segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O mando dos bichos

 

 A POTESTADE DOS BICHOS

João Joaquim  

Aquele território vinha sendo dominado, ou melhor administrado há anos por diferentes formas de governo irracional. Era o mundo dos ferozes animais. Em diferentes épocas havia alternância de domínio. Foi então que os bichos se reuniram e criaram um novo estamento, uma espécie de cartilha de governança. Reunida em coorte dos animais, ficou pactuada a forma de atuação, delimitação territorial, o que cada animal podia e não podia fazer, inclusive não ultrapassando as linhas demarcatórias do mando um do outro. Cada um deixava os seus odores por onde andasse.

Os pontos cardinais da carta administrativa eram assim:  O comando geral era composto de três potências, cada potência tinha uma QG ou quartel general, onde ficava cada potestade dessa potência. Cada comando deveria atuar dentro de seu quadrado, delimitado pelas linhas divisórias, as regras eram de um chefe territorial não invadir o território do outro, tais eram as cláusulas de consistência pétrea, aquelas que não se quebram nem por raios que as partissem.

A potência de comando mais abrangente, porque tinha o dever de comandar outros animais fora dos quadrados dos outros poderes tinha como que um dever ou regalia maior, porque exercia comando e administração de maior alcance geográfico. Este comando mais abrangente executava tarefas de distribuir viveres e presas para os bichos gerais e subalternos. Bichos esses dos mais variados caracteres, de alguma ou nula ferocidade.

Muitos desses bichos de menor ou nulo poder territorial, podiam se organizar em manadas com denominações escolhidas pelos membros dos rebanhos constituídos. Esses associados pequenos, tinham sempre um líder grupal, ou mais de algum comando nas respectivas coortes. Assim mesmo que escreve com dois os, coortes. Não misturar com Corte(ô) porque traz alguma similitude com certos grupos dos humanos. Essas coortes menores, aconteciam em algumas delas de ter alguma afinidade com a potestade executiva maior e geral e tinham de forma compreensível, mas não entendível essa explicação. Mas, tudo ia se ajeitando porque tinha as organizações de bichos notificadores, algo parecido com a imprensa dos humanos. Então por pressão, a potestade maior se urrava no aceno de que estava cumprindo sempre o estamento maior, nas suas várias cláusulas.

Este comando de maior execução tinha como chefe e líder o Tigre. Seu poder de execução maior não se dava porque detinha o maior urro, mas porque assim estabelecia a carta decidida em reunião de grupos representantes gerais dos bichos. O tigre, executivo e potestade maior passou a não  ter  limites para emitir os seus urros e por vezes o seu esturro, incomodando as outras potestades.

Na segunda potência estava o Leão, tido e havido por enérgico, bravo, valente, de pouco medo em seu quadrado territorial. Com a quebra dos decoros bichados da potestade geral, a potestade do leão deu-se por afetada e desrespeitada em suas demarcações e atribuições administrativas, porque era esse poder que julgava as infrações, as contrafações e invasões territoriais e diretivas dos bichos gerais. Essa potestade era uma espécie de sentinela, patrulha das regras gerais do estamento maior, a constituição geral das feras e dos mansos e submissos habitantes territoriais.

A 3ª potência, era comandada por duas potestades de igual ferocidade e mando territorial. E elas se davam muito bem porque se reuniam com certa frequência, numa espécie de confraria maior. Esse 3º poder tinha o papel também precípuo no fazimento e urdidura de muitas regras, ou todas as regras gerais vigiadas no todo e geral pela potestade do leão. Eram então o comando da onça e do leopardo.

O mais instigante, curioso e surpreendente é que volta e meia, e muito mais do que meia volta, a potestade geral e executiva, invadia as marcações territoriais dos outros poderes, com emissões de urros, grandes ruídos e alaridos, sempre apoiada(essa potestade)  por aquelas coortes com mais afinação em vozes animalescas e apoiamentos. Havia nítida e explícita quebra do que tinha sido acordado no estamento maior dos bichos. A coisa se dava assim, uma potestade claramente urrava como que mais alta do que a outra fera. Esta fera também emitia os seus urros e ruídos estrondosos. Mas como todos eram feras, havia como que um tácito respeito ao poder e potestade do outro, um urrozinho menor, um grunhido pouco audível aqui  outro ali e tudo se ajeitava e tudo ficava como dantes no território geral dos mastodontes.

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