quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Pechas e labeus hereditários

 Não foi sem razão, porque razão ele tinha acima dos humanos, que o mais indigitado e nomeado bardo inglês cravou com seu famoso personagem “ Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar sua vã filosofia”. Esse ditinho de Hamlet para Horácio, bem que pode ter variadas traduções. Mas algumas são bem pertinentes e expressam a cultura de muitos humanos. Pode-se dizer que Hamlet representa a paixão, os sentimentos desmedidos, Horácio representa a racionalidade.

Esse excerto a seguir explica também: “Há mais no mundo do que se consegue explicar ou racionalizar. Mas, principalmente, devemos incorporar nossa filosofia nas nossas ações. Todos os dias, temos a chance de tomar decisões com base em uma moldura moral. A filosofia estoica é prática e pode nortear pensamentos e ações, independentes de crenças e religiões”.

Fazendo uma análise simples e compreensível para o entorno social de cada família e pessoas, não se pode querer que a vida seja regida apenas pelas Ciências, pelas Tecnologias de toda espécie. Existem a esfera mística, a energia anímica e espiritual que regem a vida social, de uma família, de uma pessoa. Não há como dissentir e negar essa realidade. E o que tem a ver essas propriedades das pessoas com a saúde orgânica e mental de cada um?

Pensadores de Filosofias diversas, oriental e ocidental, espiritualistas notáveis como o foram Alan Kardec, Chico Xavier, tinham a mesma concepção de que as pessoas na sua inteireza e composição abstrata, espiritual e anímica, sofrem influências para a benignidade, a bondade, a virtude; ou ao reverso, para a malignidade, o nocivo e tóxico. Referidas interpretações são descritas em outros ramos científicos, como a Psicologia, a Psiquiatria e mesmo a Medicina convencional.

Na própria Medicina Organicista, nas especialidades de Psicologia Médica e Psiquiatria, estão bem descritas as doenças emocionais como gatilhos de doenças físicas. Notadamente para os especialistas não agnósticos e não ateus, é aceita a interferência de questões espirituais (energia espiritual) na saúde mental e orgânica do indivíduo. Na concepção organicista estão bem descritas as doenças psicossomáticas. É muito claramente e convincentemente descrito o quanto de nexo existe entre uma depressão ou ansiedade persistente e doenças físicas como hipertensão, gastrite, colites, infarto do miocárdio.

É de expressão geral, assim o anuem espíritas e doutrinários consagrados: existem muitas pessoas que sugerem nutrirem os demônios que elas trazem à sua volta. Fala-se aqui em vibrações e energias negativas, nocivas, mórbidas, que falam diuturnamente em morbidezes e fragilidade física e emocional. Dessa forma há como que uma retroalimentação dessas nocivas e tóxicas energias e demônios internos. Uma espécie de eterno retorno, ciclos doentios de ansiedade, tristeza, depressão, irritabilidade, irascibilidade. Essas pessoas se tornam contagiosas, fomentadoras dessas energias e más vibrações para outros de seu convívio e de seu entorno. O que fazer (alentador e prático)? Evitação, distanciamento e isolamento social desses indivíduos. Seria a solução ideal. Entretanto, quando próximos pelos laços genéticos, torna-se difícil essa opção. Difícil terapia! É bem aceito que as pessoas perturbadas, depressivas, transtornadas, neuróticas (nervosas) trazem um imenso potencial de contagiar ambientes e outras pessoas de seus convívios familiares, sociais, corporativos e de trabalho. Depressão e ansiedade são contaminantes, ao meio e pessoas.

Dentre esses indivíduos capazes de contaminar e intoxicar outras de seu convívio micro social estão os familiares, os parentes, irmãos, cônjuges, filhos, pais. Enfim, membros parentais por laços genéticos ou “afins” e contraparentes. Basta imaginar uma residência e coabitar com uma pessoa desse perfil. Há como que um efeito em cascata. As pessoas vítimas desse convívio têm duas saídas:  tolerar esse conviva ou comensal de forma passiva perpetuando a condição de vítima, ou expressar reações agressivas em resposta ao comportamento dessa pessoa. O certo e concreto, conforme afirmam os especialistas, o processo doentio de agressor e vítima é mantido, pelas circunstâncias afetivas genéticas.

Essa casa, essa residência compartilhada torna-se o que se chama em psicologia social de residência doente, porque se estabelece um ambiente hostil, onde os ânimos e alarmes psíquicos estão sempre em atividade. Um ambiente de tensões e conflitos permanentes, mesmo em momentos de ausência dessa pessoa desajustada e perturbada. Há como que, afirmam os espiritas e doutrinários, os demônios circulantes dessa pessoa. O termo demônio entenda-se como uma metáfora, desse ambiente pesado, opressivo, instabilizado. 

Outras características desses ambientes da pessoa perturbada valem ser destacadas. Raramente a pessoa causadora desse ambiente transtornado e de tensões admite ser portadora desses desvios de conduta. Afinal, o interno dela, a organização moral e psíquica dela é esta, e é compreensível ela entender-se normal frente às demais. A configuração intima e moral dessa pessoa, na concepção dela foi se conformando à condição de naturalização e normalidade. O próprio modelo educativo, tolerante, mimado, protetor dos pais para essa pessoa perturbada entra no bojo dessa origem de sua condição. Educação!

Do lado dos coabitantes e convivas, em geral parentes por qualquer vínculo, muitos se tornam tolerantes, lenientes e até coniventes e dão suporte a esse tipo de caráter e comportamento, explicado pelos vínculos de proteção, evitação do enfrentamento, medo de agressões psíquicas que seja. Tudo vai se confluindo para uma zona de tolerância e conformidade. É o pé se conformando ao sapato apertado, a bexiga ao  enchimento urinário, o intestino à pressão fecal. Esquivança social e moral de agravamento das diferenças.

Em diversos ramos de estudos sociais e de humanidades, religiosos e doutrinários, são tratadas as chamadas pechas ou manchas hereditárias. Em termos práticos e bem compreensíveis, são aqueles vícios, aqueles padrões erráticos e nada virtuosos, comportamento familiares e sociais nada construtivos que não passam impunes e sem reprimendas e corretivos por um Juiz Supremo, tipo Juízo Final (armagedon), ainda aqui na vida terrena. Com uma característica e agravante, se o próprio infrator, antissocial ou detrator não paga na medida certa e justa, pagam e sofrem também os seus descendentes, filhos, neto.

Na doutrina espírita (kardecista e não kardecista), no Bramanismo, no Hinduísmo e Budismo, é descrita as pagas e heranças antissociais que muitos descendentes (filhos, netos) podem absorver de seus ancestrais pelo estilo social (antissocial, no caso) que esses infratores e pecaminosos ancestrais levaram; e.g.; os drogaditos, os alcóolatras, os infiéis, os caloteiros, e omissos, os difamadores, os caluniadores, os arrogantes, os discriminadores, os exploradores da fragilidade e ignorância dos menos escolados e pobres, os escravizadores de qualquer pessoa sob o seu mando e trabalho.

Tome-se o caso social para compreensão empírica e modelar. Um genitor ou genitora que teve uma vida desregrada, um adicto de álcool e outras infusões espirituosas; que nada fez como um chefe de família responsável e educador. Em uma palavra, esse homem ou mulher levou a vida na esbórnia, uma vida com centralidade nos prazeres da boca, do bucho e do baco (alcoolismo). Em outra palavra, teve uma existência de desídia, de pachorra e omissão nos deveres de educar a prole. Filhos e filhas deixados e criados como pets. Ração e roupa, reprimenda e abandono afetivo e escolar! Que proteção de criador foi essa!

Esse indivíduo, é um exemplo concreto e mal-acabado, de ter se integrado em energias negativas, egrégoras destrutivas, nocivas, tóxicas, para todos aqueles filhos e filhas que dele mereciam uma educação e um modelo de vida a seguir. Seguiram-no para o mal, o antissocial, o central de prazeres digestórios! Esse indivíduo não passará incólume pela vida, dores físicas e psíquicas surgirão. Para si e na pior expectativa, para filhos e filhas que até dele tem o obrigado dever de cuidados. Os que assim o fazem, já estão remindo seu carma e dívida existencial. Os não afeitos, podem esperar que as penas e dores chegarão! Como foi advertido na concepção do grande Bardo Britânico, se cuide porque há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha sua vã e fútil filosofia de vida.

 

Joao Dhoria Vijle Lisboa

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