quarta-feira, 27 de março de 2024

A Captura de consciências

 Fica a impressão, mais que sugestão, fica a conclusão de que o ser humano não perdeu essa pulsão interior de escravizar, de cativar, de capturar a adesão e energias do outro. Não importam os meios empregados para essa empreitada. Para essa análise e convencimento são inúmeros os episódios comunicados e veiculados pelas autoridades trabalhistas, fiscais e Ministério Público do Trabalho. Quantas pessoas por ano, que são resgatadas desses trabalhos extenuantes análogos à escravidão! As estatísticas são estarrecedoras. São muitos os exemplos. Os trabalhadores braçais em fazendas, atividade rural, agricultura, extração de madeira, canaviais, são os mais encontradiços. Todos em condições degradantes, insalubres, desumanas, humilhantes!

Ao se referir nessa introdução sobre essa atividade escravagista, proibida, desumana e criminosa, ela tem uma finalidade maior. Está a se lembrar dessa condição extrema, humilhante, aviltante e indigna a que se pode submeter qualquer outra pessoa. Tal prática criminosa necessita ser fiscalizada e punida com os tridentes inclementes da lei contra esses algozes, carrascos e exploradores de pessoas humildes, sem instrução, analfabetas absolutas e funcionais. São trabalhadores tratados de forma pior que animais.

Todos esses ricos e agropecuaristas ou mesmo altos funcionários públicos, privados e empresários urbanos, são malfeitores, detratores da humanidade pelo que fazem. E a Justiça Trabalhista está aí para coibir toda essa prática caloteira, estelionatária, inadimplente, sonegadora de impostos, tributos e dos direitos fundamentais de quem trabalha e expende suas energias e saúde para enriquecer os seus contratantes, os capatazes, os fazendeiros, os pecuaristas, os altos funcionários públicos e gente rica das cidades. Quantos são os empregados domésticos tratados mal e mal pagos!  MILHARES.

O relato social da idosa Maria de Moura, do Rio de Janeiro, ilustra bem a situação extrema de uma pessoa explorada, sugada, surrupiada, lesada e humilhada; condição dita análoga a escravidão. Pode-se dizer até tratar-se de um eufemismo. Porque foram 72 anos de trabalho cativo e escravo. O caso se deu no Rio de Janeiro e basta buscar informações na Internet. Muito pertinente, bem definida e contundente foi a explicação de um notável magistrado do trabalho que atuou em sua libertação e condenação dos escravagistas. Essa família que explorava essa idosa, agora senil, frágil, desgastada e doente pela idade e o trabalho. Disse esse magistrado: “essas pessoas que fazem esse tipo de exploração vão capturando a consciência dessas pessoas escravizadas. Elas passam a viver nesse contexto de humilhações como se tal desprezo ou degradação fosse normal”.

Captura de Consciência. Deteremos nessa análise e alarguemos esse conceito. É bem sabido e estudado que o animal humano é um dos muitos animais dotado de gregarismo e socialismo (sentido moral e vital). Significa que a vida a só, a solitude e solidão podem ser boas em certos momentos. É impossível uma pessoa viver sem compartilhar com outras os seus projetos, os seus desejos e necessidades. Nascemos carentes do auxílio e ajuda do outro, vivemos dessa maneira e morreremos nessa condição, na dependência um de outro.  Robinson Crusoé viveu só por algum tempo isolado em uma ilha porque ele tinha já introjetado na memória e consciência o repartir, o compartilhar, a socialização com outras pessoas. Senão ele teria sucumbido em algum tempo.

A vida é uma troca de benefícios, de atos, atitudes, bens abstratos e materiais. Eu lhe concedo esse benefício pessoal (meu esforço, meu labor, meu trabalho, meus ativos pecuniários) neste momento. Entretanto com um trato, que haja reciprocidade, mutualismo. Aquela nossa obrigação de cuidado a quem quer que seja, que seja executada de forma isonômica, igualitária, nas mesmas energias e mesmos estipêndios. Ok? Ok!  Nosso avô, nosso pai, nossa mãe. Está doente, carente, inválido! Vamos dividir nosso “obrigado dever” de dessa pessoa cuidar, dar banho, comida, higiene, saúde. Ok? Ok .

Quoth the raven, nevermore! Entretanto, todavia, entrementes, fica esse alerta aos ingênuos e ingênuas, aos generosos e bonzinhos da corte. Atenção! Muita atenção! Existem os finórios, os espertalhões e espertalhonas. Os classificados pelas Psicologia e Neurociências, como folgados e expansivos. São os sequestradores ou capturadores da consciência alheia. E essas pessoas esbulhadas nas suas energias, nas suas economias orgânicas e pecuniárias vão se tornando numa espécie de reféns. Paulatinamente capturadas em sua benevolência, em sua ingenuidade, em sua consciência. Chega ao estágio de normalização e naturalidade. É assim mesmo! E se estabelece as relações naturalizadas dos escravizadores e escravizados, material ou moralmente falando.

Nenhum comentário:

Necedade especial

  Sejam resultados e produtos de genomas ancestrais ou educacionais, não é incomum deparar-se com um grupo de pessoas (homens e mulheres), m...