domingo, 5 de novembro de 2023

Filhos sindrômicos

 UMA QUESTÃO por já demais debatida e até rebarbativa, porque todos dão o seu palpite e parecer é a referente a geração de filhos. A condição e direito de maternidade, de paternidade. E ainda mais, o direito e prerrogativa que assistem a cada pessoa em não gerar descendentes.  Esta opção e decisão, por razões variadas, por vezes criticada por parentes e aderentes e segmentos sociais. Mas, é um direito inalienável, inegociável. “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. Palavras da Personagem Brás Cubas, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Que realismo bilioso este do Machado de Assis.

Ao que sugerem estudos e estatísticas, a geração de filhos, ou mais especificamente o tamanho da prole das famílias, se dá inversamente proporcional ao grau de desenvolvimento da Nação, da Sociedade onde vive a pessoa, e do grau de lucidez, esclarecimento, cultura e formação escolar da própria pessoa (do pai e mãe). Tomem lá por exemplo os países com um Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e índice Gini (desigualdade de renda) altos.  São nações onde os cidadãos possuem poucos filhos, quando possuem. Mesmo essas nações oferecendo as melhores escolas, as melhores políticas de bem-estar social e cultural. Suécia, Suíça, Escócia, Islândia, Japão, Coreia do Sul, Noruega como exemplos.

Tome-se o exemplo do Brasil. Trata-se de um país com poucas e tacanhas políticas públicas voltadas a planejamento familiar e controle de natalidade. Iniciativas e orientações que deveriam partir com muita ênfase dos governos de todas as subscrições: federal, estadual e municipal, através do considerado eficiente SUS.  Não existem essas políticas de forma eficaz e séria. Governantes populistas e demagogos gostam de cifras altas de população, porque essas pessoas são assistidas com bolsas, benefícios, ajudas mensais por filhos. Em troca, há o princípio do fisiologista, ou do toma aí, e depois me devolva aqui com votos na reeleição ou recandidatura aos cargos eletivos. No brasil tais práticas são muito encontradiças. Basta ver.

E então temos o que temos por aí. Famílias de baixa renda, pobres, desempregados, desvalidos, muitas pessoas em situações de vulnerabilidade, famintos e desnutridos e que geram proles numerosas de filhos. A pergunta que fica seria essa, provocadora e desafiadora aos governantes e famílias: que perspectiva, quais as chances de essas crianças atingirem a vida adulta como cidadãos de bem, produtivos, laborativos, independentes? Porque essas condições aqui listadas exigem que a criança tenha um crescimento e desenvolvimento normais, uma alimentação saudável e mais importante: educação e escolas de qualidade. Bem compreendido esse binômio, educação de qualidade atrelada ao nível escolar e cultural dos pais e ensino de qualidade como complemento à formação dessa criança, adolescente e jovem.

Os parágrafos aqui introdutórios foram para chegar a uma questão central e simbólica. Imaginemos então o direito de maternidade ou paternidade. E nesse interim, eu gostaria de entrar na mente, na consciência e juízo crítico da seguinte condição: imagine um casal, cujos cônjuges têm uma síndrome genética, nanismo por exemplo. Ou outras alterações genéticas, cuja chance é  gerar um filho, e este terá a mesma síndrome dos pais. O nanismo ou síndrome de Down por exemplo. Tanto o ginecologista quanto o geneticista, alertarão aos pais; atenção! Se vocês tiverem um filho ele terá a mesma limitação genética; com todos os gravames e carências terapêuticas e sociais de vocês pais. Esse filho necessitará de fisioterapia, de fonoaudiologia, de ortopedia, de pediatria, de suportes vários para ter uma vida digna e de qualidade.

E então, temos a instigante, a preocupante e desafiadora reflexão. Por que o desejo e capricho, ou desvanecimento ou outro sentimento de igual valia da paternidade ou maternidade é maior do que o sentimento e certeza de gerar um filho com uma doença, uma síndrome tão estigmatizante, tão propensa a preconceitos, rejeições e sentimentos nocivos da sociedade? Por que?

Como é, de fato, de crítica e de consideração, como é difícil interpretar as opções, as tomadas de decisões das pessoas; sabendo que referidas opções e escolhas resultarão em limitações, vida laboriosa, custosa, sofrível e desafiadora para outros seres! Por quê! Difícil explicação, seja no âmbito da Psicologia Social, da Sociologia, da Psiquiatria. Como é impenetrável, como é incompreensível as sensações e sentimentos de certas pessoas na tomada de tão profunda e tão sérias e erradas decisões! Porque essa síntese e veredicto são dos mais realistas e tocantes na consciência, na responsabilidade e sentimentos de humanidade e generosidade de candidatos a mães e pais.

 O que é mais saudável, compreensível e a busca da harmonia, da felicidade, do bem-estar? Primeiro, a minha satisfação da maternidade e gerar filhos sindrômicos e portadores de necessidades especiais ou a abdicação desse primitivo e cultural desejo e certo de não gerar pessoas deficientes? Qual melhor escolha? A de Sofia, ou nenhuma?

 

João Joaquim

Um comentário:

Dhoria Vijle disse...

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