sexta-feira, 23 de outubro de 2020

SEMINAL

 filhos e jovens...

 

O projeto intelectual do filósofo teve a finalidade de testar maneiras de pensar que escapassem do caminho da erudição e da aplicação de ideias alheias. Quando se recolheu para escrever os Ensaios, sua decisão era voltar-se para si mesmo e reconstruir a própria história por intermédio de temas escolhidos ao acaso. Em Montaigne, o processo formativo coincide com o conhecimento de si, lançar-se nas experiências e tomar posição perante os acontecimentos da vida, informa Maria Cristina.

Ao mergulhar em assuntos tão díspares quanto a perseverança e os odores, o autor realizou investigações que misturam experiências de vida a conhecimentos adquiridos por todos os meios, dos formais (tratados e clássicos literários) aos informais (conversas, leituras ligeiras, lendas populares). A primeira pergunta é que sei eu?, para começar com uma grande dúvida e não com uma grande certeza – nem mesmo a certeza de não saber nada.

Como cronista, Montaigne invariavelmente se declara ignorante e inculto, embora seus ensaios estejam recheados de citações gregas e latinas - uma das muitas contradições propositais que os tornam tão ricos.

Leitor devoto da tradição filosófica cética, Montaigne foi partidário da ideia de que a razão por si mesma não garante a existência de nada nem sustenta argumento algum. O homem, para ele, não era o centro do universo, como queriam os renascentistas, mas um elemento ínfimo e ignorante de um todo misterioso e muito mais próximo dos animais e das plantas do que de Deus. A escrita amena e ponderada dos Ensaios muitas vezes impede que, numa primeira leitura, se perceba seu potencial demolidor – tanto que a obra só foi proibida pela Igreja mais de80 anos após a morte do autor. Não que ele fosse ateu. Considerava-se cristão, mas não aceitava dogmas nem, sobretudo, a lógica que a religião costuma imputar aos desígnios divinos. Daí que só resta ao homem voltar-se para si porque as únicas certezas que tem de antemão se referem aos limites do corpo e à inevitabilidade da morte. Sobre o mundo exterior, a melhor atitude é comportar-se como um estrangeiro no primeiro dia numa terra estranha - pelo menos evitam-se as ideias preconcebidas e legitimadas pela tradição

Montaigne  em essência 

Não a pura opinião do blogueiro

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