a ÁGUIA e a galinha
Impressiona-nos e muito o quanto muitos indivíduos, razões de todo ainda mal compreendidas, o quanto eles apresentam e dependem de outras pessoas para a sua sobrevivência social, para sua estadia em sociedade, na vida. Muitas vezes exigências comuns. Chama demais nossa atenção tendo em consideração, e este é o ponto chave aqui em comentário, tendo esses indivíduos condições econômicas, profissionais e financeiras de bancar as suas necessidades primárias e até as secundárias, de conforto, de boa alimentação, moradia e assistência médica.
Estudos e ensaios sociais listam como fatores alguma fragilidade cognitiva e organizacional mental e cerebral. São dados de Sociologia Familiar e de Neurolinguística. A Ciência é neutra e intransigente! Ela, através de ensaios, estudos bem conduzidos, estatui com dados estatísticos e numerosas amostras o quanto há desses tipos humanos na sociedade.
Continua-se esta resenha com versos do magnífico, roçagante e expansivo poeta e escritor Bertold Brecht “ Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.
É inegável que cada pessoa (homem ou mulher) é o espelhamento de seus ancestrais, especialmente dos pais como cuidadores e formadores do filho, do caráter e bojo moral e profissional do filho tutelado (a). O filho ou filha é o espectro social, ético, cultural, profissional, produtivo, laborativo do pai e mãe. Ser independente ou carente de muitos expedientes de terceiros; é uma questão posta para o sujeito na sua existência tacanha, frágil, humilde e folgada ou com plena autonomia e autossuficiência. Eis a lei do tal pai, tal filho ou filha. Geometria analítica pura! Vem então o ditado popular: “Tal filho é o pai encarnado e esculpido”. Muito prevalente esta regra de vida.
Muitos filhos e filhas são o que foram os pais como genitor e geratriz, como criadores, como maus ou bons educadores desse indivíduo filho. Não há aqui invencionice, palpite, sugestão. São princípios milenares, seculares, leis da natureza e suas Ciências. E elas não se fazem por saltos, cumprem-se.
Águias criam novas águias porque elas trazem de forma intrínseca, genética, por instintos naturais essa vocação do cuidado, do treinamento, da repetição incansável, da ousadia e intrepidez impostas aos filhotes. Criam-nos quando os tem de criar, de engordar, de empenar, de criarem músculos fortes, rijos e voadores. E vem os exercícios, o ensinamento, o bater de asas, a perda do medo, e voam independentes como os pais e se tornam novas águias, com voos deslumbrantes, admiráveis e excelentes caçadoras.
Galinhas põem os ovos, nascem pintainhos, tornam frangos, frangalhos, frangotes e abatidos viram proteínas para os humanos. Não passam de frangos e galinhas! Que triste! E então? Você jovem ou mulher, forte, músculos torneados, pernas e braços grossos. Afinal! Vão se tornar águias ou galinhas. A escolha é de cada pessoa!
Olha esta estória para finalizar: Em Estórias de Bichos, Rubem Alves fala de uma águia que, criada num galinheiro, foi crescendo ali, convencida de que era galinha. Bem diferente das outras – grandalhona, olhos frontais, bico adunco e grande demais, asas enormes –, tentava a todo custo imitar o que as galinhas faziam. Até que um dia um alpinista, passando por ali, surpreso perguntou-lhe: - Que é que você, águia, está fazendo no meio das galinhas?... - Não me goza. Águia é a vovozinha. Sou galinha de corpo e alma, embora não pareça. Percebendo que argumentar seria pura perda de tempo, colocou-a num saco e seguiu seu caminho até as montanhas. Lá bem no alto, sacudiu o saco e deixou-a cair, Não tendo em que se agarrar, debateu-se apavorada, até que a águia “há muito tempo adormecida e esquecida” dentro dela, “acordou se apossou das asas e de repente voou...”
Essa estória, embora muito interessante, não passa de lenda. Uma águia jamais se sujeita a levar a vida medíocre de uma galinha, e muito menos se deixar prender num galinheiro. Tudo que uma águia tem em comum com uma galinha são asas, bicos, pés, garras, e penas. Pertencem ambas à espécie das aves. E as semelhanças param por aí. As diferenças, sim, é que nos interessam, pois, no que diz respeito à natureza de ambas, nada têm em comum. A galinha, temerosa, foge ao primeiro sinal de perigo. A águia, intrépida, enfrenta o perigo; não se deixa vencer. “...Deus não tem nos dado espírito de covardia, mas de poder...” (2Tm 1:7). Deus quer nos libertar do espírito temeroso, próprio da galinha, e nos dar a intrepidez e a coragem da águia. A galinha se sujeita a ficar presa; se acomoda ao cativeiro. Com um simples barbante se prende uma galinha ao pé de uma mesa. A águia, não. Ela não aceita o cativeiro. Ela tenta romper o laço; se não o consegue, tenta cortar o pé da mesa; e se ainda assim não se liberta, debate-se até cortar os pés. Voa sem pés, mas se nega a perder a liberdade. Ninguém jamais viu uma águia numa gaiola, nem mesmo num zoológico.