Vida Vazia
BANALIDADE DE MUITAS VIDAS
Algumas preocupações com as quais a maioria das
pessoas deveria se dedicar ou ocupar ou mesmo pré(ocupar) seriam algumas
indagações sobre a vida. Muitas dessas interrogações poderiam ser sobre a
própria vida. Seriam perguntas diretas e óbvias como o que é a vida? O que tem
sido a minha vida? O que eu tenho feito da minha vida? A humanidade
,representada por mais de 90% das pessoas, leva a vida como um barco ou uma nau
ao sabor de suas velas, que se dirige ou se deixa dirigir pelos ventos que a
(nau) conduz. Trazendo tais questões para o nosso meio, onde vivemos e
podemos melhor testemunhar, fica a impressão de que a cada passo do progresso
científico e tecnológico, mais e mais nos mergulhamos nas banalidades que o
mundo nos oferece. Assim deve ser dito porque nos cenários mercadológicos
acha-se de tudo. E então existem os mercadores de todas espécie de
banalidade, de futilidades e contracultura.
A internet e suas
ubíquas redes sociais como o facebook, twitter e whatsapp vem permitindo , de
fato e de direito, a que todos se mostrem o que são, o que fazem, o que não
são, o que não fazem, e o mais importante: o que fingem ser. Quantas pessoas
são o que elas mostram nas redes sociais? Luxo, glamour, alto poder aquisitivo,
joias, corpos turbinados e torneados de silicone e outras matérias tóxicas como
o botox, etc. E o mais falso, felicidade perene. Ninguém mostra tristeza,
depressão, enxaqueca, cólicas, tédio, conflitos pessoais, infelicidade. A
felicidade permanente se tornou uma marca dos nadadores da Internet, muitos são
náufragos desse perigoso mundo, sem controle de qualidade, sem limites do que
pode e não pode circular.
Nos idos tempos
pré-digitais existiam alguns princípios e valores dos quais a maioria das
pessoas não abria mão. Entre muitos desses quesitos pessoais se falava de
privacidade, de recato, de sobriedade, de respeito recíproco, de vergonha
mesmo, como referido no popular. Acabaram-se, esses valores como bens
pessoais e tudo se banalizou.
Recato e
privacidade são ou eram atributos e virtudes que agora parecem extintos porque não fazem mais parte
das cláusulas de convivência e respeito nas relações sociais. Toda essa
tendência tem uma explicação: a sociedade maciçamente está vivendo sob a égide
e os auspícios de um mercado de consumo sem os crivos da ética e da moralidade.
Exibicionismo e libertinagem vêm se tornando os apelos da felicidade. “Mostre o
que o você não é, exiba o que não tem “. Eis o slogam de uma nova vida
libertária e sem limites. É a modernidade liquida conforme teoria do filósofo polonês
Zigmunt Bauman.
Muitas são as
marcas ou muitos os sintomas dessa nova vida opcional das pessoas. Para tanto
abra-se a página de cada um nas redes sociais e lá estão as cenas sociais do
usuário (a). O começo se dá pelas vestes sumárias, ou nenhuma roupa. Não basta
mostrar o rosto em esfuziantes risos e gargalhadas. O mais importante é mostrar
o que o vestuário deveria cobrir. São pregas e peitos estufados de silicone,
glúteos e rostos estufados de tudo quanto há de enxertos, peles esticadas a
custo de botox.
Botox para
endireitar as linhas de expressão; tudo é mostrado numa irreprimível descontração. O exemplo do requinte do
que se tornou a vida em sociedade é que tudo começa na vida intra útero. As mulheres
se engravidam sem a mínima noção dos rigores e critérios da criação e educação
dos filhos. As barrigas desnudas são despudoradamente exibidas virtual e
publicamente, os partos são gravados e circulados livremente nas redes
antissociais. As crianças ao nascer são mostradas e filmadas sem nenhum pudor,
como se troféus fossem de seus pais.
E para não falar da
banalidade de males maiores, como os da violência, conforme teorizou a
filosofia Hannah Arendt (1906- 1975) algumas pitadas sobre a banalização das
pessoas com os alimentos. O exibicionismo ou exóticos hábitos alimentares da
sociedade chegaram ao grotesco e ao ridículo de primeiro as fotos e posts dos
coloridos pratos, depois eu como. De uma
primitiva cultura ou costume simples, humilde e frugal e até de comunhão
com o divino chegou-se ao banal e ao frívolo. Quanta banalidade e imbecilidade
assistimos em nossa pós modernidade. Algumas nos dão nojo e
engulhos. Outubro/2019.