domingo, 29 de dezembro de 2019

Quem paga o almoço ?

O MUNDO NÃO ESTÁ PARA VAGABUNDOS E OCIOSOS
João Joaquim  
Uma questão humanística que sempre foi debatida refere-se à relação do homem com o trabalho. Tais referencias rememoram às escrituras sagradas. Basta citar a alegoria da criação. Adão e Eva levavam uma vida paradisíaca. Foi então que surgiu a pérfida e serpe mensageira do diabo. Eles comeram do único fruto proibido do Éden. O desenrolar da história é de todos sabido. Tiveram noção da culpa e passaram então a trabalhar para o sustento. Apegando-se a essa visão fica a sensação que trabalho é castigo, suplício e torturante. Na origem vem de tripalium, suplicio. Mas, os tempos são outros, estamos na era pós industrial, mais que industrial vivemos em tempos do liberalismo econômico, era digital ou modernidade líquida  conforme teoria social e dos costumes do filósofo polonês Zigmunt Bauman.
Em poucos termos significa que hoje (vida digital, admirável mundo digital) tudo é plástico, mutável e célere, nada é permanente e garantido. A data de validade das coisas, utensílios, da moda e dos costumes é muito fugaz e volátil.
Quando comparamos as relações de trabalho desse mundo moderno dos novos tempos, com tempos passados tudo é mais exigente, mais competitivo. Além dos sistemas de economia liberal, do capitalismo selvagem temos então um novo sistema, o sistema do consumo. É uma imposição dos novos tempos. Consumir, comer, exibir, aparecer.
Para tanto vamos voltar não muito distante no sentido de se fazer um paralelo, do antes e do agora. Ao analisar a sociedade de antes da telefonia móvel e da internet constata-se o quanto a vida era mais simples, previsível e de pouca ambição e competitividade.  A dinâmica social era discreta, reservada e de baixa rivalidade e competição. Cada pessoa levava uma vida modesta, frugal e com poucas posses para o gozo e fruição da  felicidade. O que almejava um jovem na constituição de uma família? Um emprego para as exigências básicas de sobrevivência, uma casa e pouco mais ,conforme os padrões da época que se resumiram a poucos apelos em comparação com as propagandas, apelos  que se tem hoje.
Chegaram o telefone celular, o aprimoramento e massificação da televisão, a internet e as intrusivas e oblíquas redes sociais. De forma muito rápida  mudaram os paradigmas sociais, os apelos ao consumo. A pessoa então passou a ser “torpedeada” o tempo todo, com o marketing persuasivo e nocivo ao consumo e aquisição dos mais novos e modernos produtos de uso pessoal. Dentre os campeões estão os objetos digitais;  os smartphones, os notebooks, os iphones, os ipads. O mercado de alimento busca os preparos mais gustativos e coloridos na fidelização do consumidor. Um dos grandes consumos da modernidade líquida é a glutonaria, o refestelar, empanturrar de comida e bebida; como se a cada farra gastronômica fosse o último dia da vida.
E eis que ideologicamente, emocionalmente tem-se a sensação difusa do pertencimento, do sentimento de estar inserido na tribo global da posse e do consumo. Essa percepção de tantas mudanças em relação ao materialismo do consumo se vê com a inserção da mulher no mercado de trabalho. Em tempos não muito remotos a mulher era considerada predominantemente como uma profissional de prendas domésticas, na manutenção e cuidados da casa e dos filhos. Hoje, não. Houve uma mudança radical. A mulher, por uma exigência dos sistemas se equipara ao homem em todas as profissões e mercado de trabalho. Tantos assim que muitas adiam ao máximo a gestação de filhos e outras nem filhos querem. Elas dão preferência e prioridade às carreiras profissionais e aos empregos. Tudo por essa nova mentalidade na relação com o mercado de trabalho. Os novos tempos e o admirável mundo digital e tecnológico não mais permitem que os ociosos, desocupados e vagabundos vivam dignamente. Isto porque se eles desfrutam de todos os pratos e objetos digitais, só podem estar subsistindo de forma parasitária, às expensas de outro trabalhador que os sustentam. E tal expediente se torna  indigno, predatório. Porque como participar de todos os objetos da modernidade sem trabalhar, sem um poder aquisitivo que faça frente a essas demandas ? Alguém tem que pagar essa conta. Quem pagará ?

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