quinta-feira, 29 de abril de 2021

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OS PRÍNCIPES E PRINCESAS DA CASA

João Joaquim  

   Parodiando um certo célebre bardo britânico, na relação dos pais com os filhos existem muito mais coisas entre essas personagens do que apregoam todos os ramos sociais e científicos que se dedicam às ciências humanas, sociologia, pedagogia e ciências jurídicas.

   Muitas são as indagações, inúmeras  as dúvidas que pairam na mente dos pesquisadores e mesmo das pessoas comuns do porquê de um filho ou filha gerados em moldes normais, nas diretrizes tidas e havidas como de civilidade e de ética; de esclarecimento repetido, à exaustão, do que é correto, honesto, produtivo, respeitador; enfim de quanto seja belo e bom nas relações humanas e com o meio ambiente; ainda assim, este filho ou filha foge muitas vezes dessas balizas, desse padrão de comportamento; e se torna um rebelde, e faz tudo ao revés da criação e formação recebidas? Por que? Eis a grande interrogação que soa aos ouvidos daqueles que as tais questões se dedicam e tentam respostas que convençam a humanidade. Aos pais, principalmente, que criaram esses filhos com amor, com boa educação, com investimento afetivo, escolar e até com reforço psicológico e adicional educacional. Todo amor e afeto dei ao meu filho, porque ele desviou do bom caminho?

   O que se dispõe de momento é hipótese. São teorias e argumentos a muitos plausíveis e até com laivos e lavores de convencimentos. E são as explicações que temos no estágio de nosso desenvolvimento filogenético e ontológico. Filogenia, estudo da espécie, ontologia, estudo do indivíduo, do ser em si.

   Dentre essas averiguações dispomos dessas que se não nos satisfazem sobejamente, são elas que temos de momento.  Uma delas, diz que o cérebro humano, nas suas áreas relativas à conduta, afeto e gratificação possui uma fácil vulnerabilidade a todo tipo de norma e regras propostas e exibidas por terceiros, exemplo; pessoas fora do meio doméstico, da família. Em explicação mais clara de compreensão, o pai, a mãe ou tutor de uma criança ou adolescente fazem-lhe a função do primeiro professor, monitor e referencial de uma vida pura, honesta e ética. E assim encaminha ou espera que esse adolescente ou jovem resultará em um adulto ou adulta considerado um cidadão bom, de ótimos dotes éticos, sociais e generosos. São as pessoas parentais ou das relações fora do lar exercendo mais influência na conduta e personalidade dos filhos.  

   Uma segunda tese explicativa e sensível na sua essência é de que as conexões sinápticas e psíquicas do ser humano são excessivamente propensas à aceitar tudo aquilo da natureza do mal, do feio, do antissocial, do contrário daqueles atributos recebidos e ensinados pelos familiares, provenientes dos pais, tutores, instrutores e primeiros educadores. É o efeito do mal sobre o bem.

   Trazendo tais teses e hipóteses do comportamento dos filhos e filhas para os tempos das famílias atuais, ficam bem aceitáveis, embora não confortantes as teses desenvolvidas por cientistas e estudiosos da conduta, do comportamento, das atitudes e relação dos filhos e filhas para com os pais uma vez estes atingidos a vida adulta e maioridade. Período da vida em que esses filhos e filhas já estão com muitas coisas (boas, ruins, antissociais) já impregnadas em suas áreas e circuitos neuronais. Uma vez assimiladas, tais informações se tornam como máculas, como tatuagens, como tintura negra em roupas brancas. Nenhum sabão, nenhum antisséptico ou dissolvente as remove dali e se tornam permanentes, indeléveis, impagáveis, como incrustadas no comportamento, nas atitudes e caráter do sujeito e sujeita.

   Todos esses fenômenos são bem perceptíveis no mundo em que vivemos. Eles sempre existiram. Todavia, as Tecnologias da Informação – as TIs os tornaram mais prevalentes e visíveis. A internet, o telefone celular, as redes sociais de um modo geral capilarizaram de forma mais fácil e massivamente esses padrões de comportamento, de conduta, da inevitável relação dos filhos com os pais. E tal fenômeno se faz muito presente com a chamada pedagogia das liberdades individuais, dos Direitos Humanos. Dos Direitos a tudo, da não exigência dos limites, do que seja os significados do sim e do não, do tudo pode, do é proibido proibir. Do vigor e vigência da Chamada lei da palmada: que apregoa nas famílias e escolas, não se pode constranger, incomodar, impor regras aos infantes e pequenos príncipes do lar, os filhos e filhas mimadas e protegidos excessivamente.

   E assim com tanta liberalidade difusa, da libertinagem de comportamento dos filhos e filhas para com os pais construímos com a internet e o telefone celular a chamada fábrica de cretinos digitais, como bem o define o neurocientista francês Michel Desmurget.

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