quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

SEM SENTIDO

 

O ABSURDISMO DE NOSSAS VIDAS

João Joaquim  

 Dentro das disciplinas de Humanas, Filosofia, de Psicologia se estuda o mito de Sísifo. Muito interessante.  Mitologia Grega é rica nesses símbolos, nesses mitos que não são mentiras pelos ensinamentos que eles nos traduzem, pelas alegorias, pelas analogias quando trazidos para as relações humanas, para a vida das pessoas. Afinal eles não são de geração espontânea, são frutos de mentes luminosas, de pensadores de alto quilate. De homens que usavam e muito a massa cinzenta e o córtex cerebral. Idos tempos, quando os humanos eram mais humanos.

Sísifo foi um baita personagem, foi um deus menor que algumas versões dizem que era de um escalão inferior, um mortal entre os homens de Tessália, futura Corinto. Ele foi punido simplesmente devido uma fofoca. Segundo conta o mito, Júpiter ou Zeus, não importa qual destes, sequestrou Egina, filha de Asopo, deus dos rios. Este pai ficou atormentado pelo sumiço da filha. Sísifo, tido como astuto, ardiloso e muito esperto, conta para Asopo, o sequestro da filha, delatando quem? O deus maior e todo poderoso Zeus.

Sísifo então é condenado a morte, que lá na Hades, inferno, é tanatos. Funciona então a astúcia e malícia de Sísifo. Ele prende tanatos (a morte). O inferno passa a não ter mais mortos. Outro deus entra em açao, Ares. Que liberta tanatos.... corre os fatos e eis que Sísifo é duramente castigado por Zeus. Ele é condenado a rolar uma pedra (uma rocha) até o cume de uma montanha. Lá chegando essa rocha despencava até ao sopé da montanha, e o trabalho retoma. Assim, incessantemente, eternamente. Triste, não? Trabalho de Sísifo. Um moto-continuo, um eterno retorno ao mesmo duro, duríssimo trabalho, sem resultados, sem lucro, sem corolários construtivos para sua vida. Olha as teses de Nietzsche também entrando em açao= eterno retorno.

Existe um outro autor, escritor e filósofo magnifico, Albert Camus (1913-1960), de origem franco-argelina, ele é o autor da obra o Mito de Sísifo. Neste pequeno, mas não menos simbólico trabalho, Camus, fala do mito, do absurdo da vida, do não significado da vida, do ângulo que ele, brilhantemente aborda. A temática central é esta, a vida, a o absurdo e falta de sentido e o suicídio. O suicídio pessoal, o filosófico e o político. O enredo não é laudatório sobre o auto extermínio. Ao contrário, ele estimula a que o indivíduo enfrente, proteste contra os absurdos da vida.  

Ao se analisar os cenários das vidas comezinhas, ordinárias das pessoas, podemos muito propositalmente fazer várias alegorias do quanto a vida dessas milhares de pessoas se enquadram no estilo de vida a que se entregou compulsoriamente a personagem Sísifo. Para não estender tanto os exemplos citemos três, bem repetitivos a que se entregam e se naturalizam os homens e mulheres nas suas veleidades pessoas até ditas de  boa vontade.

Nas relações conjugais. Muitos são os casamentos que atingem o estágio tal que viram aquele ramerrame, aquele reco-reco, aquele tom monocórdico, aquela salmodia. Levantar, trabalhar quando trabalha, no mesmo diapasão, voltar para casa, adotar os mesmos hábitos de comer, comer, comer, dormir, levantar de novo, a mesma montanha, a mesma pedra que rola, etc.

A convivência com os bichos e animais de estimação. Aqueles irracionais de pequeno porte, que são presos ou prisioneiros, os privados de seus instintos de liberdade, presos em apertados apartamentos, que andam poucos metros contidos em coleiros, sofrem transtornos geral de ansiedade diária, que são torturados pelo estresse como prisioneiros.  Que ao fim e termo das finalidades das coisas, não tem nenhuma utilidade. Como se todos os dias cada pessoa rolasse uma pedra montanha acima, despencasse, subisse de novo, de novo, de novo, de novo. Inutilidade absoluta.

Terceiro modelo de inutilidade na vida social das pessoas. As tão rebarbativas, ativas e repetitivas frivolidades e mediocridade das Redes Sociais. Todo dia, os mesmos posts, as mesmas fotos, as mesmas fofocas, as abobrinhas, as mesmas platitudes, os mesmos xingamentos, as mesmas despudoradas e impudicas exposições, as fotos das comidas, dos pratos, dos turismos, dos truísmos, das boçalidades, do vazio absoluto em se falando de acréscimos construtivos, de formação e cultura das pessoas. Sísifo no mais alto grau.

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