitoriedade) , da banalidade, da  superficialidade. Nada de sol, nada de universo. Foi-se o interesse pelo cosmo. Mais vale investir no corpo e na cosmética do que na mente e na fonética. Perdemos a capacidade da palavra, da escrita e do diálogo.
Em Medicina, em Psicologia ou Neurologia temos até nome para essa epidemia da modernidade digital. Estamos na iminência de as novas gerações sofrerem , e muitas já dão claros sinais dessa pandemia: Alexia, incapacidade de ler;  teremos então os nerds e aléxicos . Agrafia:  incapacidade da escrita, teremos então os nerds Ágrafos , os que ouvem áudios, veem fotos, imagens, mas estão perdendo  a capacidade de redação, da escrita. Uma geração pouco pensante, pouco crítica, que já terá tudo pronto e acabado. Para que pensar ?  Dá trabalho, fadiga os neurônios. Julho/2019.

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