sexta-feira, 28 de maio de 2021

Ordens e Tiranias

 

DESOBEDIÊNCIA CIVIL

João Joaquim  

 

Nesta suave digressão literária quero falar sobre a desobediência. Começo pela genérica, aquela vista e assistida por muitos pais, de falas de correção, de limites, do que pode e não pode no convívio da casa. São relações dos pais. Com os filhos, com os irmãos, com os coleguinhas da escola, com os amigos, com os mais velhos, os mais idosos, com os parentes de todos os graus. Esse gênero de desobediência, sim, deve ser corrigido com limites e palavras pedagógicas, de ordem, do que pode e não pode fazer. Porque é da natureza humana, da criança assimilar as inclinações do mal, do ilícito, das transgressões, do feio, do desumano e desonesto. O filosofo Aristóteles já ensinava que a Ética e a prática do bem devem ser treinadas para serem incorporadas como expedientes na vida adulta. 

   Uma outra forma de desobediência é a chamada Desobediência Civil. Trata-se de uma forma civilizada, esclarecida, lúcida e democrática de não se acatar toda lei, norma, decreto ou ordem emanada de um governo que ressoem como injustas, inadequadas e danosas para a maioria das pessoas, a uma comunidade, ao meio ambiente, à saúde individual ou coletiva. Pode também ser aquela norma, portaria ou medida provisória ou permanente que viole um direito fundamental. Para melhor substanciar o conselho que proponho da desobediência civil cito exemplos da História.

   Na verdade, busco um caso da Literatura Universal. Trata-se da peça Antígona de Sófocles. Em resumo: a obra retrata a desobediência civil de Antígona contra a Rei de Tebas, Creonte. Antígona bravamente reivindicou o direito de dar um enterro justo ao seu irmão Polinices, que tinha sido morto em combate por guardiões do rei. Ela, essa irmã, se insurgiu contra as leis criadas pelo homem (rei de Tebas).

   Na história é emblemática a vida e participação de Mahatma Gandhy na Independência da Índia, do jugo, da colonização britânica, de quem foi cativa e escrava por muitos e muitos anos. Ele, Gandhy, encabeçou e liderou uma longa e exaustiva campanha denominada desobediência civil.

 E o mais admirável, sem armas, sem violência. Foram apenas longas e populosas caminhadas, discursos, campanhas de convencimento e esclarecimento, sobre a exploração dos tiranos colonizadores, sobre os impostos abusivos e toda forma de lesão a direitos os mais básicos. Gandhy foi um grande herói.

   Vele a lembrança de citar outros dois grandes líderes que arregimentaram multidões para a desobediência civil: Marthin Luther King, nos Estados Unidos, contra toda forma de racismo e discriminação social, nos Estados Unidos. E por último Nelson Mandela, da África do Sul. Perseguido e preso, quando livre da prisão, ele lutou e aboliu o Apartheid, essa forma era a mais cruel e repugnante prática de racismo e discriminação étnica.

   Assim pensado, sobre seus efeitos humanísticos, essa forma de desobediência para nossos dias, ela bem que pode ser aplicada e exercida em nossos tempos de Pandemia de Covid. Se há normas, portarias, discursos, recomendações, ou até kits contra o coronavírus que se encerrem em chacota, prescrições infundadas e falas de gente topeira e troglodita, charlatanismo puro.

   Essa, sim, é uma forma de desobediência civil, a mais santa e sensata das desobediências. Todos os que a quiserem praticar, contem comigo.

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