segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Ética e Etiqueta como gestos civilizatórios

 Segundo o filósofo, humorista e pasquinista (jornalista do Pasquim - RJ) Millôr Fernandes, a etiqueta é uma ética em pequenas porções. Partindo do adágio ou brocardo popular desse grande e genial brasileiro, vamos discorrer sobre esse expediente e atitude nas relações humanas. Falemos mais especificamente das relações humanas de proximidade. Entre estas, as interações familiares. Ética familiar é tão significativa e tão edificante (para o bem e para o mal, naturalmente) que deveria constar dos currículos escolares. Ao menos nas grades do ensino fundamental e médio. Basta ter como justificativa que no ensino fundamental, partindo do maternal, jardim, 1º grau, até o ingresso na faculdade, a criança, o adolescente, o jovem está em pleno desenvolvimento físico, psíquico, emocional, social e ético. As escolas farão os complementos com ensino técnico e cientifico e profissional.

Algumas noções de ética para guardar. Ética é a promoção ou prática da virtude. É levar o bem-estar e felicidade a outra pessoa. Um pensador que melhor definiu a Ética foi Immanuel Kant, no princípio chamado imperativo categórico, assim: cada ação pessoal deve ter um valor e uma aceitação universal, um bem para todo ser humano ou animal e o planeta. Um exemplo simples: promover a sustentabilidade do planeta, do meio ambiente, de uma destinação correta e higiênica do lixo, seria um imperativo categórico na visão de Kant, porque faz bem para todos, inclusive para quem pratica essa ação. Uma boa metáfora nesse sentido é o que faz bem para a abelha deve também sê-lo para a colmeia.

Com este entendimento e premissas, analisemos a chamada ética nas relações dos membros parentais, seja uma relação de coabitação (o mesmo teto, a mesma cozinha), os encontros pré-agendados, um almoço, um churrasco, um encontro festivo, uma data de celebração como aniversário ou feriados. Essas ocasiões e celebrações de ajuntamento e confraternização (reunião de irmãos, literalmente) são bons exemplos de como cada pessoa deve proceder aos preceitos da Ética e da Etiqueta nas relações parentais.

Hipótese uma: o encontro se dá na casa de um convidador (anfitrião/anfitriã). Pode ser normal e até de bom alvitre que cada convidado, conviva e comensal contribua com esse cardápio, no ato de levar algum ingrediente, um pacote de arroz, de feijão, porção de carne de boa qualidade. Trata-se de uma forma fraterna, civilizada e contributiva para esse almoço, jantar, churrasco. Agora, imagine essa cena em algumas famílias: o folgado e convidado levar uma garrafa de Coca-Cola, um quilo de mandioca ou batata, um quilo de farinha das ruins, uma farofa ordinária, etc, etc. Beira ao ridículo, não? Melhor então nada levar, e se passar por um folgado, um mero comensal e desfaçatado. Faltou a esse desavisado e dissimulado parental o decoro de grupo e fraternal e rubor cutâneo. Basta prestar atenção, porque eles existem!

Hipótese duas: é comum haver uma combinação dos iguais encontros, sejam parentes ou amigos, agora em bares, churrascarias, espaços de alimentação. Restaurantes. Comidas das boas, de agrado geral. A mesma natureza, as digressões, momentos de regalos, prazeres, patuscadas, festivas horas. Findo esse encontro de satisfações gustativas, refestelos e libações alcoólicas ou refrigerantes (refrigério dos instintos) dos instintos gustativos e digestórios. O que é ético, de etiqueta, de honestidade humana e universal? A divisão equânime da conta. Não é de ver que existem aqueles e aquelas, os folgados, os dotados de caradurismo e expansivos que disfarçam, se resvalam de todo jeito e não pagam a sua cota de prazeres e regalos. Muita cara-de-pau, não?

E para finalizar. Quantas não são as pessoas que vão à casa de um parente, ou qualquer espaço contratado, tendo ou não garçons e profissionais para servir. Pior se for na própria casa do convidador/anfitrião (a). A pessoa senta-se à mesa, se empanturra, bebe, ingerem as apetitosas e capitosas sobremesas, chocolates, manjares.  Terminada a comilança, os rega-bofes, os bofes das gentes, jovens e guapos indivíduos, moços e moças coradas e saúde de ferro; saem da mesa, sem sequer lavar seus talheres, copos e tirar seu próprio lixo do prato e da mesa. São déficits mínimos de generosidade, os gestos frugais, elementares, solidários e civilizatórios de etiquetas, e compartilhamento de prazeres e deveres éticos. Em geral esses indivíduos, os folgados e dissimulados, trazem uma causa originária para esse comportamento. Se investigar bem, vai ter.

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