quarta-feira, 24 de junho de 2020

Uma Pá que...

A PALAVRA

João Joaquim

Eu dou de começar essa digressão pela palavra. Notemos como a palavra palavra já diz muito em si mesma. Pá que lavra. Não fica apenas nesta função. Cada qual(ele) e cada quala(ela) podem fazer dela um instrumento multifuncional. Uma arma, uma faca, uma caneta, um agente corrosivo, cáustico, acre, acrimonioso, odorífico, fétido ou bilioso. Vai depender de que pá se utilize.
O português é fértil  em pás e lavras. Muitas são as palavras que já trazem implícitas as suas mensagens, os seus símbolos, signos e significados. A onomástica, a patronímia já o dizem muito bem o porque das pessoas empregar com convicção esse ou aquele nome para designar os filhos, os bichos, as coisas. 
Todavia, as pessoas que assim procedem se não souberem bem a origem da palavra  trarão um significado diverso do que pretendem. Na dúvida o melhor é se valer do arroz com o feijão  e empregar João e Maria ou José e Josefa  e não se arrepender depois.
Muita vez já ocorrera comigo de ter que justificar e trocar os termos  ou até pedir desculpas por palavras cuja  fonética soavam meio chulas ou de significado muito distorcido de sua realidade. Eu tomaria dois nomes de medicamentos que me trouxeram alguma dificuldade no adicional prescritivo. 
Foram nomes passados por telefone, daí o soletrar para o fácil entendimento. Re-bo-xe-ti-na, reboxetina ®. Ao que a paciente do outro lado da linha indagou meio pasma: como chama mesmo o remédio doutor ? Eu optei por receitar um sucedâneo e não  trazer mais embaraço na compra do produto. Não sei porque o medicamento foi retirado do mercado. Era empregado para depressão. Dá para imaginar o porquê da suspensão.
Outro caso de remédio, tido como última opção no tratamento de insuficiência cardíaca. A senhora septuagenária, ofegante, solicita por telefone uma melhor opção na melhora de seu quadro clínico. Ato contínuo, eu soletrei a droga: Sa-cu-bi-tril. Sacubitril ® . Ante a estranheza pela cacofonia e sugestiva chulice  do termo não tive alternativa como convencer a desconfiada paciente a adquirir e tomar o medicamento.
E assim, vamos deparar em nosso léxico com um sem-número de palavras que para algum estrangeiro vão sugerir o que não é. Alguns exemplos ilustrarão essa dificuldade ou saia justa.
Tergiversar; nada a ver com ter de versar ou poetar; significa escusar-se ou pretextar(-se).
Sumidade ; nada a ver com quem some , mas qualquer  personalidade eminente(# iminente).
Pacóvio ; nada a ter com uma pá na cova, significa imbecil, idiota, néscio, fútil.
Inócuo ; nada a ver com algo em região orificial de alguém; simplesmente inofensivo, anódino , neutro.
Insolente ; nada significa de sol ou lente; mas desagradável, rebarbativo, antipático.
Engodar ; muitos obesos, quando muito repimpados buscam tratamento para não mais engordar. Só que alguns engodam a si mesmo, mentem. Enganar ou enganar-se.
Arroubo; sugere o ato ou inclinação de alguém com uma forma de crime, furto ou roubo . Verdade que muitos gatunos fazem o seu ato com muito arroubo; entusiasmo, fervor, energia.
Alcunha; esta também sugere algo que não é . Ah! O cunha( Eduardo cunha), o cunhado. Nenhum nexo, significa cognome, apelido.
E para finalizar duas palavronas que trazem sentido curioso e algo a ver com a sugestão de sua fonética.
Elucubração; trata-se de qualquer atividade pela madrugada a dentro, atividade intelectual, mental, estudar, administrativa, etc.
Concupiscência; palavra que além de não sugerir algo ou feito moralmente e socialmente belo, de fato refere-se à lascívia, inclinação ou sentimento libidinoso, erotismo e devassidão carnal.
Ficam aqui então esse poder das palavras, um instrumento poderoso em construir, desconstruir, trazer uma mensagem poderosa que vai certeira ao nosso alvo ou interlocutor.

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